Paulo estava sentado na mesa da cozinha da casa de sua mãe no Brasil, com a cabeça enterrada entre as mãos. O pequeno rádio de pilha ao seu lado continuava emitindo sons estáticos intercalados com notícias desconexas. As mensagens dos repórteres eram um caos, cada um tentando descrever o que parecia ser o fim do mundo.— ...sismos de grande magnitude atingiram o Japão, devastando várias cidades costeiras. Há relatos de tsunamis e... — a voz do locutor foi interrompida por mais estática.
Paulo ergueu a cabeça, os olhos vermelhos de cansaço e desespero. Ele sentia como se uma tonelada de concreto estivesse esmagando seu peito. Ele tentava, a todo custo, se concentrar em uma coisa: entrar em contato com Estefani.
O telefone celular na sua frente estava sem serviço, mas ele não parava de checar, na esperança de que alguma barra de sinal aparecesse, de que alguma mensagem dela chegasse. Fazia dias que não conseguia falar com Estefani. Desde o último contato, quando a alertou sobre o desastre iminente, não houvera mais notícias dela. Cada minuto sem informações era como uma agulha fincada em seu coração.
Erik e João Carlos estavam sentados no sofá, assistindo, em completo silêncio, a televisão sem som, que mostrava imagens assustadoras do mundo em colapso. Deslizamentos de terra, incêndios florestais, enchentes, cidades inteiras sendo engolidas pelo caos. Era um cenário apocalíptico, e eles sabiam que não havia muito mais tempo antes que o pior acontecesse.
— Precisamos tomar uma decisão, Paulo — disse Erik, quebrando o silêncio. — Se não sairmos daqui logo, não vamos conseguir chegar ao Polo Sul. A coisa está ficando cada vez pior.
Paulo olhou para Erik, seus olhos escurecidos pela incerteza e pela dor. Ele sabia que Erik tinha razão. Sabia que o tempo estava se esgotando. Mas ele não podia simplesmente partir sem saber o que tinha acontecido com Estefani.
— Não posso ir embora sem ela, Erik. Eu não posso — a voz de Paulo estava rouca, quase inaudível.
João Carlos, com o rosto sério, aproximou-se e colocou a mão no ombro de Paulo. — Ela sabe o que fazer, Paulo. Você a alertou. Se alguém tem uma chance de sobreviver, é ela. Estefani é forte, você sabe disso.
Paulo assentiu lentamente, tentando encontrar consolo nas palavras de João Carlos. Ele sabia que seus amigos estavam certos. Ele sabia que tinha que pensar em sobreviver, que tinha que honrar o plano que ele e Estefani haviam feito. Mas cada fibra do seu ser estava clamando para que ele ficasse, para que ele continuasse tentando, de alguma forma, alcançar a mulher que amava.
— Vamos dar mais um dia — disse Paulo, finalmente, sua voz firme, embora seus olhos estivessem marejados. — Mais um dia, e então partimos.
Erik e João Carlos trocaram um olhar preocupado, mas concordaram. Eles sabiam que Paulo precisava desse tempo. Sabiam que ele estava lutando com todas as forças contra o desespero. E assim, decidiram esperar.
Naquela noite, Paulo mal conseguiu dormir. Ficou sentado no chão da sala, olhando para o telefone, esperando, rezando por um milagre. E então, como se suas preces fossem ouvidas, o telefone vibrou.
Paulo pegou o aparelho com as mãos trêmulas e viu o nome de Estefani na tela. Seu coração quase parou de bater. Ele atendeu rapidamente.
— Estefani! — exclamou, sua voz cheia de emoção.
Do outro lado da linha, a voz dela era fraca, mas determinada. — Paulo... estou bem. Estou seguindo o plano. Vou para o Polo Sul.
O alívio que Paulo sentiu foi indescritível. Lágrimas escorriam por seu rosto enquanto ele ouvia a voz dela. — Eu também vou, Estefani. Nós vamos nos encontrar lá. Eu prometo.
— Prometa que vai se cuidar — disse Estefani, sua voz tremendo um pouco. — Eu não sei o que vai acontecer, mas eu preciso que você sobreviva, por nós dois.
Paulo assentiu, mesmo sabendo que ela não podia vê-lo. — Eu prometo, meu amor. Eu prometo.
A chamada caiu logo em seguida, deixando Paulo com uma sensação de vazio e esperança ao mesmo tempo. Ele sabia que agora, mais do que nunca, tinha que cumprir sua promessa. Tinha que sobreviver. Por ele, por Estefani, por todos aqueles que haviam perdido suas vidas nesse caos.
Na manhã seguinte, antes do sol nascer, Paulo, Erik e João Carlos estavam prontos para partir. Com mochilas nas costas e o coração cheio de incertezas, eles se despediram da casa que havia sido o refúgio deles nos últimos dias.
— Vamos encontrar o Polo Sul — disse Paulo, olhando para seus amigos. — Vamos encontrar Estefani.
E assim, eles começaram sua jornada, cada passo levando-os mais perto de um destino incerto, mas também de uma esperança que não podia ser destruída.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Terra Partida
Science FictionEm um mundo à beira do colapso, Paulo, um apaixonado por geofísica, começa a perceber sinais alarmantes de um desastre iminente. Trabalhando no Japão, ele se apaixona por Estefani, sua colega de trabalho. Antes de viajar para o Brasil, Paulo alerta...