Após dias de viagem cansativa, Paulo e Erik mal puderam acreditar quando foram abordados por homens armados em uniformes do governo. Sem qualquer explicação, foram levados para uma base isolada, o que parecia ser um antigo abrigo militar. Os corredores eram estreitos, as luzes piscavam e o ar tinha um cheiro pesado de mofo e metal.Assim que chegaram, foram separados e colocados em salas de interrogatório, onde agentes questionaram cada detalhe de suas jornadas. Paulo tentou explicar o que sabiam sobre o desastre iminente, mas os agentes pareciam mais interessados em intimidá-los do que em ouvir.
Horas se passaram, e Paulo sentia sua paciência se esgotar. A forma como foram tratados — como prisioneiros, sem nenhuma consideração — o fazia se questionar o que realmente estava acontecendo ali. A cada resposta, os agentes se tornavam mais agressivos, acusando-os de conspiração, espionagem, e outros crimes que pareciam sem sentido.
Após o que pareceu uma eternidade, Paulo foi levado de volta para uma sala onde encontrou Erik. O amigo estava visivelmente irritado, mas Paulo sabia que ele estava pensando em algo, seu olhar denunciava a fervura de ideias.
— Isso é um absurdo — Paulo murmurou, tentando manter a calma. — Eles estão nos tratando como criminosos, e tudo o que fizemos foi tentar ajudar!
Erik assentiu, ainda sem dizer uma palavra. Ele parecia estar calculando cada movimento.
— Eu não vou ficar aqui mais um segundo — Paulo declarou de repente. — Temos que continuar nossa viagem para o Polo Sul. Este lugar só vai nos atrasar!
Quando tentou se levantar para sair, dois agentes se aproximaram rapidamente, bloqueando a porta.
— Vocês não podem nos prender aqui! — Paulo protestou, elevando a voz. — Nós não somos criminosos!
A sala ficou em silêncio por um momento tenso, até que Erik, com uma calma surpreendente, deu um passo à frente.
— Sabem, eu sou um engenheiro brilhante — começou ele, sua voz cortante como uma lâmina. — Antes de virem nos pegar, construí um transmissor. Em poucos segundos, eu poderia enviar uma mensagem para toda a mídia, contando como vocês nos ignoraram quando tentamos avisar sobre o desastre, e agora estão nos mantendo prisioneiros.
Os agentes se entreolharam, hesitando. O blefe de Erik parecia estar surtindo efeito.
— E sabem o que é mais interessante? — Erik continuou, com um sorriso frio. — O povo ama uma boa história de heróis sendo tratados como vilões. Imaginem o alvoroço que isso causaria...
Por alguns instantes, ninguém se mexeu. Então, um dos agentes, mais velho e claramente de patente superior, deu um passo à frente e ergueu a mão, sinalizando para os outros abaixarem as armas.
— O que você quer? — perguntou ele, com a voz baixa e controlada.
— Simples — respondeu Erik. — Deixem Paulo seguir sua jornada. Ele é essencial para a missão que temos pela frente. Eu ficarei e ajudarei nas pesquisas, sou o mais qualificado para isso. E acreditem, se algo acontecer comigo ou com ele, essa história ainda vai sair. Tenho isso tudo bem planejado.
O agente ponderou por um momento, então assentiu, vendo que não tinha outra escolha.
— Tudo bem. Paulo pode ir, mas você fica.
Paulo olhou para Erik, surpreso.
— Erik, você não precisa fazer isso...
Erik sorriu e deu um tapinha no ombro de Paulo.
— Vá, Paulo. Alguém precisa chegar ao Polo Sul e garantir que essa mensagem seja passada. Eu estarei bem aqui.
Com um último olhar de gratidão e preocupação, Paulo foi liberado e escoltado para fora da base. Ele sabia que Erik havia sacrificado sua liberdade para garantir que ele pudesse continuar. O peso da responsabilidade crescia, mas Paulo estava determinado a honrar o sacrifício de seu amigo e continuar até o fim.
Erik observou enquanto Paulo se afastava, com um leve sorriso nos lábios. Ele sabia que ainda havia muito a ser feito, e agora, estava no centro de uma oportunidade única para fazer a diferença.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Terra Partida
Science FictionEm um mundo à beira do colapso, Paulo, um apaixonado por geofísica, começa a perceber sinais alarmantes de um desastre iminente. Trabalhando no Japão, ele se apaixona por Estefani, sua colega de trabalho. Antes de viajar para o Brasil, Paulo alerta...