Kyoto entrou no quarto que Catupi dividia com seu primo. No lado dela, havia um pôster de seu time de futebol favorito e uma cômoda — onde guardava suas roupas, já que eram poucas.
Acima da cama, uma prateleira exibia uma série de itens pessoais: um troféu conquistado em um campeonato de futebol, uma medalha, uma coleção de cartas Pokémon, uma adaga, um braço robótico e um robô-aranha artesanal construído com palitos de sorvete.
Sobre a cômoda, um certificado de participação em um acampamento militar estava emoldurado, destacando a conquista com um toque de formalidade.
— Catu... você está bem? — perguntou o vizinho gentilmente, com uma leve preocupação na voz, marcada por um sotaque britânico. Sim, um japonês com sotaque britânico; essa era uma das curiosidades que sua família birracial lhe proporcionara. O sotaque, herança do lado paterno, deveria ter desaparecido com a mudança para os EUA no ano passado, especialmente porque ele nunca morou na Inglaterra, apenas a visitou algumas vezes. Mas, graças ao seu programa de culinária britânico favorito, aos filmes de Harry Potter e à prima Darcy — amiga de longa data —, o sotaque persistiu. Além disso, apesar de não gostar de seu pai, foi com ele que aprendeu inglês desde pequeno.
— Pode crê — respondeu com um sorriso, dessa vez a versão carismática dele.
— Por que está arrumando a mochila?
— Eu vou pro Brasil! Vou ver meu pai.
Ele ficou boquiaberto.
— Seu pai...
— Ele não se matou, Kyo — declarou com veemência, dando uma pausa nas roupas que colocava na mochila. — Você não conhece ele, é mais fácil alguém ter forjado a morte dele! Eu juro, tem algo de errado nessa história e eu vou descobrir o que é. E de qualquer forma tenho que ver meus irmãos.
A ideia incrustou-se com teimosia na mente da garota, então Kyoto não argumentou, apenas indagou:
— Irá com quem?
— Vou sozinha.
O rapaz, depois de um tempo em silêncio, intercalando entre encarar Catupi, que voltava a arrumar a mochila, e a janela, de onde dava para ver sua casa, disse:
— Eu posso ir contigo?
Ela parou outra vez o que estava fazendo.
— Não vou pra passear, Kyo — respondeu, com calma. —, eu vou pra investigar essa tal morte.
— Sei disso.
Ela olhou para a mochila com um ar pensativo e depois para ele.
— Tá, arruma sua mala.
Ele esboçou um sorriso vibrante. O garoto não havia processado a possibilidade de Diego estar vivo, mas queria estar com sua amiga nesse momento delicado e conhecer seu país, algo que ele vinha querendo a um tempo.
Catupi estava decidida a visitar o Brasil, disposta a gastar todo o dinheiro que recebia em seu emprego na lava-jato, onde trabalhava para ajudar nas compras da casa da tia e para juntar dinheiro para comprar uma tão sonhada moto. Apesar do dinheiro não ser suficiente para ir e voltar, estava certa de que daria seu jeitinho brasileiro, assim como sempre dava para as situações mais complicadas.
“Vai dar certo, nem que eu tenha que vender rifa pro capeta” Ela pensou.
Kyoto olhou para a cômoda de Catupi, onde ao lado do certificado havia acima algumas peças de computador e celular, um teclado e um rádio antigo.
— Tecnologia retrô? — Ele chegou perto e pegou o rádio. — Comprou em um antiquário?
— Achei no lixão.
![](https://img.wattpad.com/cover/375295418-288-k791103.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Intrépida: a relíquia do inventor
Phiêu lưuHá dois anos, um ex-arqueólogo desvendou um enigma intrigante em um museu, deixado por um inventor famoso, sem suspeitar que isso desencadearia uma série de conflitos que mudariam vidas para sempre. Sua filha, Catupi Reis, uma garota intrépida de 1...