𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟿 ‒ 𝚄𝚖𝚊 𝚟𝚒𝚜𝚒𝚝𝚊

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Kyoto arregalou os olhos, espantado.

— Eu tive que fazer isso! — rebateu a irmã.

— Vai se fuder! — Calebe fechou a porta com força.

— Meu português está ruim ou ele disse que você matou seu irmão? — indagou Kyoto.

— A segunda opção.

— Ah — disse o garoto com o rosto paralisado, exceto pelos olhos incrédulos que piscaram várias vezes.

A porta se abriu outra vez, dessa vez com lentidão, rangendo em protesto. Calebe surgiu na abertura, lançando um olhar ameaçador para Kyoto, avaliando-o de cima a baixo com uma expressão que misturava desdém e intimidação. 

— E quem é você?

Kyoto se encolheu. O irmão de Catupi se aproximou de seu rosto e então, ele se desmanchou em risadas. Catupi fez o mesmo.

— Viu a cara dele? — Calebe apertou a mão do garoto com firmeza, cumprimentando-o. — Aê na moral tua cara foi show, meu nobre.

Kyoto não entendeu algumas palavras que ele disse, mas entendeu que aquilo tudo foi uma brincadeira, que foi tudo encenação.

Calebe cumprimentou sua irmã, as mãos se batendo de modo amigável. Ele ia abraçá-la, mas fez uma careta.

— Hmmm, posso saber por que vocês estão tão cheirosos?

Kyoto chegou perto de Catupi e sussurrou:

— É ironia.

— É, eu imaginei.

Os dois se deram conta que estavam mesmos fedidos, passaram tanto tempo no bueiro que não lembraram desse detalhe.

Ainda parado na porta, Kyoto olhou para a cozinha por cima do ombro do Calebe.

— Tem alguma coisa queimando?

— Não.

— Estou vendo fumaça.

— Pode crê — falou Calebe com um sorriso maroto.

A irmã entrou na pequena casa de 4 cômodos, e Kyoto veio ao seu encalço. Ela deu uma fungada no ar e fez uma careta ao reconhecer o cheiro pungente de maconha que vinha de um cigarro sobre a pia.

— Tá vendo, Kyo, eu disse que ele também gosta de plantas.

Mas aquele aroma não era páreo para o fedor combinado dela e de Kyoto. 

— Ô Catinga da peste! — exclamou Calebe.

— Também tô feliz em te ver, irmão.

Após as visitas tomarem um banho necessário, Calebe os conduziu até o quarto onde iam dormir. A chuva persistia e o vento continuava a soprar com força. Kyoto, vestido com seu bom e velho pijama da Hello Kitty, estava ocupado finalizando os cachos da garota com creme de pentear, enrolando mechas do cabelo dela em seus dedos para defini-los.

Catupi, vestida com uma camiseta rosa que Kyoto havia lhe dado de presente — uma peça que ela sempre usava para dormir — contou tudo o que havia presenciado hoje para o irmão, que ouviu tudo com atenção enquanto passava a mão pelo seu bigode. Ao acabar, enquanto o aroma doce de creme de melancia inundava o ar, ela perguntou a ele:

— Há quanto tempo você veio morar aqui sozinho? 

— Vai fazer 2 semanas.

— Como foi... hoje de manhã...?

— Eu fui ver o papai né, só vi ele uma vez depois da mudança, ele dizia sempre que tava ocupado... Tá, daí quando eu entrei, eu vi aquela cena, não reparei algo de errado como você fez, eu só saí logo dali. Aí liguei pra tia Biana pra avisar.

Intrépida: a relíquia do inventorOnde histórias criam vida. Descubra agora