𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟷𝟶 ‒ 𝚂𝚒𝚋𝚎𝚕𝚎 𝙻𝚎𝚌𝚘𝚖𝚝𝚎

24 10 16
                                    

À sexta hora da manhã ainda dava para ouvir o canto do galo ecoar pelo interior. Foi nesse horário que Catupi, Kyoto e Calebe acordaram para irem até o "local do crime".

— Bom dia! — Calebe entrou no quarto para pegar seu carregador e logo saiu.

— Calebe... — chamou Kyoto, baixinho.

— Não! Não fala pra ele — disse Catupi, referindo-se ao desenho de pênis que fez no rosto do irmão (perto da boca) enquanto ele dormia.

— Catu!

— Por favor! — pediu com um sorriso juvenil no rosto.

— Você parece uma criança atentada, não tem graça!

— E por que você tá querendo rir, hein?

Eles trocaram sorrisos discretos e contidos, compartilhando uma risada abafada.

— Cês tão rindo do quê? — Calebe entrou de repente no quarto.

Catupi e Kyoto responderam ao mesmo tempo:

— Nada! 

Os 3 comeram pão carioca com café e depois trocaram de roupa. Mas antes de sair, Catupi abriu a gaveta do irmão, movida por pura curiosidade (já que no dia anterior ele pareceu nervoso quando ela o viu mexendo lá). Arqueou as sobrancelhas ao ver o que tinha.

— Catu, vamos! — chamou Kyoto.

E ela foi.

Na casa ao lado, havia uma garota no alpendre tocando ukulele, próxima à pequena fazenda de seus pais. Era Bruna Medeiros.

Calebe resmungou raivoso ao vê-la.

— Vai lá, campeão — Catupi deu tapinhas nas costas dele. — Lembre-se, sem cartões vermelhos! Homicídio não é uma opção. — Então saiu de cena.

Calebe se dirigiu até ela. Bruna era alta, vestindo uma calça jeans boca de sino de cintura baixa, com o cabelo loiro escuro tingido de um roxo claríssimo, quase prata, ela exalava um ar juvenil e descolado. Parecia ter saído de uma banda dos anos 2000, e estava completamente diferente da última vez que Calebe a viu. O rapaz quase havia esquecido o porquê a odiava tanto, mas a lembrança voltou logo.
Suspirou, tentando não exalar ódio. Foi difícil, mas conseguiu falar.

— Oi.

Ela franziu a testa, demonstrando com sua expressão estranhamento, mas também uma mescla notável de raiva e nojo. Também o olhou de cima a baixo, mas de repente ela deu uma curta risada nasal ao encarar sua bochecha.

— Eu disse "oi", não ouviu? — insistiu Calebe, ignorando a risada.

— Oi — respondeu em um tom como o de quem é obrigado a falar.

Calebe não resistiu.

— Quem que usa calça jeans na roça em plena manhã?

— Quem acorda às seis da manhã pra ser um pé no saco?

Bruna se virou e foi em direção à porta de sua casa.

— Espera! — clamou o rapaz, estendendo o panfleto.

Bruna dirigiu-se a ele e pegou o papel de sua mão.

— Só falta um baixista... Pensa nisso — concluiu ele.

A expressão brava de Bruna cedeu lugar a uma face risonha outra vez ao encarar o desenho no rosto dele.

— Onde tá o palhaço? — indagou Calebe, de modo frio.

— Tá na minha frente. Se esse é seu lado artístico, você precisa de mais prática.

— Do que tá falando?

Intrépida: a relíquia do inventorOnde histórias criam vida. Descubra agora