𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟷𝟿 ‒ 𝙰 𝚋𝚊𝚜𝚎 𝚖𝚒𝚕𝚒𝚝𝚊𝚛

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30 de junho, Fortaleza-Ceará.

A claridade do dia que acabara de nascer acordou Catupi, que dormia sentada com a cabeça de um Kyoto adormecido em seu colo — pois se oferecera como travesseiro. Acordou sonolenta e meio dispersa da realidade, como se ainda sonhasse.

Mas logo ela aparentou voltar à realidade e pegou o telefone com o intuito de ver seu reflexo. Ela viu seu rosto inteiro coberto de rabiscos feitos à caneta, como se sua face fosse um papel pintado por uma criança de 3 anos de idade com um potencial nada artístico.

— Muito engraçado, Calebe.

— Que celular é esse? — perguntou Bruna com um sorriso, se referindo ao telefone que Catupi segurava, um fabricado em 2012 que ainda tinha teclado de botão.

— É meu.

Ela riu.

— Por que você usa esse tijolo do tempo do fofão?

Catupi deu um sorriso descontraído, sinalizando que levou na brincadeira, mas mesmo assim disse:

— Porque diferente dos celulares de hoje em dia, ele não causa problemas na minha cognição, atenção, memória e nem deixa minha mente viciada em dopamina.

— E você também é pobre demais pra gastar com um celular bonzão — acrescentou o irmão.

— É, esse é o motivo principal — concordou pelo bem do humor, embora se fizesse um esforço e vendesse algumas de suas roupas, poderia até comprar um. Mas essa de longe não era sua prioridade.

Catupi tirou os rabiscos da cara e viu Kyoto acordar, e sem motivo aparente, depois que viu ele, ficou calada encarando um canto do carro como se estivesse lembrando de algo, que logo recordou ter sido um sonho.

Após horas de viagem chegaram em Fortaleza, a capital vibrante do Ceará que combinava a agitação da cidade com a beleza pura e natural de suas conhecidas praias, dunas e lagoas. Catupi contemplou pela janela a cidade toda adornada para a iminente Copa do Mundo, que aconteceria dali a 4 meses. Quase todas as ruas ou estavam enfeitadas com fitas nas cores verde e amarelo ou com bandeiras de São João, enquanto a bandeira estrelada do Cruzeiro se destacava pintada sobre alguns asfaltos. 

— Aê — começou Bruna. — Meu pai respondeu, ele disse que ninguém da polícia soube de caso de morte recente por aqui.

Catupi tensionou as sobrancelhas.

— Que estranho.

— Deve ser porque eles viram que o corpo é falso né — considerou Calebe.

— Mas então eles teriam divulgar isso para mídia, não? — opinou Kyoto, cujo português ainda surpreendia.  — Você viu se publicaram algo?

Bruna fez uma breve pesquisa e depois disse:

— Não publicaram nada. — Um barulho de notificação ecoou pelo carro. — Meu pai disse que nenhum policial foi até a casa do Diego ontem.

(Só havia uma unidade policial no pequeno distrito São Miguel, que era onde o pai da Bruna trabalhava).

Todos se olharam com tensão até o clima ser quebrado por Calebe.

— Chegamos! — Ele parou o carro.

— Vão lá, espero vocês aqui — falou Bruna.

O céu já havia clareado, era 5 e meia quando chegaram à base militar do irmão 4 anos mais velho de Catupi.

Entraram. O ar fresco da manhã misturava-se com o aroma característico da vegetação circundante, enquanto o trio avançava pelo terreno bem cuidado da base. Os sons distantes de exercícios matinais ecoavam pela área, adicionando um hálito de guerra, bravura e triunfo que fez os olhos de Catupi brilharem enquanto abria um sorriso largo.

Intrépida: a relíquia do inventorOnde histórias criam vida. Descubra agora