Kyoto foi empurrado para dentro da oca onde viu Catupi. Sentiu o maior ímpeto de alegria e infelicidade, ela estava viva, mas seu corpo estava tatuado por sangue e cortes.
Ao comando de Safra, Dakota e Raoni amarraram o garoto em outro pedaço de madeira que sustentava a oca. Catupi e Kyoto se olharam como se estivessem se comunicassem por telepatia. Safra, ao lado do garoto, voltou seu olhar para a menina e disse com ferocidade:
- Vamos lá, Reis! Onde... está... o mapa.
Foi em um tom baixo e inseguro que respondeu:
- Eu não sei.
O homem deu um soco no rapaz, fazendo o nariz dele sangrar. Catupi virou o rosto; ela tinha esperança de que o homem acreditasse no que dissera e começou a pensar em uma solução antes que o homem começasse a usar a faca e depois a lança, como fez com ela.
Mas Safra não pegou a faca; sua paciência exterminou-se. Ele se afastou do garoto, foi em direção a uma mesa e, dentro de uma mochila, tirou freneticamente uma pistola carregada.
Quando Catupi olhou, a arma estava apontada para o garoto. Ela tomou fôlego para gritar uma intervenção, mas antes que dissesse algo...
O estampido ecoou na oca em uníssono com um curto grito que escapou dos lábios de Kyoto.
Ele abriu os olhos, não havia sangue nem dor, suspirou aliviado ao não sentir o impacto do projétil. Seu reflexo instintivo o fizera levantar o pé a tempo, desviando da bala por um triz.
Se não tivesse agido com tamanha precisão, o estrago seria irreversível.Safra se aproximou com uma lentidão assombrosa do rapaz e colocou a arma rente ao crânio dele, bem na têmpora esquerda, onde bastaria apenas um clique para matá-lo.
- Agora aqui não tem como desviar.
Kyoto fechou os olhos com força, seu coração martelava tanto que achou que ia morrer antes mesmo daquela arma explodir sua cabeça e tornar aquela cena ainda mais sangrenta, tingindo as paredes de palha com o vermelho de suas entranhas.
Safra pôs a mão outra vez no gatilho...
- EU FALO! - gritou a garota.
Ele baixou a arma. E Catupi acrescentou:
- Só... solta ele, só peço isso. Ele não tem nada a ver com isso.
- Hm, então vamo lá! Você primeiro.
Catupi deixou o olhar cair e se sentou no chão.
- Tá na bota. O mapa tá na minha bota.
Safra tirou a bota do pé dela e realmente estava lá. Logo se levantou e foi em direção à porta.
- Pera aí, acho que tô me esquecendo de algo, seria soltar ele? Não, acho que não - disse o homem em um tom sarcástico, seguido de uma risada de gelar a espinha antes de sair de cena.
- É, eu esperava por isso - disse Catupi bem devagar, porque estava nitidamente tonta.
Kyoto levantou o pé direito, tirou o canivete que Catupi lhe dera de sua bota e usou para se desamarrar.
- Brilhante - sussurrou Catupi ainda parecendo bêbada, de tão sequelada.
Ele foi correndo até a garota profundamente mutilada e a desamarrou. Ela ficou de pé, mal conseguindo fazer isso. Kyoto se aproximou para ajudar.
- Eu consigo... eu só vou...
- Você não vai fazer nada! Vem cá. - Ele a deitou no chão com cuidado. - Tá doendo muito?
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Intrépida: a relíquia do inventor
PertualanganHá dois anos, um ex-arqueólogo desvendou um enigma intrigante em um museu, deixado por um inventor famoso, sem suspeitar que isso desencadearia uma série de conflitos que mudariam vidas para sempre. Sua filha, Catupi Reis, uma garota intrépida de 1...