𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟷𝟷 ‒ "𝙰 𝚕𝚎𝚒𝚝𝚞𝚛𝚊 é 𝚊 𝚌𝚑𝚊𝚟𝚎"

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Catupi, junto de Kyoto, estava mais uma vez no local do falso crime a fim de procurar respostas para perguntas não respondidas.

Após longos minutos sem achar nada de relevante, a garota subiu as escadas e foi buscar um pouco de solitude.

No quarto, onde só havia o corpo falso e o persistente cheiro de mofo como companhia, andou para lá e para cá com a mão no colar de lança e soltou um suspiro pesado. Dirigiu-se à parede com a intenção de socá-la, parou o punho no ar e apenas bateu com a parte lateral de sua mão fechada, como se todo o estresse de seu corpo fosse sumir com a colisão. O dorso da sua mão, por vez, bateu no quadro pendurado na parede, fazendo-o cair.

Era o quadro dourado com a pintura de um sol e uma lua entrelaçados, de cor marrom, pintado por sua mãe.

Sentou-se na cama ao lado. Agora olhava para o chão enquanto cutucava uma ferida em seu braço, prestes a fazê-la sangrar outra vez, como se tentasse obter algum consolo a partir disso. 

Estava envolta no manto da incerteza, fraca demais para rasgá-lo. Cega demais para enxergar na névoa fantasmagórica da confusão, nada mais parecia certeiro, nada mais era branco no preto, tudo era cinza. As linhas que definiam planos e ideias se tornaram tortas, parecendo que lhe conduziriam a lugar nenhum.

Sentiu o seu peito se inflar de dúvidas e medos até sua cabeça começar a doer.

Kyoto entrou e se sentou ao seu lado, imerso em um silencio certeiro até olhar para o quadro caído no chão.

— Tem o mesmo desenho da sua tatuagem, né?

— É... É a junção da tatuagem dos meus pais, aliás — disse ela em um tom baixo e melancólico.

Ele pegou a mão dela que cutucava a ferida e a pôs sobre a cama, deixando suas mãos juntas por um segundo; com essa ação, Catu relaxou os ombros.

— Está triste?

— É Sherlock, eu tô. — Sorriu sem os dentes.

Kyoto Ayame pegou sua mochila e de lá tirou uma flor de origami para dar para Catupi.

— Uma vez você ficou triste e eu não soube o que fazer, então eu fiz isso para te dar quando você ficasse triste de novo.

Ela pegou a flor, abriu a boca para falar algo, mas a fechou e os cantos de sua boca se transformaram em um sorriso doce, esquecida por um instante fugaz da confusão de sua mente. Era essa a magia de Kyoto.

— O que houve? — ele indagou.

— É que... Tá, eu sei que meu pai não se matou, sei que ele não é aquele boneco bizarro, mas se chegaram ao ponto de forjarem a morte dele, ele tá metido em uma encrenca danada, e... E se ele não tiver mais vivo? Ou se tiver e eu não achar ele?

— Bem, eu não conheci seu pai, mas se ele for forte e intrépido como você, eu garanto que está bem.

Catupi elevou os lábios, esboçando um leve sorriso cansado. Ele perguntou:

— Quer sair daqui?

Ela confirmou com a cabeça, se agachou para pegar o quadro e o virou.

"A leitura é a chave

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"A leitura é a chave."

Era o que estava escrito em uma letra grande e tortuosa

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Era o que estava escrito em uma letra grande e tortuosa.

Catupi parecia pensativa. Não seria específico demais tais palavras no verso daquele quadro? Justo com a letra de seu pai, um homem que sempre adorou enigmas?

Ela foi até a estante de livros na sala. Ficou parada encarando-a por um tempo, logo se abaixou e foi em direção ao último bloco da estante do lado direito. Pegou o livro que se chamava "A Arte da Leitura", o folheou e encontrou uma chave.

Não demorou para que encontrasse a fechadura e atravessasse a passagem secreta.

Quando entrou, suas sobrancelhas se ergueram e a boca se abriu em uma expressão de surpresa. O espaço era pequeno, claramente destinado a pesquisas, com uma mesa de escritório e papéis espalhados por toda parte — dentre outros detalhes que, como leitor, você já conhece; pouparei uma descrição redundante.

Catupi examinou o ambiente com um olhar atento, enquanto dúvidas pairavam no ar.

Aproximou-se da escrivaninha no canto esquerdo, onde papéis e instrumentos de medição estavam espalhados. Vasculhou os papéis e, ao abrir a gaveta, encontrou uma carta. 

De: Diego Para: Catupi

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De: Diego
Para: Catupi.

Ceará, 28 de junho de 2022.
Querida Catupi, Calebe ou Marcos.
Seja qual for que encontrar primeiro esse bilhete.
Informo que vou embarcar em uma viagem amanhã atrás de um "tesouro".
Não darei mais detalhes.
A jornada é perigosa, caso eu demore, caso eu não esteja mais vivo, caso tenha encontrado este lugar, queime tudo relacionado ao tesouro.
Te amo, neguinha.
Te amo, Calebe.
Te amo, Marcos.

Atenciosamente,
O futuro Indiana Jones do sertão.

Embora as palavras "te amo, neguinha" aquecessem seu coração, sentiu um amontoado de perguntas cair sobre seus ombros tensionados

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Embora as palavras "te amo, neguinha" aquecessem seu coração, sentiu um amontoado de perguntas cair sobre seus ombros tensionados.

"Viagem atrás de um tesouro?"

Catupi vasculhou a mesa atrás de mais pistas, achou uma gaveta com vários cadernos pequenos. "Diário de viagem" era o nome escrito no verso da capa do primeiro livro que pegou, com o subtítulo "excursão da faculdade - 2001". Todos haviam o ano escrito, ela procurou o mais recente, o de 2020:

"Viagem ao Rio de Janeiro"

E agora, leitor, é o momento que você esperava. Prepare-se para a revelação da próxima página do diário. O que vem a seguir é a continuação direta do que você viu no prólogo. Não perca nenhum detalhe.

Intrépida: a relíquia do inventorOnde histórias criam vida. Descubra agora