𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟹𝟹 ‒ 𝚀𝚞𝚊𝚕 é!

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Era ele. Era ele!

Permanecia com aquele aspecto jovial e aventureiro.

A sobrancelha de Catupi saltou, o que causou uma dor na têmpora arranhada pela lança; a do Diego não, ele tinha o rosto paralisado de tanto choque. 

Diego lentamente tirou a faca de perto da garganta da filha, enquanto parecia se controlar para não começar a chorar. Até o rádio havia começado a tocar uma música, "Cálice" do Chico Buarque, quando eles se viram, tornando tudo mais emocionante.
Diego tinha um turbilhão de perguntas para fazer, mas tudo que saiu foi uma lágrima solitária.

— Vem cá, minha bacurinha — disse seu pai, abraçando-a.

“Pai, afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue”

E nesse abraço, ele não aguentou e pôs para fora um choro doído de emoção.

Catupi sentiu invadir suas narinas aquele cheiro bom dele que a lembrava madeira de violão, e quando seu pai a apertou contra o peito, todo o peso do que vivera naquele dia pareceu dissipar. Abraçá-lo para Catupi era como voltar no tempo, principalmente voltar à infância, era como se de repente não houvesse mais problemas, não houvesse mais sangue ou feridas, como se de repente estivesse em casa e seu pai estivesse lhe abraçando porque estava orgulhoso com o gol que ela fez.

Kyoto chegou à cena e intercalou o olhar entre os dois com um ar confuso.

Os 3 agora estavam comendo em cima de um tronco de árvore, ao redor de coisas que Diego trouxe: uma mochila e um rádio, roubados de Safra, e uma lança roubada de um curumim. Catupi fez todas as perguntas que atordoavam sua mente, Diego fez questão de responder tudo. Sua voz forte ecoava pela caverna.

— Na madrugada do dia 28, uns caras invadiram minha casa e vieram pra cima de mim... eu lutei, mas eram vários e eu era só 1. Eles poderiam ter me matado, um deles tinha uma faca, mas eu só apaguei e... devo ter apagado pra valer, quando vi, eu tava dentro de um avião vindo pra essa ilha. Mas e aí, alguém percebeu que eu tinha sumido?

— Tecnicamente você não sumiu — falou Kyoto. 

Ao ver a cara confusa do pai, Catupi contou do boneco idêntico a ele e, depois de alguns segundos abismado com a notícia, ele prosseguiu seu relato. 

— Então... Quando cheguei na ilha, eles disseram que nas próximas horas eu ia ter que ajudá-los a chegar até a relíquia do Santoro Dupont; recusei... —  Ele baixou a cabeça. —  Me torturaram, mas eu resisti bastante...

A filha começou a reparar nos ferimentos de Diego, que eram mais graves que os dela, cortes e até algumas queimaduras cobriam sua pele negra. O ex-arqueólogo continuou a falar.

— Eu dei uma enrolada neles e consegui fugir ainda no mesmo dia que cheguei na ilha. Decidi ficar escondido esperando a poeira baixar pra depois tentar sair desse lugar. 

Catupi ficou em silêncio, tentando absorver toda a informação e, então, passado um tempo, voltou a perguntar.

— Qual é a desse Safra? 

Diego suspirou.

— A gente era da mesma escola, depois da mesma faculdade de arqueologia... A gente não se bica desde o oitavo ano, ele era o aluno quieto, um CDF qualquer, mas se tornou um babaca no curso, um playboy filhinho de papai — disse ele com exageradas expressões de nojo acompanhadas de algumas rugas.

— Igual aquela música do Gabriel o pensador? — perguntou a filha. 

— Retrato de um playboy? Igual!

Intrépida: a relíquia do inventorOnde histórias criam vida. Descubra agora