𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟸𝟶 ‒ 𝙾 𝚊𝚌𝚘𝚛𝚍𝚘 𝚗𝚘 𝚌𝚊𝚒𝚜

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Foram até o porto de Mucuripe no carro com a Bruna, mas ela foi embora, é óbvio que não viu motivos para ir a uma ilha deserta..

Eles tiraram as vestes trevosas em um banheiro público, e as novas roupas combinaram com o clima arejado e praiano. Catupi com uma bata roxa que era de sua mãe e um short verde sálvia; Kyoto com uma bermuda bege e uma camisa de botão com flores azuis.

O cais dava direito a vista da praia de Mucuripe e ao Farol, que emoldurava a paisagem com sua estrutura majestosa. O sol brilhava no céu azul, azul como o mar que proporcionava um clima fresco e agradável. Diversos barcos coloridos enfeitavam o lugar, balançando suavemente sob a água cristalina.

O vento fresco fazia as tranças e os cachos da Catupi voarem, e bagunçava o cabelo recém cortado do Kyoto, sutilmente arrebitado. Enquanto a dupla caminhava ao som das ondas quebrando nas pedras, uma garota loira esbarrou em Catupi.

— Me desculpa. — A loira balançou uma de suas mãos e começou a se afastar, sem dar as costas para os 2.

Quando a garota começou a se virar para o lado, Catupi disparou até ela. Empurrando-a pelos ombros arrastou brutalmente o corpo dela até a parede.

E então fez de seus braços fortes uma cerca para a loira não escapar.

Kyoto arregalou os olhos, assustado com aquela violência repentina.

— Para que isso? — Ele olhou para os lados para ver se tinha alguém por perto, mas eles estavam em uma parte mais afastada do cais.

— Devolve! — vociferou Catupi com um tom prepotente.

A loira tentou escapar pela lateral, mas foi impedida pelo braço da outra. Tendo isso em vista, a loira suspirou e tirou uma cédula de dinheiro do bolso.

Aliás, seu cabelo tinha cachos tão fechados que parecia até crespo, sua pele branca não era pálida, mas perto de Catupi parecia um fantasma. Tinha lindos olhos arredondados, sutilmente distantes um do outro. Vestia-se como uma hippie, ou melhor, vestia-se como a mistura de uma sereia e um pirata.

No esbarrão, ela havia furtado o dinheiro no bolso de Catupi tão discretamente que uma pessoa com atenção mediana não teria percebido.

Quando Catupi estendeu uma de suas mãos para pegar seu dinheiro, a loira aproveitou a brecha para fugir.

Começou a correr, porém Catupi foi atrás e não demorou muito para que a pegasse.

Empurrou-a contra parede outra vez, dessa vez com mais força, e pressionou o antebraço contra o pescoço da ladra; o músculo de seu braço parecendo ainda mais farto e definido naquela posição.

— Não brinca comigo, garota — ameaçou Catupi enquanto colocou a outra mão no bolso da calça dela, mas não havia nada.

— Cadê o dinheiro?

Ela não respondeu, então Catupi forçou seu antebraço contra o pescoço da garota fazendo ela soltar um lamento de dor abafado. Kyoto implorou com seu olhar para Catupi não a machucar.

Não teve escolha, a ladra tirou o dinheiro de dentro de seu cropped de crochê e entregou para Catupi.

Ela a soltou, olhando-a de cima a baixo.

— É, a vida não tá fácil nem pra loirinha bonita — comentou Catupi. — Qual é a sua? Cê tem cleptomania?

A loira afrouxou sua gargantilha de conchas em seu pescoço avermelhado, e retrucou, ainda ofegante:

— Não, só sou pobre mesmo. — Fez uma pausa para puxar mais ar. — Na real...

Ela não ia dizer mais nada, porém Kyoto indagou:

— O quê?

— Meu pai me obriga a roubar...

Catupi cruzou os braços.

— Corta essa, eu não vou te dar dinheiro — Começou a se afastar.

— Não quero sua piedade... Antes da pandemia a gente tinha uma boa condição financeira, por isso moramos num veleiro e...

Catupi direcionou seu tronco a ela e se aproximou.

— Ok, eu falei demais — disse a ladra mirim.

— Qual seu nome?

— Maria Lucy, e o se...

— Cê mora num barco a vela?

— Sim, precisam de um?

— Isso aí.

— Onde querem ir?

Catupi pôs as mãos no quadril.

— Uma ilha. É mais ou menos 1 dia até lá, se sairmos agora chegamos lá amanhã de tarde.

— Uma ilha... — Ela olhou para baixo com o ar distante, ficando alguns segundos em silêncio. — Querem um preço barato, não é? Se forem comigo eu faço por 100 reais.

Kyoto, que tinha as mãos unidas nas costas e balançava seu corpo para lá e para cá, parou e comentou:

— Nossa, mas está muito barato para uma viagem de barco.

Catupi sussurrou enquanto bateu com o cotovelo no braço dele:

— Cala a boca.

— É que eu quero fugir, quero ficar bem longe do meu pai. Eu já tava planejando ir pra algum lugar distante como uma ilha, só tô unindo o útil ao agradável.

Catupi cruzou os braços.

— Bom... considerando isso e considerando também que você me assaltou, logo é extremamente duvidoso viajar com você, esse preço deve baixar, não acha?

— Ok, quanto?

— 50.

— É a metade do preço, não rola.

— 60, então.

— 100 — falou Lucy com os dentes cerrados.

— 60!

— Você deveria dizer 70 agora.

— Por que você não diz 70? — Catupi falou em um tom sutil de desafio.

Lucy franziu o nariz e soltou uma risadinha desdenhosa.

— Tá! 70.

— 50.

Lucy revirou os olhos.

— Aaagh! Tá bom, eu faço por 60.

— 60 tá bom então — Catupi sorriu triunfante. Esse era o número que ela havia planejado negociar desde o início. — Sabe navegar?

— Sim — respondeu, fazendo um movimento confiante com a cabeça.

— Bom, então parece que encontramos uma timoneira.

Intrépida: a relíquia do inventorOnde histórias criam vida. Descubra agora