𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟹𝟾 ‒ 𝙾 𝚝𝚛𝚎𝚖𝚘𝚛

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Todos se entreolharam, olhos arregalados em choque diante da súbita destruição que se desencadeava ao seu redor. 
 

— Mas o que...?! — exclamou Diego. 

Pequenas lascas do teto começaram a desabar, seguidas pelo colapso do chão rochoso sob seus pés. 

Catupi sentiu o chão desaparecer sob ela em um piscar de olhos, e um grito de desespero escapou de seus lábios enquanto seus braços agarravam-se desesperadamente a uma parte ressaltada na parede rochosa.  

Com uma rápida reação, Kyoto agarrou-a pela cintura, e puxou-a para junto dele, longe da queda iminente. 

Ofegante e com os olhos arregalados de terror, Catupi olhou para o abismo que se abria diante dela, a perspectiva da morte iminente perpassando sua mente enquanto sentia a respiração descompassada de Kyoto, que estava atrás dela, em seu pescoço. Sentindo o tremor do chão e as pedras que continuavam a cair, Kyoto se curvou e a envolveu com seus braços, protegendo-a de modo que apenas seu corpo largo foi atingido pelo bombardeio de rochas. 

As pedras finalmente cessaram por um breve momento, permitindo que Kyoto se afastasse dela. Catupi se virou e olhou para ele com um misto de incredulidade e gratidão, reconhecendo sua intrepidez diante do perigo. 

Mas o alívio foi curto, pois o chão continuou a desmoronar, deixando apenas uma pequena porção de solo sólido onde eles estavam. Com o coração martelando no peito, Kyoto segurou com firmeza o braço de Catupi. 

— Tem que haver uma maneira de parar isso! — gritou ele por cima do estrondo das pedras caindo outra vez. 

O chão sob Diego também desabou, e graças ao seu instinto ágil, ele se agarrou a uma saliência na parede cavernosa, mantendo o envelope com segurança entre os dentes enquanto seus olhos se fixavam na estátua de caveira ao lado. 

— O que é aquilo? — Kyoto perguntou, apontando para a sinistra figura esculpida na parede. 

Apesar do estrondo ensurdecedor do colapso da caverna, Diego inclinou-se para frente, examinando mais de perto. Dentro da boca da caveira, ele avistou uma pedra preta. Ao estender o braço com dificuldade, conseguiu alcançá-la, enquanto segurou com um misto de fascinação e perplexidade a pedra que os geólogos chamavam de "pedra da morte”, lembrou-se do que o inventor havia escrito: 

"É uma alma por outra.  

A morte em troca da vida." 

Com certo esforço, Diego conseguiu guardar a pedra no envelope. 

— CATUPI! SEGURA! 

A cena a seguir pareceu se desenrolar em câmera lenta, então fique à vontade, leitor, para imaginá-la assim. Vendo que o envelope com a pedra não foi arremessado perto o suficiente e ela não ia conseguir pegá-lo com a mão sem se desiquilibrar, ela esticou seu pé. 

Chutou o envelope e o pegou com a mão, mostrando sua agilidade de jogadora de futebol. 

— Vá até a mesa e troque essa pedra pela caixa — instruiu Diego, sua voz, estrondosa como o tremor que se desencadeava, ecoou pela caverna trepidante. 

Inicialmente confusa, Catupi logo compreendeu a intenção de Diego ao ver a pedra da morte. Com cautela, ela levantou o pé para dar um passo. 

O solo caiu, por sorte, antes dela pisar. 

A outra parte do chão mais próxima da mesa estava longe; teria que se arriscar com um grande salto. 

Com determinação, ela se lançou para o outro lado, aterrissando com um leve desequilíbrio, mas mantendo-se firme. 

Catupi irradiou uma poderosa aura heroica ao colocar a pedra sobre a mesa, trocando-a pela caixa. 

O tremor cessou, o chão parou de despencar e o teto não jorrava mais seus fragmentos, trazendo um alívio palpável para todos.  

Os ombros de Catupi relaxaram; com a mão na barriga e uma careta de dor no rosto, ela se deitou no chão de braços e pernas abertas como uma estrela do mar, enquanto ouviu Diego e Kyoto ofegarem, aliviados. 

E não tardou para o rapaz se juntar ao repouso dela, logo se deitou ao seu lado. E ela, disse, com uma voz baixa e cansada, somada a um toque de mansidão em seu olhar profundo. 

— Você se tornou um rapaz corajoso, Kyo. 

— Você fez um bom trabalho, nós dois fizemos — Ele estendeu a mão para ela. — Os átomos da minha mão podem repelir os átomos da sua?  

Ela tocou nas mãos dele, em um aperto de mãos firme, como quem faz um trato. 

Diego olhou outra vez para o relógio, faltavam 5 segundos para o sinalizador acabar. 
A luz vermelha se foi, porém, dessa vez, não estavam em completa escuridão por conta do teto despencado, que revelava um glorioso céu alaranjado de fim de tarde, quase dourado.  

Uma sensação de vitória, alívio e triunfo perpassou o corpo de todos, ofuscada apenas pela nova questão surgiu em suas mentes:  

— O que vamos fazer agora? — indagou Catupi baixinho, interrompendo seu pai, que lia os papéis outra vez, concentrado. 

Diego puxou um ar e pensou por alguns segundos. 

— Acha que ainda funciona? — Ele apontou com a cabeça para o avião. 

Com a corda, força, esforço e inteligência, endireitaram o avião, com longas pausas para descansar. E foi só tarde da noite que entraram lá, era hora de ver se funcionaria. 

Intrépida: a relíquia do inventorOnde histórias criam vida. Descubra agora