𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟞𝟟 ‒ 𝙰 𝚌𝚘𝚖𝚞𝚗𝚒𝚍𝚊𝚍𝚎 𝚒𝚗𝚍í𝚐𝚎𝚗𝚊

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Kyoto e as garotas chegaram à comunidade indígena, ao norte da ilha. A prima de Uyara e do Cacique Raoni, Anahi — uma das garotas que foi com Kyoto ajudar a encontrar Catupi — mostrou-lhe o lugar. Lá era carregado da mais pura beleza natural, desde o rico solo marrom até o céu negro. Era um verdadeiro paraíso arborizado, com um riacho brilhante de azul vivo ao lado, várias ocas, mulheres e crianças. Kyoto notou que não havia nenhum homem, mas não questionou isso.

— Uau!

— Então, essa Catu é tua namorada? Ela é sortuda — perguntou Anahi, revelando um português com leve sotaque.

— Não, não é minha namorada — informou o rapaz, meio devagar, pois não tinha entendido o que ela quis dizer com "sortuda".

Anahi tinha negros cabelos lisos com franja, traços delicados que a faziam uma bela moça e em sua orelha direita um brinco com uma grande flor rosa pendurada.

— Gostei do seu brinco. É um Hibiscus rosa sinensis, também conhecida como mimo-de-vênus. Um fato interessante é que a flor pode ser usada para indicar o pH de um líquido. Se colocar ela em uma solução e a flor ficar escura, o pH é ácido, e se ficar verde, é alcalino.

Ela olhou para o rapaz admirada, pegou em sua mão e o guiou.

— Venhas, vou mostrar-te uma coisa.

Iluminados pela lua, sentaram-se em um tronco próximo à fogueira, onde a garota começou a lhe ensinar a fazer pulseiras com sementes de açaí.
Kyoto fazia a pulseira com a intenção de dá-la para Catupi, pensou nela durante todo o processo, pensou em como sentia saudade e como sua ausência era um emaranhado de dor e angústia. Sobressaindo o crepitar da fogueira, a voz de Anahi explicava:

— Saímos da nossa aldeia no Maracanaú para velejar e encontrar alguma ilha para passarmos as férias, aí naufragamos aqui. Alguns de nós querem voltar, mas a maioria gosta daqui. — Ela olhou para Lucy e Uyara. — Posso pintar-te? 

— Pode.

— Vou pegar urucum e um graveto.

Lucy e Uyara estavam sentadas em outro tronco próximo, Uyara fazendo pinturas no rosto da garota enquanto conversavam.

— Fui muito rude com teu amigo hoje?

— Um pouquinho — respondeu Lucy, segurando-se para não rir e interferir na pintura que ela fazia em seu rosto com tanto carinho.

— Sim, você foi.

— Desculpa, é que... depois do que aconteceu, não dá para confiar em todo mundo. Temo que ele tenha algo a ver com aqueles homens — falou Uyara com firmeza, esquecendo que Kyoto estava por perto.

Lucy tocou nas mãos dela, um toque que fez os ombros de Uyara derreterem.

— Garanto que ele não é um deles, estamos seguras.

Kyoto não estava tão próximo, mas sua audição era ótima, logo conseguiu ouvir tudo. Sua curiosidade não podia esperar, se levantou e foi atrás de Anahi para responder suas perguntas.

Mancando, ele caminhou entre a calmaria da floresta sentindo a brisa da noite acariciar seu rosto, suas pernas e seu tronco largo nu, já que as roupas que vestia estavam sujas de lama, e todas as outras secando, pois, uma vez que todas já foram usadas, ele as lavou no riacho quando fora tomar banho. Coberto apenas por uma tanga feita de entrecasca de árvores, adornada com palha, continuou sua busca e não demorou muito para encontrar quem procurava. Anahi, atrás de sua oca, tinha a tinta de urucum e um graveto na mão. Assim que a viu, Kyoto indagou em um tom calmo:

— O que aconteceu esta semana? Que homens são esses que ouvi falar?

Anahi o trouxe para perto e explicou tudo enquanto o pintava. Pintou seu rosto e depois traçou uma linha no peito do rapaz e foi descendo lentamente até a barriga.

Intrépida: a relíquia do inventorOnde histórias criam vida. Descubra agora