Capítulo 1: A Primeira Nota

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O som das ondas batendo suavemente contra o casco do navio ecoava pelo convés, criando um contraste perfeito com o silêncio da noite. O cruzeiro de luxo, conhecido como "Sussurro do Oceano", deslizava pelas águas escuras como uma flecha silenciosa. As luzes cintilantes que adornavam a embarcação brilhavam como estrelas perdidas no horizonte, refletindo a grandiosidade e a opulência que o navio representava.

Jihoon, com seus olhos fixos no piano de cauda branco no centro do salão, sentia seu coração acelerar. Era a primeira vez que ele tocaria para uma audiência tão exclusiva. A pressão familiar estava longe, mas ainda pesava em seus ombros. A cada tecla que ele tocava, sentia-se mais perto de provar seu valor, mais perto de alcançar o reconhecimento que tanto desejava. Porém, mesmo imerso em sua música, algo incomodava seu coração. Uma sensação desconhecida, talvez medo, talvez uma inquietação que ele ainda não conseguia nomear.

Hyunsoo observava de longe, os olhos negros como a noite examinando cada movimento do jovem pianista. Havia algo em Jihoon que o intrigava, uma pureza que contrastava fortemente com o mundo sombrio que ele conhecia tão bem. Hyunsoo, capitão do "Sussurro do Oceano", era um homem que havia forjado seu próprio destino, escapando das sombras de um passado repleto de atividades ilícitas. Mas aquele jovem, com seu olhar sonhador e mãos delicadas, despertava em Hyunsoo uma curiosidade quase perigosa.

Quando a última nota do piano ressoou no salão, um silêncio reverente tomou conta do ambiente. Jihoon, com as mãos ainda trêmulas sobre as teclas, levantou-se e fez uma leve reverência. Os aplausos ecoaram como um trovão, mas ele mal os ouvia, perdido em seus próprios pensamentos. Era tudo o que sempre quisera, mas por que sentia esse vazio crescente em seu peito?

Enquanto Jihoon tentava processar suas emoções, Hyunsoo se aproximou, com passos firmes e calculados, como um predador estudando sua presa. O capitão estava vestido impecavelmente em um uniforme naval branco, que acentuava seu porte imponente. Seu olhar fixo não deixava espaço para fraquezas.

— Você toca bem, pianista — disse Hyunsoo, sua voz baixa e controlada, mas carregada de um poder inegável. Jihoon levantou os olhos, surpreendido pela presença daquele homem que emanava uma autoridade quase palpável.

— Obrigado, senhor... — respondeu Jihoon, tentando esconder o tremor em sua voz. Ele não sabia quem era aquele homem, mas algo em seu interior lhe dizia para ter cuidado.

— Capitão Hyunsoo, — corrigiu o homem, com um leve sorriso que não alcançou seus olhos. — Este é o meu navio. E durante os próximos três meses, será também o seu lar.

Jihoon sentiu uma onda de nervosismo percorrer seu corpo. A presença de Hyunsoo era intensa, quase sufocante. Ele se sentia exposto, como se o capitão pudesse ver através de suas defesas, diretamente para os segredos que ele nem sabia que guardava.

— Espero que aproveite sua estadia, — continuou Hyunsoo, seus olhos negros penetrando os de Jihoon. — E, quem sabe, você pode encontrar mais do que está procurando.

No entanto, enquanto Hyunsoo falava, Alice observava a cena de longe, seu olhar afiado captando cada detalhe. Ela conhecia bem o capitão e sabia quando ele estava intrigado por algo — ou alguém. Alice era a assistente pessoal de Hyunsoo, eficiente e leal, sempre atenta ao que acontecia ao redor. Ela não poderia deixar de notar a forma como Hyunsoo olhava para Jihoon. Seria mais um enigma para ela resolver ou apenas uma distração temporária para o capitão?

Com isso, Hyunsoo se afastou, deixando Jihoon parado, confuso e ligeiramente abalado. O que ele quis dizer com aquilo? E por que o olhar do capitão parecia atravessar sua alma?

Antes de sair completamente do salão, Hyunsoo se virou para Alice e disse em um tom baixo:

— Fique de olho nele.

Alice assentiu, sabendo que as ordens do capitão eram para ser cumpridas sem questionamentos. No entanto, não podia negar que estava curiosa sobre Jihoon e a razão pela qual ele havia capturado a atenção de Hyunsoo tão rapidamente.

Enquanto Jihoon observava a figura do capitão desaparecer no corredor, ele não podia deixar de se perguntar o que aquela viagem lhe reservava. Mal sabia ele que aquela seria a primeira de muitas noites insones, onde o som do mar seria o único testemunho das batalhas internas que ele estava prestes a enfrentar.

O navio continuava seu curso, deslizando pela escuridão como um segredo sussurrado ao vento, levando consigo dois homens que, sem saber, estavam prestes a mudar o curso de suas vidas para sempre.

Horizontes entrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora