Horizontes entrelaçados

Capítulo 13: O Brilho das Sombras

O dia após o encontro no convés foi longo e cheio de incertezas para Jihoon. Ele passava as horas tentando se concentrar na música, mas sua mente constantemente voltava para Hyunsoo. A confusão que sentia não era apenas sobre o beijo; era sobre o que isso significava para ele, para sua identidade e para seu futuro. Cada melodia que ele tocava parecia carregada de uma emoção que ele não conseguia nomear, e cada nota era um reflexo de sua luta interna.

Enquanto Jihoon tentava se encontrar, as operações ilícitas continuavam a bordo do navio. A transferência das pedras preciosas havia sido um sucesso, e agora Hyunsoo e seus aliados precisavam garantir que tudo fosse encaminhado conforme o planejado. Em uma das áreas mais restritas do navio, Hyunsoo se reunia com Jung Minho e Seo Donghyun para discutir os próximos passos.

- O envio está confirmado, - disse Minho, olhando para os relatórios à sua frente. - O contato no próximo porto já foi informado, e tudo deve correr como planejado.

Seo Donghyun, o contador e financista do grupo, assentiu enquanto analisava os números. - Os fundos serão transferidos discretamente assim que o carregamento for recebido. Nenhum rastro será deixado.

Enquanto Minho e Seo Donghyun discutiam os detalhes da operação, Alice observava a reunião à distância, ciente da importância de tudo aquilo. Como assistente do capitão, ela sabia de muitas coisas que os outros ignoravam. Alice, sempre eficiente e discreta, tinha suas próprias motivações para manter o segredo e a lealdade a Hyunsoo. Embora muitas vezes subestimada, ela era uma peça chave no tabuleiro de Hyunsoo, alguém que entendia o equilíbrio delicado entre o poder e a vulnerabilidade.

Hyunsoo, que geralmente mantinha uma postura de comando implacável nessas reuniões, estava mais distraído do que o normal. Embora soubesse da importância da operação, sua mente continuava a vagar até Jihoon. Ele precisava garantir que o jovem pianista permanecesse seguro e longe das sombras que envolviam o contrabando.

- Mantenham tudo conforme planejado, - disse Hyunsoo, com uma voz que soava firme, mas que carregava um leve tom de distração. - Quero que estejamos fora do radar de qualquer suspeita.

Minho percebeu o tom diferente do capitão, mas preferiu não comentar. Ele sabia que Hyunsoo estava lidando com algo mais, algo que, como sempre, mantinha oculto de todos. Alice, no entanto, notou a distração do capitão e fez uma anotação mental para ficar atenta a qualquer desenvolvimento, especialmente em relação a Jihoon.

Após a reunião, Hyunsoo decidiu que precisava ver Jihoon novamente, mas sabia que não poderia ser tão direto como na noite anterior. Ele tinha que ser cauteloso, manter as aparências e garantir que ninguém suspeitasse de nada. No entanto, o desejo de estar perto de Jihoon era algo que ele não conseguia mais ignorar.

Enquanto isso, Jihoon, que finalmente havia encontrado um pouco de paz ao tocar piano, foi interrompido novamente por uma presença familiar. Eunji entrou no salão, desta vez com um ar mais descontraído, como se quisesse apenas observar. Desde o início, Eunji sentia uma atração intensa por Hyunsoo, uma admiração que havia crescido com o tempo e que se transformara em algo mais profundo. A presença constante de Jihoon ao lado do capitão era uma fonte de desconforto para ela, algo que ela tentava entender e, se possível, contornar.

- Você está tocando lindamente, Jihoon, - disse ela, aproximando-se do piano. - É como se a música estivesse diretamente conectada com seus sentimentos.

Jihoon sorriu timidamente, ainda um pouco desconfortável com a presença de Eunji. - A música sempre foi meu refúgio. Quando estou confuso ou perdido, é nela que encontro meu caminho.

Eunji assentiu, como se entendesse perfeitamente. Ela se sentou em uma cadeira próxima, observando Jihoon tocar por um momento antes de falar novamente. - Sabe, Jihoon, eu sempre acreditei que a música é capaz de revelar verdades que às vezes nem mesmo nós conseguimos expressar.

Jihoon parou de tocar por um momento, ponderando as palavras de Eunji. - Talvez você esteja certa. Às vezes, sinto que a música sabe mais sobre mim do que eu mesmo.

Eunji sorriu novamente, mas havia algo mais em seu olhar, algo que Jihoon não conseguia identificar completamente. - O capitão também parece apreciar muito sua música. Ele fala de você com um respeito e uma admiração que são raros de se ver.

O comentário fez o coração de Jihoon acelerar. Ele tentou esconder sua reação, mas sabia que Eunji era perspicaz o suficiente para notar qualquer mudança em seu comportamento.

- Eu fico feliz que o capitão goste da minha música, - respondeu Jihoon, tentando manter o tom leve.

Eunji não disse mais nada, mas continuou a observar Jihoon com interesse. Ela já havia percebido a conexão especial entre ele e Hyunsoo, e agora começava a entender melhor a profundidade dessa ligação. Sabia que essa relação poderia ser usada de alguma forma, mas ainda estava aguardando o momento certo para agir. Seu desejo pelo amor do capitão a fazia ponderar suas próximas ações com cuidado, para que pudesse ganhar o coração de Hyunsoo sem afastá-lo de Jihoon.

Enquanto Jihoon tentava retornar à sua música, Hyunsoo estava se preparando para a noite. Ele sabia que precisava falar com Jihoon novamente, mas desta vez, com mais cuidado. O capitão não podia arriscar ser visto ou levantar suspeitas, especialmente com as operações ilícitas ainda em andamento. No entanto, ele também sabia que não poderia continuar ignorando seus sentimentos por Jihoon, e que precisava encontrar uma maneira de conciliar seu mundo sombrio com a pureza que via no pianista.

Enquanto isso, Sangwoo, que havia notado a crescente tensão em Jihoon nos últimos dias, decidiu que precisava conversar com seu amigo. Ele sabia que algo estava acontecendo entre Jihoon e o capitão, mas Jihoon parecia mais distante do que nunca, evitando qualquer conversa profunda. Sangwoo se dirigiu ao salão de música, mas parou ao ver Eunji lá dentro com Jihoon. Decidiu esperar e encontrar um momento mais adequado para falar com ele, mas a preocupação não deixou seu coração.

Quando a noite caiu e o navio se envolveu no silêncio, Jihoon estava em sua cabine, mas não conseguia descansar. Seus pensamentos estavam agitados, e o peso do que acontecera entre ele e o capitão o impedia de encontrar qualquer paz. Ele sabia que precisava de respostas, e sabia também que, para obtê-las, precisaria ser corajoso.

Depois de um longo momento de hesitação, Jihoon tomou uma decisão. Ele se levantou da cama, vestiu um robe por cima das roupas de dormir e saiu de sua cabine, caminhando pelos corredores silenciosos até a cabine do capitão. Seu coração batia descontroladamente enquanto ele se aproximava da porta, sentindo uma mistura de medo e determinação.

Ao chegar, Jihoon parou por um instante, respirou fundo e bateu suavemente na porta. Houve um silêncio breve, seguido pelo som de passos vindo do outro lado. A porta se abriu, e Jihoon ficou surpreso ao encontrar Hyunsoo ali, usando apenas uma toalha enrolada na cintura, com gotas de água ainda escorrendo por sua pele.

- Jihoon...? - Hyunsoo perguntou, visivelmente surpreso. Seus olhos se arregalaram ligeiramente ao ver o jovem pianista à sua porta, àquela hora da noite.

Jihoon sentiu o ar sair de seus pulmões enquanto observava o capitão. Ele havia criado coragem para confrontar seus sentimentos, mas não estava preparado para ver Hyunsoo daquela maneira, tão vulnerável e íntimo.

- Capitão, eu... - Jihoon começou, mas as palavras falharam novamente. Tudo o que ele havia planejado dizer parecia fugir de sua mente naquele instante.

Hyunsoo, percebendo o nervosismo de Jihoon, deu um pequeno sorriso. - Entre, Jihoon. Não precisa ficar aí fora.

Jihoon assentiu lentamente e entrou na cabine, o coração ainda batendo forte no peito. Ele sabia que aquela noite marcaria um novo capítulo na relação deles, um capítulo que traria ainda mais perguntas, mas também, talvez, algumas respostas.