Capítulo 6: Jantar à Beira do Abismo

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O dia passou de forma lenta e contemplativa para Jihoon. Desde o convite inesperado do capitão para jantar, ele se sentia à beira de algo desconhecido, uma sensação de expectativa que permeava cada pensamento. Ele passou a maior parte do dia ensaiando no piano, tentando se concentrar na música, mas sua mente continuava a vagar de volta para o que a noite poderia trazer.

Quando o relógio finalmente marcou sete e meia, Jihoon deixou a cabine para se preparar. Vestiu-se com o melhor que tinha, optando por uma camisa social de tecido leve e uma calça escura. Não era nada extravagante, mas ele queria estar à altura do encontro, mesmo sem saber exatamente o que esperar.

Às oito em ponto, Jihoon se encontrava em frente à porta do camarote de Hyunsoo. Ele respirou fundo antes de bater suavemente. A porta se abriu quase imediatamente, revelando o capitão em uma postura relaxada, mas com aquele olhar penetrante que Jihoon começava a conhecer bem. Hyunsoo estava vestido de forma casual, mas sua presença era inegavelmente imponente.

— Jihoon, que bom que você veio, — disse Hyunsoo, abrindo a porta para ele entrar. — Por favor, sinta-se à vontade.

O camarote de Hyunsoo era luxuoso, mais espaçoso do que Jihoon imaginara, com uma grande mesa posta no centro, iluminada por velas que criavam um ambiente acolhedor. A janela do camarote oferecia uma vista deslumbrante do oceano, onde a lua refletia nas águas tranquilas. Jihoon não pôde deixar de sentir que estava entrando em um mundo diferente, um mundo onde o capitão parecia comandar não apenas o navio, mas também o ambiente ao seu redor.

— O jantar será servido em breve, — disse o capitão, enquanto indicava a cadeira para Jihoon. — Espero que aprecie a refeição. Pedi algo especial para a ocasião.

Jihoon sorriu, tentando esconder o nervosismo. — Estou certo de que será maravilhoso, capitão.

O capitão sentou-se à sua frente, observando Jihoon com interesse. O clima era leve, mas havia algo na maneira como Hyunsoo o observava que deixava Jihoon um pouco inquieto. Havia uma intensidade naqueles olhos negros que o fazia sentir-se exposto, como se Hyunsoo estivesse tentando entender mais sobre ele, além do que estava à superfície.

O jantar foi servido por um dos atendentes do navio, e a conversa entre eles fluiu de maneira surpreendentemente natural. Hyunsoo perguntou sobre a vida de Jihoon, sobre sua paixão pela música, e Jihoon, pela primeira vez, sentiu-se à vontade para falar de si mesmo. Ele contou sobre seus sonhos, sobre a pressão que sentia da família, e sobre o quanto a música significava para ele.

— É interessante como a música pode ser uma forma de escape, — comentou o capitão, enquanto degustava o vinho que acompanhava o jantar. — Você toca para se expressar ou para fugir?

A pergunta pegou Jihoon de surpresa. Ele nunca havia pensado nisso de forma tão direta. — Acho que, de certa forma, um pouco dos dois, — respondeu ele, após uma pausa. — Tocar me ajuda a lidar com o que não consigo expressar em palavras. É uma forma de encontrar o meu lugar no mundo.

Hyunsoo assentiu, como se entendesse perfeitamente. — A música pode ser uma arma poderosa. Ela revela mais sobre nós do que gostaríamos, às vezes.

Jihoon sentiu o peso das palavras do capitão. Havia algo nos olhos de Hyunsoo que indicava que ele também usava algo como escudo, algo que o protegia do mundo.

— E o senhor, capitão? — Jihoon perguntou, num impulso de curiosidade. — Qual é o seu escape?

Hyunsoo sorriu, surpreso com a coragem de Jihoon em fazer uma pergunta tão direta. — Meu escape é o mar. Navegar, comandar... controlar o destino. No mar, sinto que estou em um mundo onde as regras são minhas.

Havia um silêncio carregado entre eles, enquanto as palavras do capitão pairavam no ar. Jihoon não sabia o que responder, sentindo que havia algo mais profundo naquele homem do que ele conseguia entender.

Enquanto o jantar prosseguia, Alice estava no convés, refletindo sobre sua última conversa com o capitão. Ela sabia que Hyunsoo era um homem de muitas camadas, mas ultimamente ele estava se tornando cada vez mais difícil de ler. Ao longe, ela avistou Eunji, que também parecia imersa em pensamentos. Alice se aproximou, decidida a sondar a situação.

— Boa noite, Eunji. — Alice cumprimentou, sua voz calma mas com um subtexto de curiosidade.

Eunji sorriu de lado, sem surpresa pela abordagem de Alice. — Boa noite, Alice. Como estão as coisas com o capitão? — Ela perguntou, aparentemente casual, mas Alice sabia que havia mais naquela pergunta.

— Ele está bem, — respondeu Alice, mantendo a neutralidade. — E você, Eunji? Parece que você também tem algo em mente.

Eunji observou Alice por um momento antes de responder. — Acho que todos temos algo em mente, especialmente com o que está acontecendo a bordo. — Ela fez uma pausa, olhando para o oceano escuro. — Mas há certas coisas que ficam melhores guardadas, não acha?

Alice sentiu a tensão na conversa, percebendo que Eunji também estava ciente das mudanças que estavam acontecendo ao redor deles. — Sim, às vezes o silêncio é a melhor resposta, — respondeu Alice, decidindo não pressionar mais. — Mas se precisar de alguém para conversar, sabe onde me encontrar.

Eunji deu um leve aceno, um gesto de entendimento, mas não disse mais nada. Alice sabia que Eunji era uma jogadora inteligente e que ambos teriam que estar vigilantes nos próximos dias.

O jantar continuou, e a conversa se desviou para assuntos mais leves. O capitão era um anfitrião atencioso, sempre garantindo que Jihoon estivesse confortável, mas a tensão subjacente nunca desapareceu completamente. Após o jantar, o capitão o convidou para caminhar pelo convés, onde a noite estava clara e o ar fresco.

Enquanto caminhavam lado a lado, Jihoon sentiu-se mais à vontade, o nervosismo inicial sendo substituído por uma curiosidade crescente sobre Hyunsoo.

— Foi uma noite agradável, — disse Jihoon, enquanto eles pararam perto da grade, olhando para o mar. — Agradeço por me convidar.

Hyunsoo olhou para ele, e naquele momento, Jihoon sentiu a intensidade do olhar do capitão. — Eu queria conhecê-lo melhor, Jihoon. Você é diferente das outras pessoas a bordo. Algo em você... desperta meu interesse.

As palavras de Hyunsoo fizeram o coração de Jihoon acelerar. Ele não sabia como responder, então permaneceu em silêncio, tentando entender o que exatamente estava acontecendo entre eles.

O capitão deu um passo mais perto, sua presença imponente, mas sem ser ameaçadora. — Neste navio, você sempre pode contar comigo. Seja qual for o motivo.

Jihoon sentiu uma mistura de emoções, algo que ele não conseguia nomear. Havia um magnetismo no capitão, algo que o atraía de maneira inexplicável.

— Obrigado, capitão, — foi tudo o que ele conseguiu dizer.

Hyunsoo sorriu, um sorriso verdadeiro dessa vez. — Boa noite, Jihoon. Descanse bem.

Jihoon assentiu, sentindo-se dividido entre a excitação e a confusão. Enquanto se afastava para voltar à sua cabine, ele sabia que aquele jantar havia mudado algo entre eles. Algo importante, algo que ele não podia mais ignorar.

Enquanto Jihoon se retirava, Alice e Eunji, ambas no convés, observavam de longe. Elas sabiam que algo estava mudando, e cada uma, à sua maneira, se preparava para os desafios que isso traria.

Enquanto o navio continuava a cortar as águas tranquilas do oceano, Jihoon sentiu que estava navegando em águas igualmente desconhecidas. E ao contrário do mar, essas águas eram profundamente emocionais e complexas, levando-o a um destino que ele ainda não compreendia completamente.

Horizontes entrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora