Capítulo 35: O Início da Desconfiança

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Depois de dias de recuperação, Jihoon finalmente recebeu alta da enfermaria. O médico havia permitido que ele saísse, afirmando que o jovem estava suficientemente recuperado para voltar às suas atividades normais, desde que continuasse a evitar esforços excessivos. Apesar da melhora física, havia uma preocupação que Jihoon não conseguia afastar — uma sombra de dúvida que o acompanhava desde o incidente. Além disso, ele ainda não podia tocar piano. Sempre que tentava, seus dedos voltavam a tremer, lembrando-o dolorosamente de sua vulnerabilidade.

Durante os dias em que esteve na enfermaria, Jihoon esperava ansiosamente por uma visita de Hyunsoo, mas o capitão não apareceu enquanto ele estava acordado. A ausência dele, somada às dúvidas que já rondavam a mente de Jihoon, apenas alimentou suas inseguranças. Ele tentava se convencer de que Hyunsoo estava ocupado com suas responsabilidades, mas a sensação de ser deixado de lado começou a se instalar.

O que Jihoon não sabia era que Hyunsoo havia, sim, visitado a enfermaria várias vezes, mas sempre enquanto Jihoon dormia. O capitão, sobrecarregado com as responsabilidades do navio e com a investigação sobre o ataque a Jihoon, preferia não perturbá-lo enquanto ele descansava. Hyunsoo havia passado longos minutos ao lado da cama de Jihoon, observando-o dormir, lutando contra a preocupação e o desejo de proteger o jovem pianista de tudo. Mas ele também sabia que, por mais que quisesse estar sempre presente, havia outras coisas que exigiam sua atenção.

Assim que deixou a enfermaria, Jihoon decidiu procurar Hyunsoo. Ele precisava vê-lo, precisava dissipar as dúvidas que estavam começando a corroer sua confiança. Com passos determinados, ele caminhou até o escritório do capitão, onde esperava encontrar respostas para as perguntas que ecoavam em sua mente.

No entanto, ao se aproximar da porta entreaberta do escritório, Jihoon parou abruptamente. O que viu do lado de dentro fez seu coração apertar no peito.

Hyunsoo estava sentado à sua mesa, seus ombros tensos e sua expressão séria, enquanto revisava alguns documentos. Atrás dele, de pé e inclinada sobre ele, estava Eunji. Ela usava um vestido revelador, que destacava suas curvas de maneira provocante. Seus dedos finos deslizavam pelos ombros e braços de Hyunsoo, em uma massagem que, aos olhos de Jihoon, parecia íntima demais.

Por um momento, Jihoon ficou paralisado, incapaz de processar o que via. Ele sentiu uma onda de ciúme e insegurança tomar conta de seu corpo, o peito apertando como se o ar ao seu redor tivesse se tornado sufocante. Eunji estava ali, tão próxima de Hyunsoo, tocando-o de uma maneira que Jihoon nunca imaginou que ela faria.

Hyunsoo, por outro lado, estava tenso não apenas pelos problemas que precisavam ser resolvidos, mas também pela proximidade indesejada de Eunji. Ele sabia o que ela estava tentando fazer e não gostava disso. Várias vezes, ele tentou gentilmente afastá-la, recusando seus toques e a massagem que ela insistia em oferecer.

— Eunji, — disse Hyunsoo, sua voz firme, mas controlada. — Eu aprecio sua ajuda, mas isso não é necessário.

Eunji, no entanto, apenas sorriu de maneira suave, ignorando o desconforto evidente de Hyunsoo. — Capitão, você parece tão tenso... Não custa nada relaxar um pouco. Deixe-me cuidar disso, só por um momento.

Hyunsoo suspirou, sabendo que ela não desistiria facilmente. Ele estava prestes a insistir para que ela parasse quando algo o fez erguer a cabeça — uma sensação de que estavam sendo observados. Quando seus olhos se voltaram para a porta entreaberta, ele não viu ninguém ali, mas o sentimento persistiu.

Sentindo-se traído e confuso, Jihoon deu meia-volta e caminhou apressadamente pelo corredor, seu coração batendo forte no peito. Ele não sabia para onde estava indo até que percebeu que estava de volta à sua própria cabine. Fechou a porta atrás de si e se recostou contra ela, sentindo as lágrimas brotarem em seus olhos.

Jihoon não conseguia entender o que havia acabado de presenciar. A imagem de Eunji tão próxima de Hyunsoo, suas mãos nos ombros dele, o sorriso provocador no rosto dela — tudo parecia errado. As palavras de Hyunsoo, dizendo que não havia nada para se preocupar, ecoavam em sua mente, mas agora pareciam vazias, desprovidas do conforto que ele tanto queria sentir.

Hyunsoo, enquanto isso, continuava a sentir um desconforto crescente. Ele sabia que precisava lidar com Eunji de maneira firme, mas a presença constante dela estava começando a afetá-lo mais do que ele gostaria de admitir. Seus pensamentos, no entanto, estavam com Jihoon. Ele havia sentido a falta do jovem enquanto ele estava na enfermaria, mas acreditava que deixá-lo descansar era o melhor.

De volta à sua cabine, Jihoon se jogou na cama, enterrando o rosto no travesseiro enquanto as lágrimas finalmente escorriam. As emoções que ele havia tentado suprimir durante sua recuperação vieram à tona de uma vez só — o medo de perder Hyunsoo, o ciúme que ele não conseguia controlar, e a sensação de impotência por não saber como lidar com tudo aquilo.

Ele tentou tocar piano, algo que sempre o acalmava, mas quando seus dedos pousaram nas teclas, a frustração o dominou. Suas mãos começaram a tremer novamente, e a melodia saiu errada, sem vida. A tremedeira só piorava quanto mais ele tentava se forçar a continuar. O piano, que antes era sua fonte de alívio, agora parecia um lembrete doloroso de sua fragilidade.

"Por que ela estava tão próxima? Por que ele a permitiu?" As perguntas rodopiavam em sua mente, e Jihoon não conseguia encontrar respostas. Ele sabia que poderia estar sendo irracional, mas os sentimentos eram tão avassaladores que ele não conseguia pensar com clareza.

A solidão em sua cabine parecia aumentar com cada segundo que passava, e Jihoon sentiu que a única coisa que queria era fugir de tudo aquilo. Ele confiava em Hyunsoo, mas a cena que acabara de presenciar fez essa confiança vacilar. E se Hyunsoo estivesse se afastando? E se ele estivesse sendo substituído por alguém como Eunji, alguém que parecia tão confiante, tão à vontade ao lado do capitão?

O jovem pianista se sentia como se estivesse perdendo o controle de sua própria vida, algo que nunca havia experimentado antes. Sua cabeça latejava com o turbilhão de emoções, e ele desejava mais do que tudo que as coisas voltassem a ser como eram antes — simples, sem o peso do ciúme e da insegurança.

Enquanto Jihoon lutava contra seus próprios sentimentos, Eunji, do lado de fora, continuava a jogar seu jogo. Ela sabia que Jihoon havia visto o que ela queria que ele visse. Ela sabia que a semente da dúvida havia sido plantada, e agora, tudo o que precisava fazer era esperar para ver como ela germinaria.

O plano dela estava funcionando, e cada passo que dava a aproximava mais de seu objetivo. Hyunsoo era um homem difícil de conquistar, mas Eunji estava disposta a usar todas as armas que tinha à disposição para conseguir o que queria.

E assim, enquanto o navio continuava sua viagem pelas águas calmas do oceano, dentro dele, as emoções de Jihoon e Hyunsoo estavam prestes a enfrentar uma tempestade.

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