Capítulo 12: Correntes Submersas

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A manhã seguinte foi envolta em uma aura de silêncio. O sol nascente tingia o céu de tons suaves de rosa e laranja, refletindo na superfície tranquila do mar, mas a calma aparente contrastava com o turbilhão de emoções dentro de Jihoon. Ele mal dormira depois do que havia acontecido na noite anterior. O toque dos lábios de Hyunsoo ainda estava vivo em sua mente, e o jovem pianista não conseguia encontrar paz.

Jihoon tentava se concentrar em sua rotina diária. Ele foi para o salão de música, como sempre fazia, na esperança de que tocar o piano o ajudasse a organizar seus pensamentos. Mas suas mãos hesitavam sobre as teclas, e as melodias que costumavam fluir naturalmente agora pareciam forçadas, desconexas.

Enquanto isso, Hyunsoo observava o navio do convés superior, escondido à vista de todos. Ele sabia que seu gesto impulsivo da noite anterior havia abalado Jihoon, mas não conseguia se arrepender do que fizera. Hyunsoo estava determinado a proteger o jovem pianista a todo custo, mesmo que isso significasse manter seus sentimentos ocultos e agir com cautela extrema.

No salão de música, Jihoon estava sozinho, perdido em seus pensamentos, quando a porta se abriu silenciosamente e Eunji entrou. Ela havia notado a ausência de Jihoon no café da manhã e decidiu investigar. Observando-o de longe, ela percebeu a tensão em seus movimentos, a inquietação em sua postura.

— Jihoon, — chamou Eunji suavemente, aproximando-se do piano. — Está tudo bem?

Jihoon levantou a cabeça abruptamente, surpreso pela presença dela. — Ah, Eunji... Eu... só estou tentando tocar um pouco. Colocar os pensamentos em ordem.

Eunji sorriu, mas seus olhos analisavam Jihoon com curiosidade. Ela sabia que algo havia mudado desde o baile, mas ainda não conseguia identificar exatamente o que era. — Às vezes, a música pode nos ajudar a expressar o que as palavras não conseguem, — disse ela, em um tom quase filosófico. — Mas, outras vezes, precisamos enfrentar nossos sentimentos de frente.

Jihoon assentiu, sem saber ao certo como responder. — Você tem razão. Só que... é complicado.

Eunji observou o jovem por um momento, considerando suas próximas palavras. — Se precisar de alguém para conversar, estarei por perto, — disse ela com gentileza, mas havia uma ponta de curiosidade em sua voz, como se quisesse descobrir mais sobre o que estava perturbando Jihoon. Ela não era do tipo que perdia oportunidades, especialmente quando sabia que poderia ganhar algo valioso ao se aproximar de alguém.

— Obrigado, Eunji, — respondeu Jihoon, com um sorriso forçado. Ele apreciava a oferta, mas sabia que conversar com ela não aliviaria o peso em seu peito. As questões que o atormentavam eram profundas demais, e ele não conseguia expressá-las nem mesmo para si próprio.

Eunji assentiu, percebendo que Jihoon ainda não estava pronto para se abrir. Ela se despediu suavemente, saindo do salão, mas manteve o pensamento de que algo estava acontecendo com o jovem pianista. E isso, de alguma forma, poderia estar relacionado ao capitão. Ela havia notado as mudanças sutis na maneira como Hyunsoo olhava para Jihoon, e sabia que ali havia algo mais do que apenas interesse profissional.

Quando Eunji saiu, Jihoon soltou um suspiro de alívio. Ele precisava de tempo para processar tudo, mas o isolamento no navio tornava isso difícil. Sentia-se como se estivesse sendo observado o tempo todo, e a presença de Eunji só aumentava essa sensação.

Decidido a tentar encontrar alguma paz, Jihoon deixou o salão de música e foi para o convés, onde o ar fresco e a vista do mar sempre o acalmavam. Ele caminhou até um ponto isolado, onde podia ficar sozinho com seus pensamentos. O som das ondas batendo suavemente no casco do navio era tranquilizador, mas a mente de Jihoon ainda estava cheia de perguntas sem respostas.

Enquanto olhava para o horizonte, Hyunsoo o avistou de longe. O capitão estava no convés superior, mantendo uma certa distância para não ser notado, mas seus olhos não deixavam de seguir os movimentos de Jihoon. Ele sabia que o jovem estava lutando para entender o que havia acontecido entre eles, e isso o preocupava. Hyunsoo desejava se aproximar, oferecer conforto, mas sabia que precisava dar espaço a Jihoon para processar seus sentimentos.

De repente, Jihoon sentiu uma presença atrás de si. Ele se virou rapidamente e viu Hyunsoo, que havia decidido descer do convés superior e se aproximar sem que Jihoon percebesse. O coração de Jihoon acelerou ao ver o capitão tão perto novamente.

— Capitão, — disse Jihoon, tentando manter a calma. — Eu... estava apenas tentando... pensar.

— Eu sei, Jihoon, — respondeu Hyunsoo, sua voz calma e reconfortante. — Também tenho pensado muito desde ontem.

Jihoon não sabia o que dizer. Estar perto de Hyunsoo novamente trazia de volta todas as emoções confusas que ele sentira na noite anterior. Ele sabia que precisava de respostas, mas ao mesmo tempo, tinha medo do que essas respostas poderiam significar.

Hyunsoo deu mais um passo em direção a Jihoon, mantendo um olhar firme. — Não quero pressioná-lo, Jihoon. Só quero que saiba que estou aqui, e que você pode contar comigo, seja qual for a situação.

Jihoon engoliu em seco, sentindo uma mistura de alívio e tensão ao ouvir aquelas palavras. Ele sabia que Hyunsoo estava tentando protegê-lo, mas a proximidade deles era ao mesmo tempo reconfortante e assustadora.

— Capitão, eu... — Jihoon começou, mas as palavras falharam. Ele não sabia como expressar o turbilhão de emoções que estava sentindo.

Hyunsoo, percebendo a luta interna de Jihoon, colocou uma mão suave no ombro do jovem. O toque foi leve, quase imperceptível, mas trouxe uma onda de conforto para Jihoon. O capitão não disse mais nada, deixando o silêncio falar por eles. Ambos ficaram ali, lado a lado, olhando para o mar, compartilhando um momento de calma em meio à tempestade emocional que se desenrolava dentro de ambos.

Após um tempo que pareceu uma eternidade, Jihoon finalmente encontrou sua voz novamente. — Capitão, eu não sei o que está acontecendo comigo. Tudo isso é tão novo... e confuso.

Hyunsoo assentiu, entendendo perfeitamente. — Eu sei, Jihoon. E não há pressa para entender tudo. Às vezes, o que precisamos é apenas dar um passo de cada vez.

O jovem pianista sentiu um leve alívio ao ouvir aquelas palavras. Ele sabia que o caminho à frente não seria fácil, mas ter Hyunsoo ao seu lado, mesmo que apenas como uma presença silenciosa, tornava tudo um pouco menos assustador.

Os dois ficaram ali por mais alguns minutos, em um silêncio que falava mais do que palavras poderiam dizer. Eventualmente, Hyunsoo se afastou, dando a Jihoon o espaço que ele precisava para continuar sua caminhada de autodescoberta. O capitão sabia que esse era apenas o começo de uma jornada longa e complicada, mas estava determinado a apoiar Jihoon em cada passo do caminho.

Enquanto Jihoon permanecia no convés, olhando para o vasto oceano à sua frente, ele sentia que, apesar de todas as incertezas, algo dentro dele estava começando a se alinhar. A confusão ainda estava lá, mas também havia um fio de esperança, uma sensação de que, talvez, ele pudesse encontrar seu próprio caminho em meio ao caos.

Horizontes entrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora