Capítulo 4: Ventos do Passado

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O dia prosseguiu a bordo do "Sussurro do Oceano", mas a mente de Jihoon estava distante, ainda presa aos acontecimentos da manhã. Ele não conseguia tirar da cabeça a imagem daquela mulher misteriosa e a reação de Hyunsoo. Quem ela era? E por que a presença dela parecia ter abalado o capitão de uma forma tão intensa?

Enquanto o sol começava a se pôr, tingindo o céu de dourado e laranja, Jihoon caminhava pelo convés inferior, tentando encontrar algum alívio para a confusão que sentia. O som das ondas batendo contra o navio e a brisa do mar costumavam acalmá-lo, mas naquela noite, nada parecia capaz de dissipar a inquietação em seu peito.

Ele não estava sozinho por muito tempo. Sangwoo apareceu ao seu lado, como se pressentisse a necessidade de seu amigo. Sangwoo era o tipo de pessoa que sempre sabia quando algo estava errado, e ele sabia que Jihoon estava lidando com mais do que apenas a pressão de suas apresentações.

— Você parece estar com muita coisa na cabeça, Jihoon, — disse Sangwoo, com uma suavidade que só amigos próximos podem ter. Havia uma preocupação genuína em seus olhos, uma preocupação que Jihoon valorizava, mas que também o fazia sentir-se culpado por não poder compartilhar tudo o que estava acontecendo.

Jihoon hesitou antes de responder, sua voz baixa e cheia de incerteza. — Sim, Sangwoo... eu só não sei como lidar com tudo isso.

Sangwoo permaneceu ao lado de Jihoon, seus olhos fixos no horizonte. — Não precisa enfrentar isso sozinho, Jihoon. Eu estou aqui, e sempre estarei.

Jihoon olhou para Sangwoo, sentindo uma onda de gratidão, mas também de tristeza. Ele sabia que Sangwoo merecia mais do que o silêncio e a incerteza que ele oferecia.

— Só estou tentando entender algumas coisas, — Jihoon respondeu evasivamente, olhando para o horizonte. — Às vezes, parece que tudo está fora do meu controle.

Sangwoo ficou em silêncio por um momento, e então, como se escolhesse cuidadosamente suas palavras, disse: — Eu sempre estarei aqui para você, Jihoon. Não importa o que aconteça, você sabe que pode contar comigo.

As palavras de Sangwoo pesaram no coração de Jihoon, que sentiu uma onda de culpa por não ser capaz de retribuir o apoio de seu amigo da forma que ele merecia.

— Sangwoo... eu sinto muito por não poder ser mais aberto com você. — Jihoon finalmente confessou, sua voz embargada.

Sangwoo sorriu suavemente, embora houvesse uma sombra de tristeza em seus olhos. — Não precisa se desculpar, Jihoon. Eu entendo que nem sempre é fácil falar sobre o que sentimos. Mas saiba que, quando estiver pronto, eu estarei aqui para ouvir.

Antes que Jihoon pudesse responder, um anúncio nos alto-falantes do navio interrompeu a conversa.

— Senhor Jihoon, favor comparecer ao escritório do Capitão Hyunsoo imediatamente, — a voz autoritária de Alice soou pelo sistema de som, ecoando por todo o convés. O coração de Jihoon deu um salto. O que poderia ser agora?

Sangwoo olhou para Jihoon com preocupação, mas Jihoon apenas assentiu, indicando que precisava ir. Ele deixou o convés com passos rápidos, sentindo uma mistura de antecipação e ansiedade crescer dentro dele.

Quando Jihoon chegou ao escritório de Hyunsoo, a porta estava entreaberta, e ele podia ouvir vozes abafadas vindas de dentro. Ele hesitou por um momento, não querendo interromper, mas algo na conversa o fez parar e escutar.

— Hyunsoo, você não pode continuar me afastando assim. Sabemos que o que tivemos foi real, e sei que você ainda sente algo, — a voz de Eunji estava carregada de emoção. Era uma mistura de dor e determinação que fez Jihoon se sentir desconfortável, como se estivesse ouvindo algo que não deveria.

— Eunji, isso não vai acontecer, — a resposta de Hyunsoo foi firme, quase fria. — O que tivemos ficou no passado. Não há espaço para isso na minha vida agora, especialmente com você tentando forçar uma situação que já está resolvida.

Jihoon sentiu seu coração apertar ao ouvir o tom decidido de Hyunsoo. Ele não sabia o que havia entre o capitão e aquela mulher, mas estava claro que era algo profundo e complicado.

Antes que ele pudesse decidir se devia se afastar ou entrar, a porta se abriu totalmente. Hyunsoo estava lá, seus olhos negros fixos em Jihoon. Por um momento, ele ficou em silêncio, avaliando a situação.

— Eunji, preciso falar com Jihoon agora. Podemos continuar essa conversa mais tarde, — disse Hyunsoo, com um tom que não deixava espaço para discussão. Eunji hesitou, olhando para Jihoon com uma expressão que misturava curiosidade e ressentimento, antes de se virar para Hyunsoo.

— Não vamos deixar isso assim, Hyunsoo. Precisamos de uma resolução, — disse Eunji, seu olhar ainda fixo em Jihoon. Ela sabia que aquele jovem pianista era importante para o capitão, e isso a incomodava mais do que queria admitir.

Quando Eunji saiu, fechando a porta atrás de si, o silêncio entre Jihoon e Hyunsoo era palpável. Jihoon sentiu-se deslocado, como se estivesse sendo puxado para dentro de um drama que não entendia completamente. Ele esperou que Hyunsoo falasse, mas o capitão ficou em silêncio por um momento, como se estivesse organizando seus pensamentos.

— Jihoon, eu queria me desculpar por isso, — Hyunsoo começou finalmente, sua voz mais suave do que antes. — Você foi chamado aqui para outra coisa, e não deveria ter se envolvido em algo pessoal.

Jihoon balançou a cabeça, ainda tentando processar tudo o que havia ouvido. — Não precisa se desculpar, capitão. Eu entendo que todos têm suas próprias vidas complicadas.

Hyunsoo observou Jihoon com mais cuidado, percebendo a incerteza nos olhos do jovem. Ele sabia que não poderia ser totalmente honesto, mas sentia a necessidade de proteger Jihoon das complicações que estavam surgindo ao seu redor.

Hyunsoo o observou por um momento, os olhos escuros avaliando cada reação de Jihoon. — Não quero que pense mal de mim ou dela. O que tivemos... foi há muito tempo, e não faz mais parte do que eu sou agora. Eu gostaria que nossa relação profissional fosse clara e direta, sem interferências do passado.

Jihoon assentiu, embora ainda sentisse que havia mais por trás daquelas palavras do que Hyunsoo deixava transparecer. — Entendo, capitão. Estarei à disposição para o que precisar.

Hyunsoo esboçou um leve sorriso, algo que parecia aliviá-lo. — Agradeço por isso, Jihoon. E, como eu disse antes, se precisar de algo, estou aqui.

Enquanto Jihoon deixava o escritório, ainda sentia um peso no ar, como se as palavras não ditas e os sentimentos não expressos estivessem presentes, à espreita, esperando para serem desenterrados. O passado de Hyunsoo parecia ser uma sombra que ele lutava para deixar para trás, mas que insistia em segui-lo.

Eunji, observando de uma distância segura, via Jihoon saindo do escritório. Seus pensamentos estavam agitados. Ela sabia que Hyunsoo estava tentando proteger o pianista, mas isso só a fazia querer entender mais sobre a relação entre os dois. Eunji sentia que havia uma oportunidade em tudo aquilo — uma chance de se aproximar de Jihoon e, talvez, usar isso a seu favor.

E agora, Jihoon estava inevitavelmente envolvido nessa história, mesmo que não quisesse estar. O que isso significaria para ele e para seu futuro a bordo do "Sussurro do Oceano"? Enquanto caminhava de volta pelo corredor, Jihoon sabia que aquela viagem estava longe de ser apenas uma simples performance em um cruzeiro de luxo. Ela estava se transformando em algo muito mais complexo, e talvez mais perigoso do que ele havia imaginado.

O sol finalmente se pôs, e a escuridão da noite envolveu o navio, enquanto as águas calmas do oceano pareciam esconder segredos profundos, prontos para emergir a qualquer momento.

Horizontes entrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora