Assim que entramos na casa da Celina damos de cara com o Th sentado no sofá e tomando um chá. Nós três trocamos olhares um com o outro sem dizer um pio. Minha cabeça ainda está tentando processar a cena para depois conseguir dizer algo.
CELINA: Sentem meninas - diz sorrindo pra mim como se eu fosse alguém dentista - querem chá?
CASTRO: Dispenso, prefiro morte rápida - olho em volta - cadê a Maria Luiza?
CELINA: Estava se sentindo indisposta e foi se deitar - levanto uma sobrancelha, olhando desconfiada para ela e depois pro Th.
TH: Ela tá bem, subiu uns 3 minutos antes de vocês chegarem - deixa a xícara na mesa de centro - ela tá querendo trocar uma ideia contigo.
CELINA: É, claro. Já ia me esquecendo - sonsa do caralho - eu quero fechar um acordo justo com você, que nós duas saímos ganhando.
CASTRO: Engraçado, seu marido está querendo fechar um acordo que ou eu saio ganhando, ou ele. Se é que você me entende.
CELINA: Creio que devemos ir ao meu escritório, tratar disso particularmente. Se é que você me entende - sorri mais uma vez sínica.
CASTRO: Não, não devemos. Eu sou tão dona de tudo quanto esses aqui, tudo que eu sei, eles sabem. Nada passa por mim sem passar por eles também, e vice versa.
CELINA: Certo, então se sentem pelo menos - acatamos o que ela pede mesmo não querendo - vejamos, toda essa confusão criada, tem sido bem ruim para os negócios e com toda certeza para você também. A vigilância do pessoal de cima triplicou.
TORRES: Direto ao ponto madame, não aluga nosso precioso tempo não.
CELINA: Eu deixou vocês em paz, desde que deixe usarmos um dos seus território para transferência de carga.
Isso não é um acordo nada beneficente para os dois lados. Na verdade, eu me pergunto para que caralhos ela quer usar o meu território para passar, eles literalmente tem os cana tudo ao lado deles.
Ainda não engoli os bagulhos no nome da Ana Júlia também, mas não sei se seria bom comentar isso nesse momento. Alguma coisa não estava me cheirando bem, provavelmente foi ela que quase pegou, ou pegou, a Maria Luiza no telefone comigo. Outro ponto que eu tenho dúvida, ela sabe que era do outro lado da ligação ou só suspeita?
Quero ver se primeiro ela mesma toque no assunto.
CASTRO: E o que exatamente eu ganho com isso? Seu marido por acaso sabe disso?
CELINA: Foca no acordo, eu cuido do resto - dá de ombros - você vai ter um x a menos nas costas, além de um pequeno sossego em relação a vigilância no seu morro. Imagino que seja extremamente chato ficarem rondando o teu morro.
TORRES: Quem garante nois de que isso não é uma armação pra nois baixar a guarda e vocês invadir?
CELINA: Eu tenho outra coisa que eu sei que vocês querem, isso vai ser uma prova da minha palavra - vadia. não consigo confiar nessa porra nem fodendo.
CASTRO: Porque o meu território? Não faz sentido caralho.
CELINA: Não precisa fazer sentido para você e sim para mim, é o que importa. Eu te entrego os documentos, livro teu pescoço e você me dá passo livre. Olhando bem, quem sai mais em vantagem aqui é você.
TH: Com todo respeito sogra, mas essa parada toda tá esquisita - demais.
CELINA: Somos jogadores de lados opostos, óbvio que vai parecer esquisito - diz como se fosse óbvio demais.
Minha atenção se desvia quando eu escuto barulho de passos. Me levanto assim que vejo a Maria Luiza na soleira da porta com uma cara abatida.
Ela desvia do meu olhar quando foco nela e evita o contato.
LULU: Eu vou garantir que tudo que tenha o nome da minha irmã seja apagado - diz olhando para a mãe dela e depois rapidamente para nós três - com o vazamento da minha mãe, a vista grossa em todos os documentos será feito e é um risco que não devemos passar.
CELINA: Certo.
Por mais que eu tenha ganhado um pouco mais de confiança com a Maria Luiza dizendo, ainda sinto uma pulga atrás da orelha. Porém, no ruim do ruim, isso será um problema a menos para nós.
Meu problema não é com a Celina diretamente, independente de ela desejar a minha morte que eu sei, ela não o fez, então foda-se. O marido sim tentou e ele é o meu problema concreto, se ela tem a capacidade de controlar ele, que controle e fechamos o negócio.
Mas é um acordo temporário, apenas para mim ganhar um gás.
Olho para a Torres, depois para o Th. Os dois me passam o que é preciso sem precisar dizer algo. Eu me viro pra Celina e estendo a mão, ela sorri e estende a dela, apertando a minha.
CELINA: Ótima escolha - soltamos a mão e ela e depois de ir ao seu escritório, ela me entrega toda a papelada - pode conferir se quiser.
CASTRO: Não precisa, se você estiver mentindo pra mim você sabe que estará assinando sua sentença definitiva. vamos? - Th e Torres se levantam.
TH: Você vem preta? - ela nega.
LULU: Estou meio enjoada e me sentindo fraca, vou ficar por aqui - Th faz apenas um aceno com a cabeça e vai em direção a porta.
CELINA: Até logo.
CASTRO: Fé - Saímos os três.
Vamos o caminho todo calados. Nada precisa ser dito na verdade, não por agora porque por mais que eu não tenhamos usado palavras, sabemos qual plano devemos traçar.
Th segue pro morro, eu e Torres seguimos para um dos condomínios que são nossos. Ela vai pros braços da mulher dela, eu vou para o da minha e do meu garoto.
Antes de me deitar, me delicio com a cena dos dois dormindo agarradinhos. Sem que eu perceba uma lágrima desce do meu olho, uma lágrima que carrega múltiplos sentimentos.
Deixo minha arma na mesinha ao lado da cama e me deito, me aconchegando a eles dois, Naju se remexe para eu me encaixar melhor.
NAJU: Porque demorou tanto pra vir deitar?
CASTRO: Mora comigo?
NAJU: O que? - me olha sonolenta.
CASTRO: Já ficamos mais tempo do que o necessário longe, não quero perder mais. Mora comigo e me deixa dormir todos dias ao teu lado, às vezes do pequeno junto - sorri me olhando.
NAJU: Me entrega uma cópia da chave amanhã - diz sorrindo e volta pra posição que estava antes, apagando logo em seguida.
Eu acabo demorando pra pegar no sono. Fico por horas e horas apenas observando eles, prometendo pra mim mesma que deixarei me matarem se um dia for preciso para garantir a segurança deles.
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MINHA DONA É VOCÊ
Fanfiction📍 VIDIGAL, RJ Seis anos se passaram, e Ana Júlia retorna ao Morro do Vidigal com dois objetivos claros: concluir o curso de enfermagem e cuidar de sua mãe, Dona Arlete. O que ela não esperava era reencontrar um antigo amor da adolescência, que agor...