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*Narrador

14 de novembro de 1994 - Segunda-feira

14h45 P.M

Bento pega a carteira e coloca no bolso, ele abre a porta devagar afim de não fazer barulho. Estava cansado e tudo que ele queria era dormir, ainda mais depois da madrugada e manhã conturbada que tiveram, mas ele precisava ir trabalhar e já estava mais do que atrasado.

- Vai pra onde? - a voz confusa do amigo chama a sua atenção.

- Trabalhar, eu fiquei de abrir a loja hoje e já vai dar três horas da tarde, o Marcos vai surtar. - ele resmunga e escuta Júlio dar risada.

- Eu vou dormir mais um pouquinho, boa sorte. - Júlio fala e Bento o encara irritado, ele sai do quarto e deixa a luz acesa e a porta aberta de propósito. - Filho da puta.

Bento ignora o resmungo de Júlio e segue até o quarto dos Alves, ele abre a porta devagar e vê Dinho dormindo todo esparramado no colchão e segurando a mão de Diana. Já a garota estava acordada e com o olhar fixo no guarda-roupa, ele a chama baixinho, mas ela não se mexe.

Bento suspira frustrado e volta a fechar a porta do quarto, ele segue para a cozinha e vê Samuel sentado e com os braços apoiados na mesa.

- Bom dia. - ele chama a atenção do amigo. - Não dormiu?

- Não consigo.

- Você está a quase dois dias sem dormir, Samuel! - Bento repreende o amigo e segue até o armário, pegando os itens para passar um café. - Precisa descansar, cadê a loira aguada?

- Foi embora hoje cedo quando todo mundo foi dormir, ela tentou conversar com o Dinho, mas ele cortou ela e foi deitar.

- Eu não entendo porque ela voltou agora.

- Ela é a melhor amiga da Diana, Bento, deve ter sentido alguma coisa.

- Eu não confio nela. - ele resmunga e Samuel suspira.

- Elas são melhores amigas a anos, a conexão delas vem através de sonhos, achou mesmo que ela não iria voltar? Elas estão na mesma realidade agora.

- Ainda não confio nela. - ele termina de fazer o café e estende uma xícara para Samuel. - E a Diana?

- A Diana levantou quando todo mundo foi dormir, foi pro banheiro, tomou banho e voltou pro quarto em silêncio. - ele encara a mesa. - Eu tentei falar com ela, mas quando a puxei... Eu não consegui ver nada nos olhos dela, Bento, o olhar dela estava perdido, vazio.

- Isso vai passar, nós não a conhecemos o suficiente pra saber como lidar com ela em situações como essa, mas vamos a ajudar e ela vai melhorar.

- Toda vez que eu fecho os olhos eu consigo escutar ela gritando pela mãe, sabia? - Samuel fala com a voz embargada e Bento engole em seco, quando ele vai responder é interrompido por Dinho entrando na cozinha, ele pega as chaves do carro que estava sobre o balcão e coloca no bolso. - Vai pra onde com essa pressa toda?

- Na dona Inês. - ele mostra o relógio de Diana. - Olhem isso.

O relógio estava com a tela meio apagada e a imagem sumia e aparecia, tremeluzindo.

- O que aconteceu? Será que quebrou? - Bento pergunta pegando o relógio e analisando o mesmo.

- Eu não sei, mas eu vou ir na dona Inês. - Dinho pega o relógio de volta.

- Não, você não vai. - Samuel pega o relógio. - Espera, Dinho! As coisas aconteceram ontem, da um tempo pra ela.

- O Samuel tem razão, daqui algumas horas eu tenho certeza que ela vai estar bem. - Bento fala e Dinho suspira.

Sonho de amor - Samuel Reoli (M.A)Onde histórias criam vida. Descubra agora