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▪︎ Richard Ríos

O corredor do hospital parece se estender infinitamente, cada passo é um esforço sobrenatural que faço. A espera é insuportável, meu coração bate forte, uma mistura de desespero, culpa e medo parecem me sufocar. As notícias não chegam e o peso da incerteza se torna quase insuportável.

Pedro quando chegou, prometeu que me traria notícias, no entanto, permaneceu lá dentro e não apareceu mais. Faz dois dias que estou na portaria da porra desse hospital e a única coisa que soube é que ela estava bem, contudo, ainda não tinha acordado.

Ricardo não me autorizou a subir para saber qualquer notícia e eu me sinto enlouquecendo a cada segundo que passa e ninguém me diz nada.

Quando liguei para eles, Ricardo ficou transtornado, chegou em menos de 40 minutos no hospital, querendo saber o que houve, eu não poderia mentir, não mais. A mentira tinha me levado até aquela situação, por isso achei melhor contar tudo o que houve.

Depois disso, Ricardo me encarou com olhos revoltados e Raquel parecia coberta de decepção. Eu tentei explicar o que aconteceu naquela noite, mas esse não era o melhor momento para ter essa conversa.

Ricardo me expulsou da sala de visitas antes mesmo que eu pudesse esclarecer o que tinha feito, e na sequência me
proibiu de vê-la, e apesar da minha revolta, eu não tirava o direito dele.

Mando mais algumas mensagens para o Pedro e imploro para que traga notícias da minha loira. Mais alguns minutos se passam até que eu vejo um rosto conhecido novamente. Raquel se aproxima, e consigo ver a tristeza refletida em seu rosto antes mesmo dela dizer qualquer palavra.

A ansiedade aumenta e minha mente cria cenários sombrios. Cenários que não vou suportar se forem reais.

— Como ela está, Raquel ? - pergunto desesperado.

— Ela está bem, acordou há algumas horas e está de repouso.

Mas apesar da notícia ser boa, o rosto dela me demonstra que nem tudo está bem.

— O que houve? - questiono, engolindo a bola que desce rasgando a minha garganta.

— Richard, eu sinto muito! Ana perdeu o bebê.

Quando as palavras finalmente saem de sua boca, sinto meu mundo desabar.
A dor é como uma pancada direta no peito, uma dor que eu não sabia que era possível sentir, algo imensurável, como se tivessem arrancado alguma parte minha. Meu corpo parece falhar miseravelmente ao tentar processar o que ela disse.

As palavras dela se tornam um zumbido ao longe e tudo que consigo pensar é que falhei. Falhei com meu amor, falhei com nosso filho, falhei comigo mesmo. Eu disse que a amava, eu prometi que faria dar certo, e estraguei tudo. Eu a machuquei, mais que isso, eu fui a causa dela perder nosso filho.

— Richard, tenha calma. - sua mãe diz ao ver meu estado desolado, afundado em uma culpa que parece me invadir segundo a segundo.

— Preciso vê-la! - digo aflito. Preciso que ela saiba que eu a amo, que estou aqui
mesmo que ela não queira me ver. Preciso dizer a ela que eu não queria isso.

Raquel tensiona hesitante, me encarando como uma leoa que protegerá seu filhote de qualquer um, inclusive de mim. A dor é insuportável e a impotência me sufoca.

— Ana precisa de um tempo, Richard. Ela está fragilizada, está magoada, e talvez seja melhor você dar a ela o espaço necessário agora. - ela diz, mas eu mal consigo processar as palavras.

— Ele me odeia, não é? Ela nunca vai me perdoar.

Pensar que Ana me acha culpado, que me odeia, faz eu me odiar ainda mais. Me sinto morrer um pouco só de imaginar o que ela está pensando e passando sozinha.

R.R.MOnde histórias criam vida. Descubra agora