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Pov:Ana

Eu sabia que as coisas estavam ruins, mas não que iam chegar a esse ponto. O barulho das sirenes, o helicóptero rondando lá em cima, tudo isso estava me deixando com um nó na garganta. Tentei ficar calma, tentei não pensar no pior, mas quando o VN saiu, eu senti uma sensação estranha pra caralho, mas preferi deixar de lado. Eu tava dentro da casa, tentando ficar longe do caos lá fora. Mas foi aí que o pior aconteceu; por só eu dizer que meu pressentimento ruim não era só besteira. O som de botas pesadas no chão, as portas sendo chutadas... o BOPE. Quando dei por mim, tinham três caras de preto na minha frente, armas apontadas direto pra mim.

- Só colabora e não tenta nenhuma gracinha - meu corpo travou. Eu queria correr, queria gritar, mas não consegui. Um deles me puxou pelo braço e foi me arrastando até uma rua que não tinha mais um deles, tinha vários. Ele me jogou no chão como se eu não fosse nada. Senti o cano gelado da arma encostando na minha cabeça, e foi aí que percebi... eles não estavam ali só pra prender o VN. Eles iam usar a minha vida pra pegar ele.

A adrenalina tomou conta, mas ao mesmo tempo eu tava completamente paralisada. O capitão deles gritou que iam me matar se os caras não abaixassem as armas. E no meio de toda a confusão, só consegui olhar pro VN, esperando ele fazer alguma coisa.

Eu vi nos olhos dele que ele não queria se render, mas quando a nossa vida tá em jogo, a gente faz o que precisa. Ele mandou os caras abaixarem as armas. E naquele instante, eu achei que tinha acabado... mas não. O som do tiro foi seco, rápido, e o VN... ele caiu.

- Vinicius, não faz isso comigo, por favor - me agachei e ele deu um sorriso de canto. Isso não podia estar acontecendo, por quê?

- Te amo, linda - a voz dele saiu com dificuldade, me fazendo cair em prantos. Eu só sabia chorar, não consegui me mover. Eu queria poder dizer pra ele tudo, tudo o que eu sentia e que eu queria dar uma chance pra gente, pra nossa família.

- Ana, sai de cima dele, ele precisa ir pro hospital - Viera me puxou e me abraçou. Os meninos colocaram ele no carro.

- Eu vou junto - os meninos foram voando e eu estava no banco de trás com ele. Puta que pariu, ver ele nesse estado acabou comigo. Senti um aperto no peito ao ver os meninos lutando pra tirar ele do banco de trás. Ele estava inconsciente e a gravidade da situação era evidente. O sangue manchava sua roupa e puta que pariu, ele não pode me deixar, ele não pode.

Cadu estava tentando manter a calma, mas seus olhos denunciavam a preocupação. Brenin, com a expressão tensa, fazia o possível pra manter Vinicius estável enquanto tentava chamar a atenção dos médicos. Notei a agitação da equipe médica que rapidamente se aproximou, atraída pelo tumulto, levando-o à sala de urgência.

Eu juro que tô tentando ser positiva, mas esses pensamentos fudidos estão acabando comigo. Eu não conseguia tirar aquela imagem da minha mente.

Eu estava ali há mais de três horas, e cada minuto parecia uma eternidade. O desespero começava a se misturar com uma sensação cruel de aceitação. Eu sabia, no fundo, que as chances do Vinicius sobreviver eram mínimas. Tentei me segurar, mas as imagens do momento em que ele foi baleado se repetiam em minha mente, e a ideia de perdê-lo era uma dor que eu mal conseguia suportar.

Quando finalmente o médico entrou na sala de espera, eu senti um nó na garganta. Levantei-me imediatamente, o coração acelerado, e me aproximei dele, minha voz tremendo.

- Como ele está? - perguntei, tentando manter a voz firme, mas o medo era evidente.

O médico respirou fundo antes de responder. Seu rosto estava cansado, mas ele tentou manter a calma.

- A cirurgia está sendo complicada. Ele sofreu danos significativos e estamos fazendo tudo o que podemos para mantê-lo vivo - disse ele, com um tom que misturava esperança com realismo.

Senti uma onda de desespero e resignação. As palavras do médico foram um choque doloroso. Eu sabia que ele estava lutando para manter Vinicius vivo, mas a falta de garantias de sucesso era uma dura realidade que eu precisava enfrentar. A incerteza da situação era quase insuportável. A ideia de perder Vinicius estava se tornando uma possibilidade real, e a sensação de impotência era esmagadora.

Tudo o que eu podia fazer era esperar e rezar, enquanto a vida dele parecia pendurada na balança. Meu coração se quebrava com cada pensamento, e a espera se tornava uma tortura interminável. Me sentei na cadeira que havia ali ainda em estado de choque. Eu tentei me segurar, mas eu desabei ali, só vieram os momentos e oportunidades que eu perdi de estar do seu lado.

- Shh, calma - era Kaylane. Nem tinha visto ela chegar; ela apenas sussurrou, seu tom suave tentando acalmar o turbilhão em meu peito. - Eu estou aqui com você. Vai ficar tudo bem, eu prometo.

Eu tentei falar, mas as palavras falharam. Em vez disso, apenas me aconcheguei mais perto dela, buscando consolo no seu abraço. Kaylane me abraçava com força, e suas palavras de conforto eram um baluarte contra o medo crescente que eu sentia.

- Eu sei que é difícil - ela continuou -, mas você não está sozinha. Nós vamos passar por isso juntas, tá bom?

As palavras dela, embora não pudessem mudar a situação, ofereciam um conforto que eu precisava desesperadamente. A presença dela ao meu lado me dava uma sensação de apoio que eu não sabia que precisava até aquele momento. Embora o desespero ainda estivesse lá, o abraço e as palavras de Kaylane eram um lembrete de que eu tinha alguém para me apoiar, mesmo quando tudo parecia desmoronar ao meu redor. Enquanto eu me deixava envolver pela compaixão dela, tentei focar em cada palavra de conforto, me agarrando a uma pequena esperança de que talvez, apenas talvez, houvesse uma chance para Vinicius, e que, com o apoio de Kaylane, eu pudesse enfrentar o que estava por vir.

Assim que vi o médico, me levantei rapidamente.

- Bom - ele disse, se aproximando - A cirurgia foi um sucesso. Conseguimos remover a bala e estabilizar o Vinicius.

Eu senti um alívio momentâneo, uma onda de esperança me envolvendo. Mas, antes que eu pudesse me alegrar completamente, o médico continuou.

- No entanto, ele ainda não deu sinais de acordar. Ele está em coma no momento, e não podemos prever com precisão quanto tempo isso vai durar. Ele está estável, mas a situação ainda é delicada.

As palavras dele caíram como um peso em meu peito. O sucesso da cirurgia era um alívio, mas a notícia de que Vinicius ainda estava em coma e a incerteza quanto ao seu estado futuro era devastadora. Eu senti uma mistura de esperança e desespero, e lágrimas começaram a escorregar pelo meu rosto novamente.

- Ele vai se recuperar? - perguntei, a voz falhando. - Há alguma chance de ele acordar?

O médico fez uma pausa, avaliando minhas palavras com cuidado.

- A recuperação depende de muitos fatores. Estamos fazendo tudo o que é possível para garantir que ele receba o melhor cuidado. No entanto, é difícil prever como será a recuperação dele neste momento. Vamos continuar monitorando a situação de perto.

Kaylane apertou minha mão. Eu tentei me concentrar nas palavras do médico, focando na esperança de que o Vinicius pudesse eventualmente acordar. Eu quero acreditar que sim, que ele vai acordar e vamos esquecer tudo o que aconteceu e recomeçar do zero.

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