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Eu estava vivendo a minha rotina normalmente, vagando pelo castelo nas madrugadas escuras, explorando cada canto desse lugar que ainda me é tão estranho. Mas hoje, algo diferente aconteceu.
Eu estava no salão do trono, olhando para aquela cadeira feita de pedra e poder, o trono da Grã-rainha de Prythian. Sempre passei por ele, hesitando, como se me sentar ali fosse assumir completamente esse destino que não é meu.
Mas hoje, decidi que seria diferente. Respirei fundo, tomando coragem, e me aproximei do trono com passos calculados. Minhas mãos tremiam um pouco, mas eu estava determinada. Só que no momento exato em que me preparava para me sentar, um grito agudo ecoou pelo salão.
Um grito de criança.
Me afastei do trono tão rápido que tropecei em meus próprios pés, o som ainda reverberando nos meus ouvidos, como se tivesse perfurado meus tímpanos. Meu coração disparou, batendo tão forte que parecia que ia saltar do meu peito. Olhei ao redor, tentando identificar a origem daquele som desesperado, mas tudo parecia vazio. O salão sombrio, com suas cortinas vermelhas esvoaçando suavemente, não me dava nenhuma pista.
O eco do grito se dissipava aos poucos, mas o medo permaneceu. Não deveria haver crianças aqui. Não neste lugar.
—De onde veio isso? - Me pergunto sussurrando, enquanto cada fibra do meu corpo permanece alerta.
—Aqui, vossa majestade. – Attor surge das sombras, sua forma grotesca já não me causa mais o pavor de antes, mas ainda é perturbadora.
Seus passos pesados ecoam pelo salão vazio, ressoando até o trono, como se avisasse da escuridão que o acompanha.
Eu o observo, meu olhar fixo, tentando entender o que está diante de mim. E então, vejo. Meu coração se parte.
Uma criança. Provavelmente humana, Já que não vejo as orelhas pontudas, está com as bochechas rosadas manchadas de sangue e garras marcadas em sua pele. Ele parece ter, no máximo, dez anos.
A visão me faz engolir em seco, um misto de horror e impotência me domina.
"Ele não está fazendo isso... Por favor, não."
—Esse pequeno rato estava espreitando pela floresta, caçando. – Attor sibila com desprezo, suas palavras carregadas de veneno. Ele joga o corpo da criança no chão com um movimento cruel, e o som que ecoa no salão é algo que jamais esquecerei. O som seco de ossos se partindo.
Meu corpo se arrepia inteiro, o terror me percorre como um choque. Dou alguns passos para trás, minha mente girando, incapaz de processar a brutalidade da cena diante de mim.
Meu calcanhar bate no trono, e, sem pensar, me sento, como se o peso daquela visão me empurrasse para baixo. Me escoro nos braços da cadeira, tentando encontrar algum equilíbrio em meio ao caos.
Isso é real. Toda essa crueldade, todo esse horror é real.
E, por um momento, o peso de quem sou — de quem Amarantha é — me arrasta mais profundamente para a escuridão.
—Quanto barulho... Você não tem nada melhor pra fazer do que incomodar no meio da madrugada? – A voz de Rhysand invade o ambiente como uma onda fria, um contraste imediato com o caos que me envolvia.
Meu corpo, até então rígido, relaxa ligeiramente. A presença dele, embora não fosse o alívio completo, era uma âncora.
Eu ainda respirava de forma descontrolada, meu pulmão lutando por ar como se nunca fosse o bastante. Meus dedos agarram os braços do trono o arranhando, tentando me manter no controle da situação.
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Corte de Sombras e Lembranças | Amarantha
Fantasy𝘐𝘮𝘢𝘨𝘪𝘯𝘢 𝘢𝘤𝘰𝘳𝘥𝘢𝘳 𝘦𝘮 𝘴𝘦𝘶 𝘭𝘪𝘷𝘳𝘰 𝘧𝘢𝘷𝘰𝘳𝘪𝘵𝘰, 𝘮𝘢𝘴 𝘦𝘮 𝘷𝘦𝘻 𝘥𝘢 𝘩𝘦𝘳𝘰í𝘯𝘢, 𝘷𝘰𝘤ê 𝘴𝘦 𝘵𝘰𝘳𝘯𝘢 𝘢 𝘷𝘪𝘭ã 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘵𝘦𝘮𝘪𝘥𝘢 𝘥𝘦 𝘵𝘰𝘥𝘢𝘴. 𝘈𝘨𝘰𝘳𝘢, 𝘢𝘰 𝘢𝘣𝘳𝘪𝘳 𝘰𝘴 𝘰𝘭𝘩𝘰𝘴, 𝘦𝘴𝘵𝘰𝘶 𝘥𝘰𝘪𝘴...