Capítulo 32: Previsão

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꧁༒꧂

- Alimente-os.

A lembrança me atinge de repente. Passei uma semana aqui e não mandei alimentarem os prisioneiros. O caos que poderia ter se instaurado... Felizmente, lembrei disso agora.

- Majestade? - Attor pergunta, confuso pela mudança abrupta de assunto.

- Alimente os que estão nas câmaras. Priorize as fêmeas. Quero que seja duas refeições para elas, mas apenas uma para os machos.

Ele acena, sem entender o motivo por trás da minha ordem. Observo sua confusão e cruzo os braços, caminhando lentamente em sua direção.

- Quando eu voltar da Corte Primaveril, irei ver como eles estão - acrescento, ainda mantendo o olhar fixo nele.

- Por que tal interesse em traidores, Majestade?

A pergunta dele me faz parar. Analiso seu rosto por um momento, ponderando minha resposta. Me aproximo mais, permitindo que ele sinta o peso da minha presença.

- Porque não há nada que eles não façam para sair da miséria que conheceram lá. - Meu tom é frio, impiedoso. - Foram o quê? Quarenta e sete anos? Outros menos, mas... o terror, Attor...

Ele me encara, seus olhos quase brilhando de entendimento.

- Eles foram moldados. O terror está em suas veias, instalado em suas entranhas. Agora posso me aproveitar disso.

Dou de ombros, girando nos calcanhares e me dirigindo até a janela, observando o céu cinzento sem vida, acho que uma tempestade se aproxima.

- Só o medo domina as bestas. O terror é a mensagem.

Attor solta um grunhido de aprovação. Ele entende o poder que o medo exerce.

- Farei o que pede e me certificarei de que seja cumprido, Majestade - diz ele, reverenciando levemente.

Aceno com a cabeça, já voltando minha atenção para os livros que estão dispostos na mesa.

- Peça ajuda a Lythia, se precisar. Ela é boa com detalhes.

Pego um dos livros ao acaso, os dedos passando pelas páginas envelhecidas. Preciso distrair minha mente do que está por vir.

- Preciso sair esta noite - informo sem tirar os olhos do livro. - Prepare uma carruagem. Apenas dois cavalos. Não quero chamar atenção quando chegar à Corte Primaveril.

- Cavalos? - Ele parece surpreso com meu pedido, franzindo o cenho.

Levanto os olhos do livro, fitando-o diretamente.

- O que tem de errado em querer cavalos?

- Nada, Majestade. Só que... há portais que pode usar.

Penso sobre isso por um momento. De fato, seria mais rápido, mas usar magia exige demais de mim. Ainda não posso confiar em algo tão volátil.

- Eu sei, mas quero ver como anda a floresta e, quem sabe, achar algo interessante no caminho.

Um sorriso se forma nos meus lábios enquanto volto a atenção para ele.

- Talvez eu encontre uma corte pelo caminho e possa dar fim a ela se me decepcionar... - Faço uma pausa, estreitando os olhos. - Além disso, quero voltar antes deles. Não demorarei lá.

Dou de ombros caminhando até a porta, fingindo uma despreocupação que não sinto. Há um propósito maior nessa jornada, um que não posso revelar a Attor. Eu preciso encontrar Eamon. Ele partiu a pé, e talvez, se a sorte estiver ao meu favor, eu o encontre no caminho e finalmente me certifique de que ele está bem.

Corte de Sombras e Lembranças | AmaranthaOnde histórias criam vida. Descubra agora