Capítulo 22: Condenação

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꧁༒꧂

- O que você vai fazer, Amarantha? - Rhysand pergunta com cautela, cada palavra escolhida como uma serpente sondando o terreno.

- Eu o levarei para o quarto e me divertirei. - Minha voz sai firme, carregada de uma frieza ensaiada. - Acha mesmo que a morte rápida que você daria a ele seria prazerosa o suficiente?

- Não. - Ele se aproxima, a mão deslizando para minha cintura, um toque que eu deveria repelir, mas que permanece, como se me desafiando. - Mas ele não é bom o suficiente para você.

Eu solto a gola da criança, meu olhar agora fixo no rosto de Rhysand. Ele tenta me seduzir, jogando seu charme sombrio com a precisão de quem já sabe exatamente o que fazer, e de repente, tudo se encaixa.

- Leve a mim? - ele murmura, a voz suave, hipnotizante, enquanto inclina-se para perto, o rosto a centímetros do meu pescoço, como se procurasse um ponto fraco que ele deveria conhecer tão bem. Esse pensamento só me trás nojo.

Uma faísca de compreensão me atravessa, e um sorriso genuíno surge em meus lábios. Por um momento, sinto a satisfação de entender o jogo...

Mas então vejo as sobrancelhas dele subirem, aquele leve contorcer de lábios que revela uma repulsa escondida.

Ele acha que eu machuquei a criança, independente do seu pedido. Sua expressão releva isso. Afinal ele sabe como é a Amarantha, fria e calculista.

Mas não, ele entendeu tudo errado.

Eu encaro seus olhos, cheios daquela atração falsa e mal disfarçada aversão. Ele não quer que eu leve a criança.

Meu Deus. Como pude ser tão burra? Como pude achar que ele realmente a machucaria ali ?

Ele está se oferecendo no lugar dela.
Ele quer proteger a criança.

Sinto meu estômago afundar enquanto a realidade se instala. Rhysand, mesmo nessa situação terrível, mesmo depois de tudo que passou com a Amarantha, ainda está disposto a sacrificar a si mesmo para proteger um inocente.

Grão-senhor da corte noturna, Você é realmente gentil.

E aqui estou eu, encenando o papel da vilã, sem coragem de dizer que não quero machucar ninguém.

Mas se eu recuar agora, se eu mostrar compaixão ou hesitação, isso só levantará suspeitas. E o que aconteceria com Eamon se o Attor percebesse minha fraqueza?

Eu preciso manter o disfarce, preciso continuar sendo o monstro que eles esperam que eu seja. Mesmo que isso signifique pisar em tudo o que eu sou.

Mesmo que signifique que Rhysand me odeie um pouco mais a cada dia.

A mão dele ainda queima na minha cintura, e pela primeira vez, eu me permito tocá-lo. Não como Amarantha faria, mas como eu mesma.

Sem outras intenções, sem sedução, sem o terror, sem a dor, sem a humilhação.

Apenas com... amor? Um pedido silencioso de desculpas.

Seguro sua mão gentilmente, mesmo que meu olhar mantenha a frieza que ele espera ver em mim.

Sinto um arrepio correr pela minha pele, um choque que colide diretamente com meu coração. Como dói.

Ele observa o nosso toque, seus olhos se estreitando ligeiramente. Eu faço o mesmo, observando nossas mãos, os dedos entrelaçados.

Aperto sua mão com firmeza, quase desesperada, como se fosse a única coisa me segurando contra todo o mal dentro de mim, toda a escuridão que me cerca.

Quando ele finalmente me encara de volta, há uma pergunta não dita em seus olhos.

Passamos alguns segundos assim, apenas nos olhando, e então eu solto sua mão. A dor da separação é quase física, como se estivesse arrancando uma parte de mim.

É estranho encará-lo assim. Antes ele era apenas uma ilusão feita de palavras, uma fantasia que me preenchia em noites solitárias. E agora ele está aqui, real e tão próximo.

Seria incrível, se não fosse tão doloroso.

Me viro antes que ele possa ver a fraqueza em meus olhos, meu coração esmagado pela situação. Volto meu olhar para Eamon, que me observa com olhos arregalados, ainda cheios de medo e dor.

- Vamos - digo, a voz saindo mais firme do que me sinto. Seguro a barra da camisa da criança novamente, pronta para levá-la comigo. Não posso me dar ao luxo de mostrar mais nada agora, não a Rhysand, não ao Attor, e definitivamente não a mim mesma.

Atrás de mim, posso sentir o olhar de Rhysand como uma lâmina afiada, cortando através de qualquer ilusão que eu tente manter. Ele sabe que há algo errado, mas eu me pergunto se ele entenderia a verdade, mesmo que eu a jogasse em seu rosto.

Saio da sala, carregando comigo o peso da incerteza e o ódio crescente que Rhysand deve sentir por mim agora.

Cada passo ecoa a minha condenação.

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Oi, Constelação.
Obrigada por ler mais um capítulo!

Deixei umas migalhas de romance pra vocês, hahaha migalhas mesmo.

E se fosse pra dar uma música ao capítulo com certeza seria "People Help The People" da Birdy. É simplesmente incrível,ouçam.

Não esqueça de votar. ⭐️

-Com amor, Autora.

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