Capítulo 46: Acordo

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— Tudo começou quando morávamos em Bridian, uma das aldeias da Corte Invernal. — Ela começa, e entendo de onde vêm seus cabelos brancos e pele clara, que fazem seus olhos azuis parecerem ainda mais intensos sob a luz. — Meu pai era comerciante, o melhor da nossa região. Eu e meus irmãos levávamos uma boa vida; tínhamos comida na mesa todos os dias, e o inverno, por mais que assustasse outros, era aconchegante para nós. Eu devia ter cerca de dezenove anos quando o conheci... e me apaixonei perdidamente.

Ela faz uma pausa, os lábios tremendo como se o próprio ar ao redor a sufocasse.

— Ele era um vendedor novo na cidade, mas tinha um conhecimento impressionante sobre negócios e dinheiro. Primeiro, ele se aproximou do meu pai. Nossa loja era especializada em roupas, peças finas, de tudo que se possa imaginar. Vestíamos Prythian. Ele conquistou meu pai... e, assim que atingi a "maioridade", começou a me cortejar. Eu sempre o via na loja pois comecei a trabalhar lá também. Eu era ótima com bordados.

E vejo seus dedos se moverem involuntariamente, como se tentassem repetir os delicados movimentos de um bordado há muito esquecido.

— Mas não era só isso que eu queria — diz ela, com um brilho distante no olhar. — Eu era jovem e desejava desbravar o mundo. Nunca tinha saído da Corte Invernal, e ainda assim, sonhava com algo além do que conhecia. Mas quando você é a filha mais velha, existem obrigações... responsabilidades que te prendem. Eu não podia administrar tudo por ser uma fêmea, apesar de ser a mais velha.

Ela respira fundo, a voz um pouco trêmula.

— Meu irmão, um ano mais novo... — um suspiro amargo escapa —, nós éramos próximos. Claro, tínhamos nossas desavenças, como qualquer um, mas éramos amigos... apesar de tudo. Só que, conforme meu parceiro ia desmitificando o mundo e enchendo a cabeça do meu pai com suas ideias, meu pai começou a me esquecer... e colocou Karin, meu irmão, no meu lugar. Meus bordados, antes tão elogiados, passaram a ser ignorados, e minha presença tornou-se dispensável. Eu fui encolhendo... ficando pequena dentro do meu próprio lar.

— Talvez... — ela murmura, os olhos perdidos no passado —, talvez esse tenha sido o ponto inicial. Ele usou minhas fraquezas contra mim. Depois que Karin morreu... foi tudo tão rápido. Dois meses após o meu parceiro chegar, meu irmão se envolveu numa briga de bar. Mas como meu irmão, tão pacífico, acabaria numa situação assim? Aquilo... destruiu minha mãe. Ela não suportou a perda do filho, ficou de cama por um ano, até que... morreu. Acho que de saudades.

Ela respira fundo, a dor ainda visível em seus olhos, mas continua.

— Com a morte de Karin, tudo mudou. Cruoris começou a dizer ao meu pai o quanto eu era talentosa, uma joia rara no meio de fios, linhas e agulhas. Foi ele quem tirou meu valor uma vez... mas foi ele quem o devolveu, ou assim pensei. Fiquei tão feliz. Eu vinha contando a ele como amava bordar, ver pequenas obras nascerem em um pedaço de tecido simples... isso me dava vida.

Corte de Sombras e Lembranças | AmaranthaOnde histórias criam vida. Descubra agora