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A luz do sol filtrava-se suavemente pelas persianas da janela, criando padrões quentes no chão frio do quarto de hospital. O cheiro estéril do lugar era algo ao qual eu já havia me acostumado, mas que nunca deixava de me lembrar do motivo pelo qual estava ali todos os dias. Meu nome é Stella, e sou enfermeira na ala oncológica do Hospital San Markew, no coração de Rosewood, uma cidade tão pacata quanto seu nome sugere.
Ajeitei o travesseiro de Guss, o senhor idoso que tinha se tornado quase um amigo ao longo dos meses. Ele estava debilitado, com a pele pálida e o corpo frágil, mas ainda assim, seus olhos azuis brilhavam com uma vitalidade que eu raramente via em outros pacientes. Guss sempre tentava sorrir, mesmo quando o mundo parecia desmoronar ao seu redor.
— Como se sente hoje, Guss? — perguntei suavemente, ajustando os tubos que o mantinham ligado à vida.
— Melhor agora que você está aqui, Stella. — A voz dele era um murmúrio, enfraquecida pela doença, mas ainda carregava um tom de sinceridade que aquecia meu coração.
Sentei-me ao lado de sua cama, segurando sua mão. Era algo que sempre fazia, uma pequena rotina que desenvolvemos. Para Guss, talvez fosse um dos poucos momentos de contato humano que ele tinha. Ele me contou, entre uma sessão de quimioterapia e outra, que todos os seus parentes o haviam abandonado. Amigos, família... todos haviam partido, deixando-o sozinho para enfrentar o fim. Mas ele nunca demonstrava ressentimento. Pelo contrário, ele agradecia todos os dias por minha presença.
— Sabe, Stella... — ele começou, com aquele brilho de sempre nos olhos —, você é a única pessoa que nunca me abandonou. A única que não virou as costas. E por isso, sou eternamente grato.
Senti um nó na garganta. Nunca me acostumaria com essa gratidão silenciosa, a certeza de que, por mais que fizesse, nunca seria suficiente para compensar a solidão que ele enfrentava. Mas eu sorria, como sempre, tentando dar a ele o consolo que ele precisava.
— Eu só estou fazendo meu trabalho, Guss. E você é uma das pessoas mais fortes que conheço. E é um amigo também! — apertei a mão dele gentilmente, tentando transmitir um pouco da força que ele tanto precisava.
Enquanto conversávamos sobre trivialidades - uma ideia passou pela minha mente. Algo na maneira como Guss falava, na sua resiliência, me fazia lembrar de um personagem. Mas de qual livro? Qual história?
Franzi o cenho, tentando puxar pela memória, mas nada surgiu de imediato. Era engraçado como minha mente associava as pessoas a personagens fictícios, como se a vida real e os mundos que eu lia nos livros se entrelaçassem de formas que nem eu mesma entendia.
Livros sempre foram minha paixão, meu refúgio. Desde criança, eu me perdia nas páginas de mundos distantes, aventuras épicas e amores impossíveis. Na verdade, eu tenho até uma tatuagem no pulso esquerdo com a palavra "Hiraeth", uma palavra galesa que significa saudade de um lugar que nunca existiu, ou de uma casa que nunca foi sua. Era assim que me sentia em relação aos livros — como se pertencesse àqueles mundos mais do que ao meu próprio.
Afinal, é como a Juliette Ferrars disse uma vez: "Na ausência de relacionamentos humanos, formei laços com personagens no papel. Vivi amor e perda por meio de histórias gravadas na História; vivi a adolescência por associação. Meu mundo é uma rede entrelaçada de palavras, membros costurados a membros, osso a tendão, pensamentos e imagens juntos. Sou um ser composto de letras, um personagem criado por meio de frases, uma imaginação formada por ficção."
Como posso me sentir exatamente assim? é fascinante e solitário ao mesmo tempo.
Meus gostos eram amplos, mas ultimamente, eu tinha me viciado em uma categoria específica: isekai. Histórias onde as protagonistas morriam e renasciam em outros mundos, geralmente no corpo de vilãs temidas e odiadas. Maldita hora em que achei e me interessei pelos benditos manhwas. Talvez fosse o conceito de segunda chance, de redenção, que me atraía tanto. Eu gostava de ver como essas personagens lutavam contra suas novas circunstâncias, tentando mudar suas histórias.
Era engraçado, mas eu me via em cada uma dessas protagonistas, mesmo que, no fundo, eu soubesse que minha vida era muito menos extraordinária. Não que fosse ruim, pelo contrário. Eu amo a minha vida mas ainda assim... Quem sabe? Talvez, em algum lugar distante, em um mundo paralelo, eu também tivesse uma chance de reescrever minha própria história.
— Em que está pensando? — A voz de Guss me trouxe de volta.
— Só devaneando — respondi, sorrindo para ele. — Lembrei de um livro que li, mas não consigo lembrar qual exatamente.
Guss riu baixinho, o som mais leve que o usual.
— Você e seus livros, Stella. Um dia, vai se perder tanto em um deles que nem vai mais querer voltar.
Eu ri junto com ele, sem saber o quão verdadeiras suas palavras poderiam ser.
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.Oioi estrelinhas, essa é a minha primeira fanfic sobre o meu livro favorito, espero que gostem e possam mergulhar nessa história comigo!
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xoxo 💋
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Corte de Sombras e Lembranças | Amarantha
Fantasía𝘐𝘮𝘢𝘨𝘪𝘯𝘢 𝘢𝘤𝘰𝘳𝘥𝘢𝘳 𝘦𝘮 𝘴𝘦𝘶 𝘭𝘪𝘷𝘳𝘰 𝘧𝘢𝘷𝘰𝘳𝘪𝘵𝘰, 𝘮𝘢𝘴 𝘦𝘮 𝘷𝘦𝘻 𝘥𝘢 𝘩𝘦𝘳𝘰í𝘯𝘢, 𝘷𝘰𝘤ê 𝘴𝘦 𝘵𝘰𝘳𝘯𝘢 𝘢 𝘷𝘪𝘭ã 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘵𝘦𝘮𝘪𝘥𝘢 𝘥𝘦 𝘵𝘰𝘥𝘢𝘴. 𝘈𝘨𝘰𝘳𝘢, 𝘢𝘰 𝘢𝘣𝘳𝘪𝘳 𝘰𝘴 𝘰𝘭𝘩𝘰𝘴, 𝘦𝘴𝘵𝘰𝘶 𝘥𝘰𝘪𝘴...