Capítulo 19: Fagulha Insignificante

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꧁༒꧂

Eu me sentei no chão do quarto, encarando a parede rochosa à minha frente. Sabia que o livro de feitiços estava escondido ali, oculto por alguma magia antiga que nem eu conseguia decifrar.

Minha mão toca a superfície fria da pedra, tentando sentir qualquer sinal de energia, qualquer pista que me indicasse como acessar o que estava do outro lado.

Eu já havia tentado várias vezes,durante essa semana e sem sucesso. Cada tentativa me deixava mais frustrada, como se estivesse batendo contra uma barreira invisível que só cedia ao toque de uma magia que eu não conseguia invocar.

É muito estranho, sentir esse bloqueio tão forte, como se uma parte de mim estivesse ali, mas ao mesmo tempo, completamente fora do meu alcance.

Tentei de novo, fechei os olhos e me concentrei, tentando puxar a magia de dentro de mim. Mas tudo que consegui foi um vazio inquietante.

Não é falta de poder, e eu sei disso. Talvez seja medo. Medo de tocar algo que não entendo, medo de perder o controle, e por isso a magia simplesmente não flui, é como se estivesse presa em algum lugar profundo, trancada pelas minhas próprias inseguranças.

E isso me deixa com um gosto amargo de tristeza. Uma tristeza que vinha do fundo da minha alma, como se eu estivesse lamentando algo que nunca tive de verdade. Eu queria tanto abrir aquele livro, entender os segredos que ele guardava, mas o medo me paralisava. Era frustrante, desesperador até. Saber que a solução estava bem ali, atrás daquela parede, mas que eu não conseguia fazer nada para alcançá-la.

Eu não consigo lançar uma maldita magia, como eu serei ela ? Eu não consigo, tudo em mim grita pra desistir. Mas como aceitar o fim ?

Eu sou patética, patética.

Era como se a magia estivesse se recusando a sair, como se estivesse se protegendo de mim mesma. E quanto mais eu tentava, mais impossível parecia. Eu podia sentir a confusão em minha mente, um turbilhão de emoções que apenas alimentava essa barreira. E, no fundo, sabia que, até que eu resolvesse essa confusão interna, aquele livro permaneceria inalcançável, trancado atrás da parede, tão próximo e ao mesmo tempo tão distante.

Como posso dizer adeus a tantas memórias ?

Era a minha vida.
Era as minhas lembranças.
Era a minha amada família.
Meus amigos.
Uma vida inteira vivida tão genuinamente.
Como posso dizer adeus a mim mesma ?

E para que ?
Para me tornar algo que abomino ?

Estou cansada das minhas próprias desculpas, cansada de negar o inevitável. Cansada de ser patética. Cansada de ser fraca.

Eu preciso fazer valer a pena. E eu vou, custe o que custar.

São tantas coisas que preciso lidar, mas felizmente, uma delas saiu do meu caminho.

O plano de manter Rhysand distante funcionou. A última discussão no quarto foi, de fato, a última. Ele não voltou desde então.

Parte de mim deveria se sentir aliviada, mas a verdade é que não é tão simples assim. Cada vez que penso nele, uma parte de mim quer correr e se lançar em seus braços, contar tudo, deixar que ele leve embora toda essa dor e confusão.

Afinal, ele não é mais apenas um personagem. Ele está aqui na minha frente, rondando por mim.

Ele é Real.

Mas aí vem aquela voz interior, me lembrando de quem sou agora, e de quem ele é.

Não sou mais a Stella, a garota boba apaixonada por livros. Apaixonada por ele.

Sou Amarantha, a vilã que ele odeia. E por mais que eu quisesse, não posso simplesmente jogar essa verdade na sua cara e esperar que tudo fique bem.

Conhecer Rhysand tão intimamente, saber o que ele passou e o que ele ainda suporta para proteger seu povo, torna tudo ainda mais complicado.

Eu sou parte do que ele despreza.

Eu sou a razão do seu sofrimento, mesmo que de uma forma tortuosa. Como posso, então, me permitir buscar consolo nele?

É egoísta.

Por mais que eu seja apenas Stella por dentro, sinto que não sou digna de nada que venha dele. Eu sei que, se contasse a verdade, ele faria qualquer coisa para me destruir e, com razão.

Conhecer e amar um personagem tem seus prós e contras. E Rhysand... Rhysand faria qualquer coisa por aqueles que ama, pelo povo dele.

Acha mesmo que uma garota como eu, estaria acima do povo e amigos dele ?

Eu sou só uma sombra, uma fagulha insignificante perto do poder e da determinação dele.

Eu não significo...

...
...
...
...
...

Nada...

◦•●◉✿◉●•◦

Oi, Constelação.
Obrigada por ler mais um capítulo!

Perdoe por todo o sentimento exposto, mas eu estava escrevendo esse capítulo ouvindo "In my Room" & " The Wisp Sings", E realmente consigo ver ela em cada palavra escrita aqui.

É uma nova realidade Monstruosa e eu não poderia deixa-la ser um robô e simplesmente aceitar tudo.

Ela é humana, como você e eu leitora. Tem dores e sente, sente muito.

Tenha paciência com ela.

Afinal, O quão perdoável é o imperdoável ?

Não esqueça de votar. ⭐️

-Com amor, Autora.

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