Capítulo 8: Attor

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꧁༒꧂

Continuo correndo, meus passos vacilantes ecoando pelo campo deserto, até que, de repente, escorrego. Meu corpo despenca e meu rosto bate contra o chão gélido e molhado, a dor disparando por meus joelhos e pulsos com o impacto. Tento me reerguer, usando os braços como apoio, mas minhas forças falham, e acabo permanecendo sentada sob meus joelhos.

Sinto meu estômago se revirar, a bile subindo pela minha garganta. O cheiro é insuportável, ferroso e denso, e percebo, com horror, que estou coberta de sangue—meu corpo, minhas roupas, até mesmo meu rosto.

Encaro minhas mãos trêmulas e noto uma poça lodosa de sangue diante de mim. A luz do luar, filtrada pela neblina espessa, reflete em meu rosto na superfície da poça, revelando algo que eu mal consigo processar.

Vejo meu reflexo e, finalmente, entendo o que Feyre quis dizer com "Embora bonita, não era tão avassaladoramente linda como eu a havia imaginado; não era uma deusa de escuridão e rancor, o que a deixava ainda mais aterrorizante."

Minha pele é tão branca quanto a neve, os fios do meu cabelo estão emaranhados, manchados de sangue. A cor—meu Deus, é exatamente a mesma. Vermelho como o sangue. Vermelho como o que está ao meu redor.

Eu não sinto mais a dor da queda, como se ela nunca tivesse ocorrido. Talvez seja o fator de cura dos feéricos, agindo rápido demais para que eu possa compreender. É tudo tão estranho, tão irreal. Olho para frente, o campo se estende vazio e desolado.

Por que está tão deserto? Achei que o território fosse cheio de guardas, de criaturas prontas para protegê-la—para me proteger.

Em que momento da história eu estou?

Um arrepio corre pela minha espinha quando sinto uma sombra se estender sobre mim. Algo, ou alguém, se aproxima por trás, e a sensação é tão forte que parece que até o ar ao meu redor ficou mais denso.

—Vossa Majestade?—a voz grave e sibilante atrás de mim faz todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. É uma voz que poderia fazer meus ossos chacoalharem de medo. Um farfalhar suave como o som de asas me alcança, seguido por um cheiro pútrido que invade minhas narinas, me forçando a torcer o nariz.

Viro minha cabeça lentamente, cada movimento tenso, as sobrancelhas franzidas em desconforto, meus olhos já lacrimejando pelo cheiro nauseante. E então, vejo.

Um rosto encouraçado, pontudo e cinza aparece em meu campo visual, presas prateadas reluzindo quando ele sorri para mim. Um sorriso horrível.

O horror que sinto ao encará-lo é avassalador. A expressão de desprezo em meu rosto é palpável—e merecida. Aquilo, aquela coisa, é a pior visão que já tive em toda minha vida. Um monstro. Um monstro real.

Nenhumas das Fanart que vi desse monstro são comparadas a realidade.

É desprezível.

Seus dedos longos e ossudos se mexem, as garras raspando o chão ensanguentado com um prazer perverso. As asas encouraçadas farfalham ocasionalmente, como se ajustando à sua posição. Tudo nele é errado, tudo nele me faz querer gritar e correr, mas estou paralisada, incapaz de desviar os olhos de sua forma grotesca.

—Attor?—minha voz sai como um sussurro agonizado, quase inaudível. O nome dele escapa de meus lábios antes que eu possa me controlar, uma prova do meu medo. Se isso for realmente real, não posso demonstrar o que estou sentindo. Ele desconfiaria.

Engulo em seco, mas parece que tem algo entalado na minha garganta, quase me sufocando. Tento reunir coragem, forçando-me a virar o rosto lentamente para a mesma direção de antes, evitando ao máximo encará-lo. Fecho os olhos por um momento, sentindo o ardor do choro reprimido, e finalmente, as lágrimas escapam, traçando caminhos úmidos e quentes pelo sangue que mancha meu rosto.

Corte de Sombras e Lembranças | AmaranthaOnde histórias criam vida. Descubra agora