꧁༒꧂
Traço o caminho por onde passei, ainda que a maior parte tenha sido apenas vultos indistintos, não posso desistir de procurar. A minha única opção de ajuda é o Attor e não quero ver ele novamente.
O percurso parece interminável, o sangue seco sobre minha pele me deixa enojada.
As lágrimas silenciosas não param de cair. Já que não há ninguém para me julgar, eu posso finalmente liberar toda a minha dor.
Meu Deus, tudo o que eu perdi.
Eu não queria isso.
E agora, a única coisa que tenho é ruínas.O ambiente ao meu redor é sufocante, a atmosfera pesada me causa arrepios. Tento ignorar o trono que passo pelo caminho, me recuso a lidar com ele agora. Continuo a andar pelo corredor, abrindo portas que não me levam ao quarto que eu lembro.
Mais um pouco de caminhada e vejo os candelabros. Sinto que estou perto.
Meus olhos caem sobre o anel em minha mão.
- Será que você pode me ouvir, Jurian?
Os olhos presos na pedra do anel se remexem, fixando-se em mim com intensidade.
- Você causou a desgraça de Prythian... Acha que valeu a pena?
Deixo a mão ao lado do corpo, o que oculta o anel da minha visão.
- Eu entendo a dor dela...
Penso no meu Max, meu irmãozinho. Se alguém fizesse mal a ele, eu certamente me tornaria um monstro.
É tão errado pensar que compartilho uma feição com Amarantha? Jogo o pensamento para longe, me recuso a seguir essa linha.
Ao olhar pra baixo percebo que todo o meu trajeto até o corredor está manchado de sangue. Estranhamente, o cheiro metálico que antes me incomodava já não parece tão presente.
Uma parte de mim está se acostumando a isso? Mas... tão rápido assim?
Finalmente, encontro uma porta aberta. Espio dentro, e lá está.
O quanto do qual me lembro, acho que esse é o único quanto que tem espelho.
E o mais importante de tudo Rhysand não está mais ali, o Attor cumpriu meu pedido.
Entro no quarto e fecho a porta atrás de mim. Não há uma fechadura visível, então murmuro uma prece ao Caldeirão para que ela permaneça bem trancada.
Pedir ao Caldeirão?
Ah, ótimo. Já estou ficando maluca.Olho ao redor e o quarto é exatamente como eu lembrava, digno de um conto de fantasia.
As paredes são rochosas, esculpidas diretamente na pedra da montanha. No alto, uma janela arqueada está aberta, permitindo que o ar gelado entre. Lá fora, posso ver o campo abaixo, onde o vermelho do sangue tinge a terra. Monstros decoram as paredes, como se estivem saindo dela, com cenas de batalhas e criaturas míticas que parecem tomar vida própria nas dobras de cada bifurcação. Há um grande espelho oval em um dos cantos, envolto em raízes que se enroscam, como se fossem tentáculos segurando-o em posição. E no centro do quarto, uma enorme cama de dossel com lençóis de ébano, onde o peso das memórias torna o ar mais denso e opressivo.
Rhysand estava aqui, será que ela... será que eu...?
Balanço a cabeça, tentando afastar o pensamento. Não posso acreditar que ela o abusou novamente. Eu não suportaria isso.
Caminho até o espelho e arregalo os olhos ao ver minha própria imagem.
Agora sim, estou parecendo ela.
Rodeada por sangue, com essa expressão fria que parece não me abandonar. É estranho, eu sempre imaginei Amarantha mais velha. Mas essa face... é como se tivesse na faixa dos vinte e cinco anos, exatamente como a antiga eu.
Não sei quantos anos tenho agora. Acho que nem nos livros é mencionada a idade dela. Mas acredito que seja bastante por volta de 400/500. Mesmo sendo jovem, cada linha de expressão que sinto no meu rosto carrega o peso da impiedade.
Minhas mãos percorrem meu corpo, e eu tiro a alça da camisola dos ombros, deixando-a cair no chão, ficando nua diante do espelho.
Que estranho.
Isso parece errado.Mas é um corpo bonito, diferente do meu antigo. Esguio, com curvas definidas e pele alva, quase translúcida. Os ombros são delicados, os seios firmes e a cintura fina, com quadris que se curvam suavemente para baixo. É o tipo de corpo que se move com graça e imponência, cada linha feita para seduzir e intimidar.
Minha cabeça se volta para os lados em busca de um banheiro, e então vejo uma porta afastada no canto do quarto. Entro nela.
O banheiro é grande, de paredes de pedra esculpida, com uma banheira de ferro fundido no centro. O ambiente é austero, mas com um toque de luxo sombrio. Pequenas prateleiras nas paredes seguram barras de sabão em tons de âmbar e verde, e há uma toalha de tecido grosso dobrada ao lado da banheira.
Aproximo-me da banheira e percebo que está cheia.
Como?
Passo a mão pela superfície da água e sinto que está quente.
Ergo os pés e me sento na borda da banheira, afundando meu corpo lentamente no único conforto que encontrei nesta noite.
A água começa a se tingir de vermelho conforme me esfrego com uma bucha que encontro próxima. Esfrego minha pele com força, como se quisesse tirar mais do que apenas o sangue, como se quisesse arrancar a camada que ainda me lembra de quem sou agora.
Quando a água está completamente suja, procuro algo que pareça um ralo e o encontro. A água se esvai, e ligo novamente uma torneira que está acima da minha cabeça. Deixo que a água caia no meu rosto, fechando os olhos enquanto sinto o calor relaxar meus músculos tensos.
Assim que termino, percebo que não sei onde ficam as roupas. Meu corpo protesta em cansaço, e a cama à minha frente parece sedutora o suficiente para me jogar sobre ela.
Deve ser o cansaço que está se apoderando de mim, mas... essa cama é incrivelmente confortável. Diria que estou deitada sobre nuvens, se eu não estivesse, literalmente, no inferno.
Deslizo para baixo das cobertas, puxando-as sobre mim para esconder meu corpo nu do frio e de qualquer pessoa que possa entrar aqui. Espero que ninguém entre.
Minha visão começa a ficar turva. O sono está me vencendo. Quando eu acordar, espero que tudo isso tenha sido apenas um sonho.
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.Oioi estrelinhas, pequenos detalhes nesse momento precisam ser descritos por isso acho importante. Afinal como seria a sensação de reencarnar e já saber tudo a sua volta ?
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xoxo💋
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Corte de Sombras e Lembranças | Amarantha
Fantasía𝘐𝘮𝘢𝘨𝘪𝘯𝘢 𝘢𝘤𝘰𝘳𝘥𝘢𝘳 𝘦𝘮 𝘴𝘦𝘶 𝘭𝘪𝘷𝘳𝘰 𝘧𝘢𝘷𝘰𝘳𝘪𝘵𝘰, 𝘮𝘢𝘴 𝘦𝘮 𝘷𝘦𝘻 𝘥𝘢 𝘩𝘦𝘳𝘰í𝘯𝘢, 𝘷𝘰𝘤ê 𝘴𝘦 𝘵𝘰𝘳𝘯𝘢 𝘢 𝘷𝘪𝘭ã 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘵𝘦𝘮𝘪𝘥𝘢 𝘥𝘦 𝘵𝘰𝘥𝘢𝘴. 𝘈𝘨𝘰𝘳𝘢, 𝘢𝘰 𝘢𝘣𝘳𝘪𝘳 𝘰𝘴 𝘰𝘭𝘩𝘰𝘴, 𝘦𝘴𝘵𝘰𝘶 𝘥𝘰𝘪𝘴...