Capítulo 18: Poder, Memória e Morte

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꧁༒꧂

Já se passou uma semana, e devo admitir: não fui exatamente a Amarantha que todos esperavam.

Eu sei, eu sei. Pode me julgar, mas, em minha defesa, eu precisava de tempo para processar essa situação. E, mais importante ainda, eu precisava fugir dos meus deveres como ela.

Vocês acham que é fácil simplesmente dar uma ordem de tortura ou conviver pacificamente com o Attor?

Ele passou a semana inteira me seguindo como uma sombra, sempre à espreita. Toda vez que ele se aproximava, eu inventava uma desculpa diferente para me livrar dele. Não era necessário que ele dissesse nada; o olhar desconfiado que ele me lançava já dizia tudo. Ele sabia que algo estava errado.

Enquanto isso, minha mente fervilhava, tentando encontrar uma maneira de lidar com tudo isso. Eu não posso simplesmente agir como se fosse uma completa ignorante em relação aos eventos que aconteceram nos últimos anos. Como uma Grã-Rainha, ardilosa e trapaceira poderia se dar ao luxo de fazer perguntas burras?

"O que eu faço durante o dia?"

"Qual é a minha rotina?"

"Quem está ordenando o meu exército?"

"Quais são os meus poderes?"

Não dá, não dá. Isso seria extremamente suspeito.

Por isso meus dias têm sido silenciosos, evitando confrontos e tentando manter a fachada. A pressão de não saber exatamente o que fazer, como agir, ou até mesmo como sobreviver a essa nova realidade é esmagadora.

Cada olhar, cada gesto parece ser uma armadilha pronta para me expor.

Mas, mesmo assim, eu continuo. Fuga e evasão são tudo o que tenho por enquanto.

Ainda estou tentando entender como alguém pode suportar o peso de ser Amarantha, mas, por agora, vou precisar aprender. Rápido.

Mas essa semana não foi completamente inútil. Passei as madrugadas vagando pelo castelo, tentando me familiarizar com o que agora deveria ser meu lar.

O castelo, para minha surpresa, não está tão cheio quanto eu esperava. Vejo alguns feéricos de vez em quando - guardas em suas patrulhas silenciosas, criados indo de um lado para o outro, sempre apressados. Mas... é só isso.

Não vejo súditos, não ouço os murmúrios das cortes que deveriam estar a meus pés.

Mesmo que eu me esconda a maior parte do tempo, evitando qualquer interação desnecessária, não tem ninguém.

Nem mesmo os monstros que li tanto sobre se mostram. O castelo parece vazio, como se estivesse aguardando algo.

Será que está acontecendo alguma coisa? Seria esse o motivo pelo qual o Attor está tão desesperado para falar comigo?

Eu preciso descobrir o que está acontecendo - e rápido - antes que o Attor ou qualquer outra criatura resolva que eu já não sirvo aos seus propósitos.

O castelo em si é uma monstruosidade de arquitetura medieval, todo construído em pedra rochosa. As paredes são ásperas ao toque, com musgo se infiltrando nas frestas, e o ar é sempre úmido, carregado de uma frieza que nunca me abandona.

Mas o que mais chama atenção são as cores. Vermelho por toda parte. Como se sangue tivesse sido incorporado na decoração. Tapetes vermelhos que cobrem os corredores, grossos e luxuosos, abafando meus passos. Cortinas pesadas que pendem dos tetos altos, em um tom de carmesim que parece quase pulsar com vida própria.

Corte de Sombras e Lembranças | AmaranthaOnde histórias criam vida. Descubra agora