Capítulo 21: Criatura Imunda

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Minha mão se move involuntariamente, como se algo dentro de mim estivesse agindo por conta própria. A magia flui pelas minhas veias e se manifesta com força, agarrando Rhysand. É como se eu o estivesse espreitando, comprimindo-o no ar, seus músculos se retesando contra minha vontade.

- Por que está se metendo com o meu pequeno... - olho para a criança, que agora está paralisada, o terror em seu rosto se dissolvendo lentamente - ...ratinho?

A voz de Rhysand sai espremida, um sussurro entrecortado, enquanto ele luta para respirar.

- Queria acabar com o seu tédio, majestade. - Ele mal consegue articular as palavras, o sarcasmo ainda presente, mesmo que mais fraco.

- Não, você queria - respondo com firmeza, avançando em sua direção. A cada passo que dou, vejo o rosto dele se avermelhar, a pressão aumentando em seu pescoço, sua pele pálida ficando ainda mais tensa. O que me faz lembrar que ele deveria ter a pele bronzeada, mas por ficar quase cinquenta anos sob a montanha entendo o por que deve estar tão pálido.

Rhysand é uma sombra do que ele deveria ser, a luz que eu sempre imaginei parece apagada, sua presença tão pesada quanto a escuridão ao nosso redor.

Não posso culpá-lo.

- Humanos sempre serão humanos - murmuro com um tom amargo, minha mente refletindo sobre tudo que aconteceu. - O rancor e o ódio crescem tanto dentro de uma criança que podem criar um monstro, Rhysand.- Me aproximo da criança que choraminga, o corpo pequeno tremendo. Ela cobre a boca com a mão, o som abafado de seu desespero me atinge como uma faca.

- Criatura imunda - digo, ríspida, sem reconhecer a crueldade na minha própria voz. A criança se encolhe, os olhos arregalados de pavor.

Ok, eu realmente sou assustadora.

Reparo na criança com mais atenção. É um menino, Ele tem cabelos escuros,a franja um pouco longa demais cobre parte do seu rosto, dificultando ainda mais a visão dos seus olhos. Sua face estava manchada por sangue seco, de uma ferida feita com garras, Attor obviamente.

Desprezível.

Suas roupas são um amontoado de trapos, mal costurados uns nos outros. Uma camisa que um dia deve ter sido branca está encardida, rasgada nos ombros e nos cotovelos, revelando a pele magra e suja por baixo.

A calça está desgastada e, em alguns lugares, remendada com pedaços de tecidos de cores diferentes, mas o tecido em si é tão fino que parece prestes a se desfazer com o menor movimento. Os pés estão descalços, sujos e com pequenos cortes, marcas da caminhada por lugares, que não eram apropriados.

Ele é uma visão de miséria, uma pequena alma perdida em um mundo que não o quer. E ainda assim, há uma faísca de vida ali, algo que o mantém lúcido.

É doloroso pensar que isso acontece por minha culpa.

Olhar essa criança assim só me faz lembrar do meu irmão, Max. Ele tinha cabelos loiros escuros e olhos azuis que pareciam roubar toda a luz para si.

Eu, por outro lado, não herdei sua beleza. Eu tinha apenas olhos castanhos e cabelos da mesma cor, que faziam parte da antiga eu, então sim, é como se ele tivesse roubado toda a beleza que a família poderia oferecer. Já que a mamãe tem cabelo castanho e olhos azuis, e o papai cabelo loiro e olhos marrons. Ele pegou o melhor de cada um deles.

Esse pensamento me angustia. Tanto pela lembrança dolorosa quanto pela criança ferida diante de mim, essa pequena criatura que não deveria estar aqui.

Eu sinto tanto...

- Qual o seu nome, humano? - Minha voz sai mais suave do que eu esperava.

A criança me olha hesitante, quase como se não tivesse certeza de que deveria responder, mas então balbucia:

-Eamon... meu nome é Eamon.

- Ea..mon - sussurro o nome, testando a sonoridade em minha boca.

Minha unha, afiada como uma garra, desliza pela mecha de cabelo que cai sobre seus olhos, revelando um olhar castanho, assustado e indefeso. Tão parecidos com os meus.

- Vamos lá - digo, erguendo-me lentamente.

Não posso simplesmente pegá-lo no colo, por mais que essa seja a minha vontade. Então, seguro a barra de sua camisa, guiando-o com firmeza, mas sem agressividade.

Attor bufa uma risada áspera, e meu olhar se volta para ele, carregado de desprezo. Ele ousou machucar essa criança, essa pequena criatura que não deveria estar sofrendo. E ele está rindo ?

- Você se diverte com tão pouco, Attor - digo friamente.

Ele apenas me encara, seu sorriso grotesco ainda presente, mas não ousa responder.

Rhysand me observa em silêncio, seus olhos escuros brilhando com algo que não consigo decifrar. Desconfiança? Curiosidade? Desprezo?

Não importa. Isso acaba aqui.

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Oi, Constelação.
Obrigada por ler mais um capítulo!

Vou fazer um desafio com vocês, caso esse capítulo tenha 50 comentários, postarei outro combo de três capítulos. ⚠️

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-Com amor, Autora.

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