Capítulo 30: Banquete

575 97 28
                                    

꧁༒꧂

Lythia caminha ao meu lado, guiando-me pelo labirinto de corredores que compõem o palácio. O silêncio absoluto do meu quarto desaparece assim que cruzo o limiar, substituído por murmúrios. Vozes abafadas, risos distantes, o som sutil de passos ressoando nas pedras frias. Uma cacofonia que se intensifica à medida que avançamos. Sinto o peso do palácio me cercando, uma presença viva, respirando sob as paredes de pedra.

Fico imaginando se há algum tipo de magia que bloqueia esses sons. Algo que decide o que passa e o que fica retido. Mas, se tal magia existe, então o grito de Eamon... será que foi ouvido? Será que alguém soube da sua falsa morte?

Eu torço para que sim.

A grande porta de entrada se aproxima, uma estrutura gigantesca, quase alcançando o teto. A sacerdotisa ao meu lado se adianta, pronta para abrir a porta, mas eu a chamo antes que seus dedos toquem a rocha esculpida.

- Algo errado, majestade? - Sua voz é baixa, quase submissa.

- Eu abro. - A confiança que sai da minha boca não reflete o tamborilar desenfreado do meu coração.

Engulo em seco, sentindo o peso da expectativa. Levanto minha mão direita.

Toda vez que usei minha magia, foi em momentos de perigo. Esse, de certa forma, não é diferente. A magia precisa fluir, precisa obedecer.

Me concentro na porta diante de mim, nas pedras que a compõem, nas moléculas que a sustentam. Cada grão de poeira, cada partícula de rocha responde à minha vontade.

"Abra", eu comando mentalmente.

Para minha surpresa, as duas portas se abrem com um estrondo ensurdecedor, batendo nas paredes com força suficiente para ecoar pelo salão.

Isso foi forte.

Meu sorriso é pequeno, mas inevitável. Baixo a mão, o calor da magia ainda pulsando sob minha pele.

O murmúrio que preenchia o salão se extingue num instante. O som das cadeiras sendo arrastadas contra o chão toma conta, cada feérico levantando-se de seus lugares em reverência.

Eu sinto os olhos deles, todos, as cabeças inclinadas ao chão em respeito, mas presentes, avaliando. Lythia se inclina sutilmente ao meu lado, mas eu a ignoro e volto minha atenção para o salão à minha frente.

Sete mesas com no mínimo quarenta cadeiras, talvez mais, se estendem pelo salão. Cada uma delas abarrotada de corpos, de feéricos... até mesmo monstros que ainda não pude ver.

Tantos olhos, tantas presenças. O peso da responsabilidade cai sobre mim como uma marreta, esmagando meu peito. Um erro aqui... e tudo desmorona.

Respiro fundo e ergo o queixo, deixando que o silêncio recupere o espaço que antes fora preenchido por murmúrios. O som dos meus passos, ecoando pelo chão de pedra, é a única coisa que preenche o vasto salão.

Estou cercada de inimigos, mas por agora, eles são meus súditos.

Que assim permaneça.

Observo o trono atrás de mim, reluzente e ameaçador. Se vou me juntar a eles na refeição, não há sentido em sentar ali agora.

Corte de Sombras e Lembranças | AmaranthaOnde histórias criam vida. Descubra agora