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Mas seus olhos fixos em mim, eu apenas me levanto e viro para trancar a porta da escola sem nem olhar na sua cara.

Sinto seus olhos queimando em minhas costas. E ele se aproxima fazendo meu corpo estremecer.

- Eu fui te buscar pra te trazer pra cá e tu não tava lá - a voz de Kyan soou suave atrás de mim, mas eu o ignorei. - Qual foi, Nathalia?

Me virei para ele com um olhar irritado, e percebi que Davi não estava mais em seus braços.

- Não fala comigo, Kyan! Não quero ver sua cara hoje - disse, com firmeza, olhando nos seus olhos.

Quando comecei a me afastar, ele me segurou pelo ombro.

- O que foi? Eu fiz alguma coisa errada? - Ele parecia genuinamente confuso.

- Só fez eu me sentir uma puta - respondi, séria. - Seu problema é a lábia. Você engana com palavras e depois desaparece. Eu já sabia que era assim, mas fui confirmar.

- Eu não enganei ninguém, Nathalia! - Ele se aproximou, tentando explicar. - Nunca disse que você era uma puta. É que eu nunca levei ninguém pra minha casa antes...

- Que ótimo! Então devo me sentir especial por ser a primeira? - debochei, irritada. - Idiota!

- Por que eu te fiz sentir assim? Me diz. Eu preciso entender o que está acontecendo - insistiu, segurando meu rosto para que eu o olhasse.

- Você dormiu comigo e, quando acordei, você não estava mais. Isso é coisa que se faz com piranha, Kyan!

- Não era minha intenção causar isso, é que eu... - Ele passou a mão no rosto, visivelmente nervoso. - Eu não sabia o que fazer. Pela primeira vez, fiquei sem saber se deveria ficar ou ir embora. Nunca levei ninguém pra minha casa, nunca dormi com ninguém antes.

- Está me dizendo que nunca dormiu com mulher? Conta outra - disse, me soltando dele. - Kyan, não quero ver você agora. Vai embora e leva o Davi.

Ele passou a mão nos cabelos, olhando para mim com confusão. Eu virei as costas e fui em direção à entrada. Precisava descansar e planejava chamar um Uber.

- Nathalia? - Uma voz desconhecida me chamou, e eu olhei. - Você é Nathalia?

- Sim, por quê?

- Você está proibida de sair do morro - respondeu o homem.

Eu dei uma risada amarga.

- Vai se ferrar - disse, tentando me afastar dele, mas o homem segurou meu braço. - Me solta!

- Ordem do chefe - ele afirmou, e, antes que eu pudesse reagir, uma moto acelerou até nós.

- Quero que você e seu chefe tome no cu - gritei, olhando para Kyan.

- A professora está com a língua afiada hoje - ele comentou, parando a moto ao meu lado e fazendo com que o homem me soltasse. - Sobe aí, vamos trocar uma ideia.

- Trocar ideia? Estou cansada e com fome, não quero falar com você agora! - respondi, irritada.

- É rápido - ele insistiu, e seu olhar de cachorrinho abandonado me fez sentir um pouco de compaixão.

Com um suspiro, subi na moto com a pior cara possível. Kyan acelerou e parou ao lado de um carrinho de lanche. O homem se aproximou e entregou uma sacola para Kyan, que rapidamente voltou a acelerar.

Kyan parou a moto em frente à sua casa. Eu desci, ainda emburrada, e fiquei parada, esperando ele se mexer.

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