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Nathalia

O cheiro de fumaça parecia grudado na minha pele, e o calor das labaredas estava impresso nos meus pensamentos, mas ali, de frente para Kyan, era um fogo completamente diferente que me consumia.

Ele estava parado, me olhando como se esperasse uma reação, um sinal de que eu estava no controle de tudo aquilo, mas eu não estava. Não com ele.

Senti meu coração acelerar, o espaço entre nós parecia pequeno demais para tanto ódio e desejo misturados.

Porque quando ele me olhava daquele jeito, todo o controle que eu lutava para manter desmoronava.

-Você fez isso por mim?- minha voz saiu baixa, quase um sussurro, enquanto minha mente tentava buscar respostas para tudo que ele representava.

A vingança, o caos, a atração.

Ele não respondeu de imediato, apenas se aproximou devagar, como se cada passo fosse uma ameaça e uma promessa ao mesmo tempo.

Eu senti meu corpo enrijecer, mas também queria ceder. Não era racional, nada disso fazia sentido.

Quando ele chegou perto o suficiente, a tensão entre nós ficou insuportável. Eu podia sentir o calor do corpo dele, como se ainda estivesse envolta pelas chamas do restaurante.

-Não fiz isso por você, Nathalia- ele murmurou, sua voz grave reverberando dentro de mim. -Mas eu faria de novo, sem hesitar.

O ar ao redor parecia denso, e por um segundo, esqueci de respirar. Ele ergueu a mão, os dedos roçando de leve a minha pele, como se me testasse.

E eu sabia que, no fundo, o que estava acontecendo entre nós era muito mais perigoso do que qualquer incêndio que causamos juntos.

...

Chegamos ao morro com o frio da madrugada, com as ruas vazias e o silêncio pesado, apenas interrompido ocasionalmente pelo som distante de música e vozes ecoando de algum canto mais movimentado.

Kyan desacelerou a moto e a guiou por entre os becos, logo subiu o morro acelerando até que finalmente paramos em frente à sua casa.

Desci da moto com uma sensação de exaustão que ia muito além do físico. Kyan me observava de perto, seus olhos penetrantes como se tentasse decifrar cada pensamento que passava pela minha mente. Ele tirou o capacete e o deixou sobre o tanque da moto, caminhando em direção à porta de sua casa.

-Entra- ele disse, sua voz baixa, mas firme. Não era um convite; era uma decisão.

Eu pensei por um momento, olhando ao redor, como se procurasse um sinal de que algo iria mudar. Mas tudo estava quieto, como se o mundo ao nosso redor tivesse parado. Então, segui seus passos.

Entrei na sua casa, e relembrei dos nossos momentos aqui dentro. Respiro fundo enquanto ele se senta no sofá.

-E agora?- perguntei, quebrando o silêncio que havia se estendido por tempo demais.

Kyan passou a mão pelos cabelos e suspirou profundamente, seu olhar fixo em algum ponto indefinido da sala.

-eu não sei,-ele começou, sua voz mais suave do que o habitual, quase vulnerável. -Você fez o que queria. O que vai ser daqui pra frente depende de você.

Me sentei na beirada do sofá, ainda sem coragem de me aproximar mais.

As palavras dele ecoavam na minha cabeça. O que eu queria? Essa era a pergunta que eu evitava há tanto tempo. Eu tinha buscado vingança, achando que ela traria algum tipo de alívio, mas agora, sentia um vazio ainda maior.

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