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Na manhã seguinte, acordei com um gosto amargo na boca e o corpo ainda pesado. Kyan já havia saído para resolver algo no morro, mas prometeu que voltaria logo para me levar ao médico. Eu tentava não pensar muito nisso, mas a náusea insistia em voltar.

Valéria bateu na porta do quarto, entrando devagar.

– Filha, eu trouxe um chá pra você, mas a gente precisa conversar... – ela disse, com um olhar mais sério do que o habitual.

– Conversar sobre o quê? – perguntei, tentando me sentar na cama.

Ela hesitou por um segundo, como se estivesse pensando em como falar. Colocou a xícara na mesinha ao lado da cama e se sentou na beirada, me olhando com aquele olhar maternal, preocupado.

– Você já pensou que... talvez... esteja grávida? – ela soltou de repente, e o choque me atingiu como um soco no estômago.- não fica nervosa por causa disso, mas nunca se sabe...

Eu fiquei em silêncio, o coração acelerando. As palavras dela rodavam na minha cabeça, mas eu não sabia como reagir. Nunca tinha passado pela minha cabeça essa possibilidade. Grávida? Eu? De Kyan?

– O quê? Não... – comecei a falar, mas a incerteza tomou conta de mim. – Não pode ser, Valéria... eu... não é isso.

Ela suspirou, percebendo a confusão no meu rosto.

– Filha, esses sintomas... enjoos, febre, tontura... Já faz quanto tempo que você não menstrua?

Fiquei calada por alguns segundos, tentando me lembrar. De repente, percebi que não fazia sentido. Minha menstruação realmente estava atrasada, mas eu nem tinha dado atenção. Com todo o caos do incêndio, a vingança contra Felipe e tudo o que estava acontecendo, isso tinha passado despercebido.

– Eu... acho que tá atrasada, mas... – minha voz foi diminuindo. A ficha começou a cair.

Valéria me olhou com um misto de compaixão e compreensão. Sabia do tipo de vida que ele levava. Mas naquele momento, ela só parecia preocupada comigo.

– Olha, não vamos tirar conclusões precipitadas. Eu comprei um teste de farmácia, tá na sacola que o Kyan trouxe ontem. Faz o teste, só pra tirar a dúvida.

Minha cabeça girava com a possibilidade. Grávida? Logo agora? Eu não sabia o que pensar. Peguei o teste que Valéria me entregou, e, sem dizer nada, fui ao banheiro. Minhas mãos tremiam enquanto lia as instruções, tentando manter a calma. O tempo de espera parecia interminável.

Quando finalmente olhei para o resultado, meu coração parou por um segundo.

Fiquei sentada no vaso esperando o resultado...

Positivo.

Eu fiquei ali, em pé no banheiro, encarando aquela pequena linha rosa. Não sabia se chorava, gritava ou simplesmente desmoronava. As palavras de Valéria ecoavam na minha cabeça, mas agora nada fazia sentido. Eu estava grávida. Do Kyan.

A cabeça girava de novo, mas dessa vez não era pela tontura. Era pelo medo. O que Kyan diria? Como ele reagiria? E, mais importante, o que isso significava para nós?

Saí do banheiro em silêncio, com o teste ainda na mão. Valéria estava me esperando, seu olhar cheio de compreensão, como se já soubesse o resultado antes de eu dizer qualquer coisa.

– É positivo, não é? – ela perguntou suavemente.

Eu só consegui balançar a cabeça em confirmação, sem conseguir falar. Ela me puxou para um abraço, e foi ali, nos braços dela, que finalmente as lágrimas começaram a cair. Eu estava apavorada, sem ideia de como lidar com isso.

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