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Estava sentada no sofá, os pés encolhidos contra o peito, era domingo de manhã, e a TV fazia seu trabalho habitual de preencher o vazio com sons que eu fingia não ouvir.

Mas hoje era diferente. Eu sabia o que viria. As imagens do incêndio no Maison d'Étoiles começaram a piscar na tela, e meu peito apertou na mesma hora.

Meu coração acelerou como se quisesse sair do corpo. Aquilo que parecia tão distante, tão calculado, agora estava sendo mostrado ao mundo, e eu não conseguia escapar.

"O restaurante de luxo Maison d'Étoiles, palco de eventos da elite carioca, foi completamente destruído por um incêndio na noite passada. A polícia ainda investiga a causa, mas há fortes indícios de que foi um ataque premeditado..."

A voz do repórter parecia mais alta do que deveria, martelando na minha cabeça.

A cada palavra, eu sentia o ar ficando mais rarefeito. Meu peito subia e descia rápido, e eu tentei respirar, mas era como se o ar simplesmente não entrasse.

Minha visão começou a embaçar, como se o fogo que estava no restaurante estivesse agora ao meu redor.

"Testemunhas relataram ver as chamas se espalhando rapidamente, deixando pouco tempo para a evacuação dos clientes."


Meu coração batia tão rápido que comecei a tremer, e a sala parecia cada vez menor, apertada.

Eu estava sufocando.

Minhas mãos começaram a suar, e eu nem conseguia mais me concentrar na TV.

A respiração ficou pesada, e uma sensação de desespero tomou conta de mim. Meu corpo tremia. Eu estava perdendo o controle.

Foi nesse momento que ouvi a porta se abrir, e Kyan entrou. Ele parecia tranquilo, como sempre, mas assim que me viu, seu olhar mudou.

Ele entendeu na mesma hora que algo estava errado.

-Nathalia?-Ele veio rápido até mim, agachando ao meu lado no sofá. -Respira, calma.

Eu tentei falar, mas nada saiu.

O ar não vinha, e as batidas do meu coração pareciam ecoar na minha cabeça. Kyan pegou minhas mãos, e seu toque me fez sentir um pouco ancorada à realidade, mas não era o suficiente.

Eu estava à beira de desmoronar.

-Olha pra mim- ele disse com a voz firme, mas suave. -Respira, Nathalia. Agora. Devagar.- Ele puxou o ar profundamente e me olhou, esperando que eu fizesse o mesmo.

Tentei imitar, mas meu corpo não obedecia. Tudo ainda parecia girar. Mas ele não soltou minhas mãos, e aquela firmeza, aquela presença, era a única coisa que me mantinha ali.

-Isso, mais uma vez, com calma.- A voz dele era constante, como uma âncora no meio do caos. Aos poucos, comecei a recuperar o controle, tentando seguir o ritmo dele. O ar finalmente entrou, aos poucos, mesmo que de forma irregular.

Eu ainda estava tremendo, mas já conseguia respirar. A pressão no peito diminuía, e Kyan continuava ali, segurando minhas mãos como se não fosse me deixar cair.

Ele olhou para a TV, que ainda mostrava imagens do incêndio. Com um gesto rápido, ele pegou o controle e desligou a televisão, acabando com as chamas que me perseguiam.

-fizemos o que tinha que ser feito-ele disse, olhando direto nos meus olhos. -é difícil, mas acabou. Ninguém te viu. Ninguém vai te ligar a isso.

Eu sabia que ele tinha razão. A parte lógica da minha mente entendia. Mas o peso do que fizemos ainda estava ali, preso no meu peito.

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