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-como posso confiar em você?- paro no meio do caminho para ir ao computador- me prova que não foi você.

- Eu não matei seu pai, Nathalia. Por mais que eu quisesse, eu não o fiz. Eu estava no mesmo lugar que você no dia da morte dele. Era o aniversário da minha mãe, lembra? - Kyan diz, com a voz firme, enquanto se aproxima e segura meu rosto.

Me lembro claramente daquele dia, quando ele me buscou na entrada do morro para o aniversário de Valéria. Arregalo os olhos, e ele mantém o olhar firme no meu, tentando me trazer de volta à realidade.

- Se você não matou, então quem matou? - pergunto, ainda atordoada.

Kyan suspira profundamente.

- Termina de ler a carta -ele diz, indo até a mesa, enquanto eu continuo chorando.

Volto ao arquivo, com as mãos trêmulas, e leio:

"Preciso que se aproxime da filha de Ricardo Santos. Ela se chama Nathalia Santos, mora no condomínio em Copacabana, em frente à praia. Ela tem 17 anos e terminou seus estudos cedo. Precisamos acabar com aquele policial de merda! Agora que Felipe matou o policial, eles vão vir atrás de mim. Eu não tenho escolha. Foi isso que eu escolhi. Assim que me matarem, quero que você assuma o morro! Eu sei do seu segredo desde o começo: sua mãe trabalha na casa do Ricardo Santos cuidando da Nathalia há 14 anos. Preciso que você mate Felipe, mas de forma discreta e dolorosa. No próximo ano, ele vai estar na sua primeira missão como policial. Quero que espere 4 anos para colocar o plano em prática. Não erre. Se você está lendo esta carta, significa que eu morri. Então, é hora de agir!"

"Alex, 2020"

A frase "Agora que Felipe matou o policial" foi um golpe no estômago. Meus joelhos quase falharam, e tapei o rosto com as mãos, sem forças. O homem que esteve ao meu lado o tempo todo... era o mesmo que carregava o sangue do meu pai nas mãos.

- Eu te avisei para não confiar nele - Kyan se aproxima, gentilmente tirando minhas mãos do rosto e me puxando para um abraço. - Eu não sei por quê, mas está doendo mais te ver assim do que as palavras que você me disse.

Desabo nos braços dele, soluçando sem parar.

- Me desculpa -consigo murmurar em prantos, enquanto ele me abraça ainda mais forte.

...

Kyan perdeu o baile para ficar comigo e me consolar. Eu já estava mais calma, mas a confusão na minha mente continuava. Tudo que eu queria era ir embora e colocar meus pensamentos em ordem.

O traidor que esteve ao meu lado todo esse tempo... que matou meu pai. Só de pensar nas mentiras, na manipulação, o ódio crescia em mim.

- Eu queria matar aquele filho da puta - digo com firmeza, a raiva clara na minha voz.

Kyan me lança um olhar e dá um sorriso de canto.

- Você quer mesmo? -ele pergunta, cauteloso. - Não fala bobagem na hora da raiva.

- Eu estou falando sério! -rebato, encarando-o. - Por que ele matou meu pai? E como o antigo dono do morro sabia disso?

Kyan suspira e passa a mão no meu cabelo, tentando acalmar meus nervos.

- Quando você estiver mais calma, eu te conto tudo -ele diz suavemente.

- Pode ir ao baile, eu não quero te prender aqui -falo, séria, mas cansada.

- Você não está me prendendo a nada. Neste momento, eu quero estar com você. Não sei por que, mas sinto que preciso estar aqui agora -sua voz soa confusa, mas firme, e eu apenas respiro fundo, tentando processar tudo.

Agora, era eu quem estava vulnerável. A dor no peito, a saudade, e o vazio deixado pelas revelações machucavam mais do que qualquer coisa.

-você esqueceu seu celular em casa- kyan diz e eu sinto a falta novamente do meu celular- ele estava hastreado novamente. Então Felipe escutou tudo que a gente fez na noite anterior.

Arregalo meus olhos surpresa.

-mas... como- tento arrumar palavras mas meu rosto ardia de vergonha.

-eu quebrei seu celular- eu olho séria para ele sem acreditar- não quero ninguém escutando nossas intimidades.

-ou seu idiota- me levanto- eu vou ficar sem celular agora? Tá maluco?- fico séria e ele rir.

- eu salvei seu chip antes, mandei meu vapor providenciar outro, amanhã estará nas suas mãos todo figurado.

-independente kyan- me levando séria- segunda vez que você quebra meu celular.

-segunda vez que ele hastrea

- e segunda vez que voce quebra, não era para quebrar! A gente dava um jeito!- coloco minhas mãos no cabelo fazendo um coque- que ódio, só me envolvo com homem com problemas na cabeça. Sério isso meu deus?

-pode ficar tranquila que não vai ter o próximo- kyan diz sorrindo com aquela cara de quem não valia uma nota de 2 reais.

-que? Vai me matar?- cruzo os braços.

- não, eu vou ser o último- olho incrédula com a audácia- depois de mim não vai ter próximo, se por acaso tiver... eu mato ele e te mando a cabeça de presente- arregalo os olhos.

-tá maluco? Psicopata!- digo séria e ele rir me puxando pela cintura para sentar no seu colo.

-tu me viciou. Te odeio por isso- ele sussurra no meu ouvido.

DOISOnde histórias criam vida. Descubra agora