Capítulo 32.

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FERREIRA ~~~~

Eu estava acostumada a guerras, a perder e conquistar. Esse era o ciclo natural da vida no morro, onde qualquer sinal de fraqueza podia te custar tudo. Mas esse jogo era diferente. Não era sobre território, não era sobre poder. Eles tinham o Gabriel, e isso transformava a guerra em algo pessoal. Eles estavam tentando me atingir através de Pietra, e eu sabia que isso era a pior jogada que podiam ter feito.

Ver o medo nos olhos dela, a dor de imaginar que alguém que ela amava estava nas mãos dos inimigos, isso mexia comigo de um jeito que poucas coisas mexiam. Eu sabia que, se algo acontecesse com ele, ela nunca me perdoaria. E, pior ainda, eu nao me perdoaria.

Enquanto PL organizava os homens, eu me forcei a pensar friamente. Não podia me dar ao luxo de agir com o coração, embora fosse isso que eu quisesse fazer. Se dependesse de mim, já teria invadido o território rival e colocado todos no chão até encontrar Gabriel. Mas não era assim que funcionava. Um passo em falso e perderíamos tudo.

Ferreira: Pietra está segura? -- Perguntei a PL, mais uma vez, enquanto ele olhava os mapas e conversava com os outros pelo rádio.

PL: Sim, chefe. Ninguém sabe onde ela está. Estamos mantendo os olhos nela.

Eu assenti, mas isso não me acalmava. Saber que ela estava em segurança física não significava que ela estava bem. Ela estava despedaçada, e ver Pietra assim me atingia mais forte do que qualquer bala que eu já tinha tomado.

PL: Como vamos fazer a troca? -- PL perguntou, voltando sua atenção para o plano.

Ferreira: Vamos entregar o que eles querem. Pelo menos, é o que eles vão pensar. -- Respondi, olhando para o mapa a minha frente. -- Mas vamos estar dois passos à frente. Quero atiradores nos pontos estratégicos, uma equipe de infiltração preparada para qualquer surpresa e um caminho de retirada seguro, se algo der errado.

Ele assentiu, já acostumado com meu estilo. Planejar cada detalhe, prever cada movimento. Eu não podia me dar ao luxo de falhar.

Mas o problema real não era o plano. Era o tempo. Quanto mais demorávamos, mais perigoso ficava para Gabriel. E eu sabia que não tinha apenas os homens da facção rival para enfrentar. Eu também estava lutando contra o relógio e contra os medos de Pietra.

Ela me conhecia bem o suficiente para saber que eu não recuava. Mas, dessa vez, ela precisava acreditar que eu faria o impossível para trazer Gabriel de volta inteiro. Não por mim. Mas por ela.

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A noite chegou rápido demais. O encontro foi marcado em um ponto neutro, um lugar onde ninguém tinha controle total. Sabíamos que era uma armadilha, mas também sabíamos que tínhamos que correr o risco.

Meus homens estavam posicionados, o plano estava em ação, e PL ao meu lado coordenava tudo com precisão. Eu me aproximei do ponto de encontro, a mente afiada, sem deixar transparecer nada além de frieza. No nosso mundo, emoção era fraqueza. Mas, por dentro, eu sabia o qie estava em jogo.

Logo, eles apareceram. O líder da facção rival, aquele filho da puta que achava que podia brincar com a gente, estava de pé com  um sorriso de quem achava que tinha vencido. Ao lado dele, Gabriel. Machucado, mas vivo. Isso era tudo o que importava naquele momento.

Facção rival: Você veio, -- ele disse, a voz carregada de arrogância. -- Achei que ia mandar seus homens sujos para fazer o trabalho sujo.

Ferreira: Estou aqui, como prometido. Agora solta ele.

Ele riu,  balançando a cabeça.
Facção rival: Você acha que é tão simples assim? Me dá o que eu te pedi, e quem sabe ele sai vivo daqui.

Eu sorri, mas não de um jeito amigável.
Ferreira: Você acha que está no controle, mas você já perdeu. Você mexeu com a pessoa errada, e agora vai pagar por isso.

O que ele não sabia é que eu já tinha dado a ordem para os meus atiradores. Eles estavam prontos, mirando. Tudo que eu precisava fazer era dar o sinal.

Ferreira: Solta ele agora, -- eu disse, o sorriso desaparecendo. -- Ou isso acaba mal pra todo mundo aqui.

Ele hesitou, talvez percebendo que havia algo a mais acontecendo. Mas foi tarde demais. O tiro ecoou pelo lugar, e o líder caiu antes de perceber o que estava acontecendo. O caos se instaurou, mas eu e PL estávamos preparados. Meus homens se movimentaram rápido, Gabriel foi puxado para fora da linha de fogo, e os inimigos, um a um, foram derrubados.

Quando tudo terminou, Gabriel estava nos meus braços, assustado, mas vivo. Pietra estava segura, e o pesadelo, pelo menos por enquanto, tinha acabado.

Olhei para o corpo do líder caído no chão, e então para PL.
Ferreira: Esse era só o começo. Temos mais trabalho a fazer.

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O silêncio depois do confronto era quase ensurdecedor. Cada passo que eu dava de volta para casa me pesava mais. Não era o cansaço físico, era o peso das decisões. Gabriel estava a salvo, Pietra também, mas eu sabia que as coisas tinham mudado.

Quando chegamos em casa, Pietra correu até Gabriel, abraçando-o como se ele fosse desaparecer a qualquer momento. Eu fiquei um pouco atrás, observando, deixando que eles tivessem aquele momento. Mas, mesmo de longe, eu conseguia ver o olhar de Gabriel... Ele não me via mais do mesmo jeito. O medo, a violência, o sangue – tudo isso tinha mudado a forma como ele me enxergava.

Pietra olhou para mim, com um misto de gratidão e dor. Eu sabia que ela me amava, mas eu também sabia que o que eu tinha feito não era algo fácil de esquecer.

Quando ela se aproximou, eu tentei falar, mas as palavras ficaram presas na garganta.
Ferreira: Você tá bem? -- foi tudo o que consegui dizer.

Ela assentiu, mas não havia alívio no seu olhar.
Pietra: Eu tô, mas o Gabriel... Ele não vai esquecer isso, Ferreira. Eu também não.

Eu já esperava por isso, mas ouvir doía. Ferreira: Eu fiz o que tinha que fazer pra proteger vocês dois.

Pietra: Eu sei. Mas isso... isso não é vida pra gente. Eu não sei como vou lidar com isso daqui pra frente.

Antes que eu pudesse responder, Gabriel falou, a voz baixa, quase um sussurro.
Gabriel: Eu nunca pensei que ia passar por isso, Pietra. Eu confiei em você, confiei na Ferreira, mas agora... eu não sei o que pensar.

O coração apertou no meu peito. Eu sabia que Gabriel era importante pra ela, e por mais que eu quisesse proteger todo mundo, não podia apagar o que ele viu, o que ele passou.

Ferreira: Eu nunca quis te envolver nisso, Gabriel, -- eu disse, tentando encontrar as palavras certas. -- Mas esse é o meu mundo, e ele é cruel.

Ele me olhou, com os olhos ainda cheios de medo e confusão.
Gabriel: Eu sei que você fez o que precisava, Ferreira, mas eu não sou parte disso. Eu não sei como vou seguir em frente depois do que vi hoje.

Pietra se levantou, agora com lágrimas nos olhos.
Pietra: Eu não sei o que fazer, meu bem. Eu amo você, mas eu não quero mais ver as pessoas que eu amo nesse risco. Isso aqui... quase destruiu a gente.

Eu sabia que ela estava certa. E a verdade era que, por mais que eu tentasse manter Pietra longe do lado mais sombrio do morro, ela já estava envolvida até o pescoço. Agora, o Gabriel também. Eu podia ser forte o suficiente pra encarar tudo isso de frente, mas eles não mereciam esse fardo.

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Crise no relacionamento???
Espero que gostem, até o próximo 🥰🥰

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