Capítulo Sete

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Fiquei paralisada até o despertador tocar às 5:00 da manhã, horário em que devo levantar, comer e ir encontrar Matteo nos estábulos. Não sei dizer quanto tempo passei apenas com os olhos abertos no meio da escuridão, mas foi o suficiente para deixar uma vermelhidão sem fim na parte branca dos meus olhos.

O sonho perturbador ainda estava fresco na minha mente, e eu não conseguia afastar a sensação de que algo sombrio estava por vir. Sentei-me na cama, tentando acalmar a respiração, mas o pavor persistia. Olhei no espelho e vi as olheiras profundas sob meus olhos, reflexo de uma noite mal dormida. Eu mesma já não me reconhecia; nunca estive na posição de duvidar da minha beleza, mas pelo jeito, tem uma primeira vez para tudo.

Ainda me sentindo extremamente cansada, desci para o café da manhã. A casa estava silenciosa, e eu sabia que era cedo, mas todos já haviam se levantado e ido para seus trabalhos na fazenda. Maria e Higor estavam cuidando das ovelhas, meu pai e tio Marlon estavam cuidando do administrativo, financeiro e toda a parte burocrática para ajudar a recuperar o local. Lídia e minha tia Viviane cuidavam do gado e dos outros animais. Ainda não pude ver Lídia no meio dos bois e vacas, mas acredito 100% que não conseguiria diferenciá-la.

Preparei uma xícara de café e me servi de algumas torradas, comendo sozinha na mesa da cozinha. O silêncio era quase reconfortante, mas não conseguia afastar os pensamentos do sonho. Acabei deixando mais da metade das torradas e do café que peguei. Achei melhor começar de uma vez o dia para poder dormir pelo menos um pouco mais tarde.

Subi para trocar de roupa. Vesti um conjunto canelado azul que era muito confortável e prático para o trabalho nos estábulos e, em seguida, dirigi-me para lá. O ar fresco da manhã ajudou a clarear um pouco minha mente, mas a sensação de inquietação ainda estava presente.

Ao chegar aos estábulos, encontrei Matteo, que já estava trabalhando. Ele levantou o olhar quando me viu, seu olhar frio e misterioso.

Eu não disse nada, não sabia como iria reagir se Matteo me provocasse hoje. Estou uma bomba de nervosismo e ansiedade.

Matteo me observou por um momento antes de perguntar, sua voz baixa e controlada:

— Você está bem? — perguntou ele, a preocupação visível em seu rosto, mas sem qualquer calor em seu tom, o que me fez engolir em seco.

Hesitei antes de responder. Como mal o conheço, não acho que ele vá se incomodar, então não tem problema em falar sobre.

— Eu... tive um sonho estranho. Não consigo parar de pensar nisso... foi sobre a noite na fogueira.

Matteo continuou me observando, seu rosto inexpressivo, mas seus olhos mostravam que ele estava realmente prestando atenção. Ele não disse mais nada, apenas ficou próximo, observando de perto enquanto eu começava a escovar os cavalos.

Passei a manhã em silêncio, ainda pensando no que tinha acontecido. A presença de Matteo, mesmo sem palavras, era reconfortante de certa forma. Ele estava ali, atento a cada movimento meu, mas respeitando meu espaço.

Quando chegou a hora do almoço, fui para a cozinha. Higor, meu irmão, estava lá, preparando algo para comer. Ele olhou para mim sorrindo, mas logo em seguida franziu a testa ao ver meu estado.

— Helena, você está bem? — perguntou ele, a preocupação evidente em sua voz. Eu não queria falar sobre isso com ele, já tinha o preocupado o suficiente desaparecendo na floresta.

— Estou bem, só um pouco cansada — respondi, sorrindo falsamente e tentando soar convincente.

Matteo, que havia seguido para a cozinha para almoçar também, observou a interação com uma expressão de leve frustração. Ele se aproximou e, em voz baixa, perguntou:

Amor e Maldição - Um reconto inspirado na lenda do Corpo SecoOnde histórias criam vida. Descubra agora