Capítulo Nove - Matteo

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Já eram 6:30 da manhã e Helena ainda não havia aparecido nos estábulos. Ela não parecia ser do tipo que se atrasava, especialmente quando tínhamos combinado de nos encontrar cedo para que eu a ensinasse a montar, como havia lhe informado ontem. Algo parecia errado. Sabendo que não tinha ninguém em casa, decidi verificar se algo havia acontecido.

Subi as escadas em direção ao quarto de Helena, cada passo ecoando no corredor vazio. Quando cheguei à porta, bati levemente, esperando uma resposta. Em vez disso, ouvi gemidos e sussurros desesperados vindos do outro lado. Algo estava definitivamente errado.

Sem hesitar, abri a porta e entrei. A cena que encontrei me deixou alarmado. Helena estava se debatendo na cama, suando e murmurando palavras incompreensíveis. Aproximei-me rapidamente e segurei seus ombros, tentando acordá-la.

— Helena, acorde! — minha voz saiu fria e controlada, mas a preocupação estava começando a transparecer.

Ela demorou a responder, seus olhos piscando lentamente enquanto tentava focar em mim. Quando finalmente acordou, estava visivelmente assustada, o olhar perdido e a respiração ofegante.

— Matteo? — sua voz era fraca, quase um sussurro. — O que está acontecendo? O que você está fazendo aqui?

Eu mantive meu tom controlado, embora meu coração estivesse acelerado.

— Já são 6:30 da manhã. Você não apareceu nos estábulos, então vim verificar. Não havia ninguém em casa, e quando bati na porta, ouvi... você. — Eu a olhei nos olhos, tentando entender o que estava acontecendo. — O que aconteceu?

Ela se sentou lentamente na cabeceira da cama e eu a ajudei, esfregando as têmporas como se estivesse tentando afastar uma dor de cabeça.

— Eu... eu tive um sonho, ou talvez um pesadelo. — Ela parecia estar tentando organizar seus pensamentos. — Era tão real. Eu estava na floresta, seguindo minha versão do passado. E havia uma figura encapuzada... ela queria o diário.

Meu coração apertou ao ouvir isso. O diário. Ela realmente encontrou o diário. Eu precisava afastá-la disso antes que fosse tarde demais.

— Diário? Que diário?

Ela franziu o nariz e olhou para suas mãos, hesitando por um momento antes de suspirar e responder.

— Era um diário antigo que encontrei na floresta há alguns dias, quando fizemos a fogueira com o pessoal. — Ela fez uma pausa, como se estivesse revivendo o momento. — Depois que você foi embora, fui desafiada a entrar na floresta e encontrei o diário. Tinha marcas de dentes e sangue. — Ela estremeceu ao mencionar as marcas e o sangue. Ela me olhou, tentando avaliar minha reação.

— Eu sei que parece loucura, mas acho que tinha algo a ver com tudo isso. — ela disse quase como um sussurro, e achei que ela parecia outra pessoa pela falta de confiança que estava sentindo.

Fiquei em silêncio, processando suas palavras. Ver Helena naquela condição, tão vulnerável e assustada, mexeu comigo de uma forma que eu não esperava. Eu precisava manter a calma e afastá-la dessa situação.

— Helena, você precisa descansar. Esse diário... não é seguro. — Minha voz era firme, quase fria. — Mais tarde, vamos resolver isso. Mas agora, você precisa se afastar disso e descansar. Por hoje, eu cuido de sua parte nos estábulos.

Ela assentiu, parecendo exausta, e se deitou novamente. Enquanto me observava sentado ao seu lado, antes que eu pudesse me levantar, ela segurou minha mão por um momento. Isso me trouxe um longo arrepio. Quando havia sido a última vez que fui tocado assim? Um toque de gentileza que quebrou minhas barreiras por um instante. Eu senti uma onda de emoções enquanto a observava em sua cama, mas rapidamente recuperei minha compostura.

— Obrigada, Matteo. — Ela sussurrou antes de fechar os olhos novamente. — Fico feliz que tenha sido você... a me encontrar. — ela falou tão baixo que mal ouvi, e meu coração deu um pulo com essa revelação.

Eu me levantei, observando-a por um momento antes de sair do quarto.
Precisava encontrar uma maneira de afastá-la disso, precisava protegê-la.

Quando estava prestes a sair, ouvi sua voz novamente, fraca e hesitante.

— Matteo, você acredita em mim?

Eu não respondi imediatamente, mantendo meu olhar intenso e impassível. Eu sabia que não poderia revelar tudo agora, mas precisava ganhar tempo. Eu queria responder: "Sim, Helena, eu acredito e sempre acreditaria", mas eu não podia. Era tudo demais até para mim. Então, suspirei e olhei para a janela que ainda começava a clarear.

— Mais tarde, Helena. Descanse e resolveremos isso mais tarde.

Ao fechar a porta, me encostei contra a parede ao lado e fechei os olhos, respirando fundo. O ar parecia mais pesado, carregado com a tensão do que acabara de acontecer. Helena mal chegou e já sinto como se ela fosse minha. Eu conheço bem essa sensação, uma mistura de proteção e medo. Tudo está prestes a se repetir.

Enquanto estava ali, encostado na parede, flashes de memórias começaram a invadir minha mente. Lembranças de momentos passados, de decisões difíceis e de promessas feitas. A mesma sensação de urgência, a mesma necessidade de proteger. Mas também o mesmo medo de falhar. Eu não podia deixar isso acontecer de novo.

Abri os olhos e olhei para a porta fechada. Helena estava do outro lado, vulnerável e confiando em mim. Eu precisava ser forte, por ela e por mim. Respirei fundo mais uma vez, tentando acalmar meu coração acelerado.

— Não desta vez — murmurei para mim mesmo, determinado. Eu faria tudo o que fosse necessário para protegê-la, mesmo que isso significasse enfrentar meus próprios demônios.

Amor e Maldição - Um reconto inspirado na lenda do Corpo SecoOnde histórias criam vida. Descubra agora