Acordei com a luz suave do meio-dia filtrando pelas cortinas. Meus olhos se abriram lentamente, e senti meu estômago roncar de fome. Não tinha comido bem no dia anterior, e agora a necessidade de me alimentar era urgente.
Levantei-me da cama, ainda sentindo o peso da conversa com Matteo. Será que realmente tinha falado com ele mais cedo? Segurado sua mão? Seu olhar preocupado realmente ocorreu? Tudo parecia um borrão confuso em minha mente. Balancei a cabeça, tentando afastar a névoa de incerteza. No entanto, uma sensação de alívio me envolveu. Dormir após ver Matteo tinha trazido uma paz inesperada. Não imaginei que tê-lo por perto poderia me acalmar.
Descendo as escadas, segui o aroma tentador de comida fresca. Ao entrar na cozinha, encontrei minha prima Maria, Caio, Lucas e Ana já almoçando. A mesa estava posta com pratos de salada, arroz, legumes e uma jarra de suco.
— Bom dia, dorminhoca! — brincou Maria, com um sorriso caloroso. — Venha se juntar a nós.
Sorri de volta e me servi, sentando-me à mesa. Olhei ao redor, surpresa ao ver todos ali.
— O que vocês estão fazendo aqui? — perguntei, tentando esconder minha confusão. Era estranho que eles sempre estivessem por aqui.
Maria foi a primeira a responder, com um sorriso compreensivo. — Todos nós trabalhamos aqui, Helena. Mas nossos horários geralmente não coincidem, então acabamos não nos encontrando muito.
Lucas assentiu e eu fiquei boquiaberta. Eu sabia que Matteo trabalhava aqui, mas os outros? Realmente inesperado. — É raro termos a chance de almoçar juntos assim. Na verdade, marcamos de passear pela cidade hoje, mas decidimos almoçar antes.
Caio inclinou-se um pouco mais perto de mim com um sorriso amigável.
— Helena, você está com um brilho especial hoje — disse ele suavemente. — Dormiu bem?
Senti minhas bochechas corarem ligeiramente. Ontem eu estava parecendo um zumbi, mas hoje, mesmo dormindo poucas horas, me sinto ótima. — Obrigada, Caio. Dormi, sim. E você?
—Melhor agora que você está aqui — respondeu ele, com um sorriso gentil.
Nesse momento, Matteo entrou na cozinha, sua expressão fria ao ouvir a última frase de Caio. Ele lançou um olhar sério para Caio antes de se voltar para mim.
— Precisamos conversar — disse Matteo, sua voz firme e distante. Ele olhou para Caio como se quisesse quebrar sua mandíbula e eu estremeci. O que está acontecendo com ele?
Notei que ele estava falando especificamente comigo. Havia algo em seus olhos que me fez perceber a urgência da situação. Assenti discretamente, indicando que entendia.
Se ele tivesse realmente me encontrado de manhã, não quero ter que explicar para todos o que ocorreu.— Vocês podem esperar um pouco? — pedi, olhando para os amigos. — Preciso trocar de roupa e falar com Matteo. Logo desço para irmos à cidade.
Maria sorriu e acenou com a cabeça. — Claro, Helena. Vamos esperar por você.
Depois de terminarmos de comer, levantei-me e olhei para Matteo.— Matteo, podemos subir e conversar no meu quarto? — eu o olhei indicando que não queria falar sobre isso na frente de todos.
Matteo concordou com um aceno de cabeça, e juntos subimos as escadas em silêncio. Sentia meu coração acelerar, ansiosa pelo que estava por vir. Ao entrarmos no quarto, fechei a porta atrás de mim, pronta para finalmente entender o que estava acontecendo.
— O que você gostaria de falar? — perguntei hesitante e mordiscando meu lábio inferior.
— Não tenho certeza se realmente falei com você mais cedo ou se minha mente está me pregando peças.
Matteo ergueu uma sobrancelha em indagação. — Você não se lembra de mais cedo? — ele pareceu chateado e até um pouco... ofendido.
Balancei a cabeça um pouco confusa. — Tudo parece um borrão. Preciso saber o que realmente aconteceu.
Matteo suspirou, mantendo seu tom frio. — Eu te encontrei no seu quarto, parecendo ter um pesadelo. Você estava falando sobre ver a si mesma e mencionou algo sobre um diário.
Franzi a testa tentando me lembrar, mas só me lembrei de seu toque em meus ombros e do quanto ele foi cuidadoso me ajudando a me sentar. Me senti começando a corar. Fragmentos de memória começaram a surgir, mas ainda era difícil juntar todas as peças.— Eu... eu me lembro de sentir medo. Mas não consigo lembrar exatamente do que — admiti, me sentindo frustrada.
Matteo manteve a expressão impassível. — Está tudo bem, Helena. Vamos descobrir isso juntos. O importante é que você está segura agora. Vamos dar um passo de cada vez. Eu vou te ajudar.Respirei fundo, sentindo-me um pouco mais calma com a presença de Matteo, mesmo que ele fosse frio. Eu sabia que podia confiar nele, mesmo que minha mente estivesse pregando peças.
— Obrigada, Matteo. Eu realmente aprecio isso... fico feliz de você estar comigo — eu sorri gentilmente e ele pareceu congelar.
Alguns segundos depois, eu o vi respirando novamente e Matteo retribuiu com um leve aceno de cabeça, ainda mantendo sua postura reservada.
— Agora, vamos descer e encontrar os outros. Eles estão esperando por você para o passeio pela cidade — sugeriu Matteo.
— Você não vai? — perguntei um pouco desapontada e isso transbordou em minha voz.
Ele olhou para mim tentando adivinhar o que eu estava pensando e eu aceitei. Ele pareceu convencido e comentou: — Sim, eu irei... ficarei com você.
Sentindo-me um pouco mais preparada para enfrentar o dia e um pouco tonta com aquela confissão, juntos, nós descemos as escadas, prontos para enfrentar o que viesse a seguir.
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Amor e Maldição - Um reconto inspirado na lenda do Corpo Seco
Fantasy-vote e comente se gostar💋- O Corpo Seco é uma lenda do folclore brasileiro sobre um espírito amaldiçoado que, devido às suas maldades em vida, foi rejeitado pelo céu, pelo inferno e até pela própria terra. Condenado a vagar eternamente, ele assomb...