Capítulo Oito

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Eu vi que ninguém estava me olhando. Cheguei mais perto e podia sentir todos, mas ninguém me via ou me ouvia falar. Não sei se realmente esperava que alguém me visse; não fazia sentido ter duas de mim.

Eu balançava as mãos na frente de seus rostos, que estavam todos brincalhões ainda, mas ninguém me respondia. Olhei para todos e fiquei por um tempo apenas os observando, ouvindo Lucas me desafiar a entrar na floresta. Nesse momento, falei alto:

— EU NÃO VOU! Fique aqui, Helena dois, você não está permitida a isso! — Bati o pé e coloquei minhas mãos em volta da cintura, irritada por todos estarem me ignorando. Eu não sabia como fazer com que me notassem, então só fiquei lá bufando cada vez mais enquanto Lucas continuava a desafiar minha versão do passado.

Finalmente, minha outra versão cedeu e começou a entrar na floresta, a mesma onde vi aquela coisa, onde encontrei o diário com marcas de dentes e sangue, a floresta onde as sombras dançavam à luz do luar e os ventos sopravam impiedosamente sobre mim. O ar estava frio e úmido, e o som das folhas secas sendo pisadas ecoava ao meu redor.

— Pare! Eu a proíbo! — gritei, olhando para mim mesma e abrindo os braços para tentar impedir.

Eu não consegui impedir e ainda atravessaram meu corpo, ou aparentemente meu corpo fantasma? Não tenho ideia do que está acontecendo, mas não vou ficar esperando algo acontecer. Preciso me salvar! Tenho certeza de que é isso que está me atormentando.

Segui minha eu do passado dentro da floresta e fiquei com os olhos abertos e atenta a todos os locais. O cheiro de terra molhada e a escuridão crescente aumentavam minha ansiedade.

A sombra da figura encapuzada finalmente apareceu e minha coragem recuou apressadamente. Eu só queria correr para debaixo dos meus cobertores e me esconder até que tudo acabasse.

Aparentemente, minha versão antiga demorou a me notar. Ela pegou o diário do modo exato que me lembrava. Então, finalmente, a voz soou como um vento assombroso:

— É meu... me devolva.

Meu coração acelerou e eu vi a burra do passado tentando fugir ainda com o diário. Mas quem diria que passar por um trauma desse nível me deixaria sonsa? Querida era só soltar o diário.

Tropeçando em uma pedra, eu a vi ficar inconsciente. Suspirei fundo e tentei pegar o diário. Afinal, eu já estava aqui, não custava nada tentar, né?

— O que você está fazendo aqui? Esse não é seu lugar! Fique fora e não interfira! — a voz berrou e tive a impressão de que estava falando comigo. Tudo ficou esvoaçado e me vi voltando para meu quarto, abrindo os olhos rapidamente enquanto mãos fortes apertavam meus ombros e me sacudiam para que eu acordasse.

— Helena, responda, por favor! — disse Matteo de um jeito um pouco desesperado que nunca o ouvi falar. Será que morri? Por que Matteo estava no meu quarto? Ou pior, por que estava me tocando tão freneticamente?

Amor e Maldição - Um reconto inspirado na lenda do Corpo SecoOnde histórias criam vida. Descubra agora