Capítulo Treze

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O gosto do sorvete era bom, doce e com um toque frutado mais intenso do que o normal. A baunilha, por outro lado, estava doce demais, e o chantilly que Caio colocou por cima... era bem diferente do que eu costumava comer na cidade. Notei todos esses detalhes enquanto evitava olhar para a pessoa que estava ao meu outro lado, que vinha me observando mais do que o normal desde que chegamos. Sua presença me deixava desconfortável.

— O que acham de irmos acampar para ver o nascer do sol no pico? — sugeriu Ana, com uma animação que ninguém teria coragem de recusar.

— Eu nunca vi o amanhecer. Deve ser lindo! — Higor comentou, sorrindo para Maria, que logo concordou. Olhei para os dois e suspirei. Se eles se gostam, tudo bem... só queria que fossem diretos comigo.

— Vamos! Vocês têm barraca? — Caio perguntou, pousando a mão no meu ombro. Antes que eu pudesse olhar para a mão dele, percebi Matteo me encarando furioso. Meu Deus, o que há de errado com ele?

— Ah... não, nós não temos — murmurei, desviando o olhar para Caio.

— Bom, estamos com apenas três barracas. A minha quebrou no mês passado, e como já passa das seis, não tem mais nenhuma loja aberta... Será que devíamos deixar para outro dia? — Lucas perguntou, visivelmente decepcionado.

— Ah, não! Hoje vai ser perfeito, a gente dá um jeito! E como o Matteo não vai... — Caio respondeu rapidamente, quase como se estivesse esperando por essa oportunidade. Ergui uma sobrancelha ao ouvir isso. Não sabia se ficava aliviada ou frustrada, mas logo fui interrompida por uma voz grave ao meu lado.

— Eu vou. Levo minha barraca, mas vou dormir sozinho — disse Matteo, com um tom sério que me fez questionar como eles podiam ser amigos com ele sendo tão distante.

Caio franziu a testa, mas logo suavizou a expressão ao notar que eu observava.

— Ah, que bom... — respondeu, meio sem jeito, tentando aliviar o clima com um sorriso forçado.

— Certo, as meninas podem ficar comigo. Minha barraca é a maior — disse Maria, jogando o cabelo para trás com um ar de superioridade. — E os meninos... acho que Lucas, Higor e Caio podem dividir outra. A sua não é pequena, né, Caio? — completou, enquanto eu percebia que faltava uma barraca. Eu não era a melhor pessoa para dividir espaço; mal conseguia dormir esses dias. Acordava suando, tremendo e murmurando coisas incompreensíveis que ninguém deveria ouvir. Não queria falar sobre isso e nem gostava da ideia de estar tão perto da floresta, mas parecia que não tinha escolha.

— Eu posso ficar sozin... — Caio começou a falar, mas eu o interrompi rapidamente.

— Eu gostaria de uma barraca só para mim, se for possível! — As palavras saíram tão rápido que eu nem sabia se me entenderam. Cruzei os braços sob a mesa e apertei minhas coxas, tentando controlar o suor. — Não gosto de dividir espaço para dormir — completei, e não estava mentindo. Higor sabia disso, mas esse não era o único motivo pelo qual eu não queria companhia.

— Ah, que pena! — disse Ana, e eu quase pude sentir a decepção em sua voz. — Maria, você poderia emprestar sua barraca para a Helena? Você tem uma menor certo? acho que não haverá problema...

Me xinguei mentalmente e fechei os olhos, suspirando. Estava prestes a dizer que não precisava, mas, antes que pudesse falar, senti uma mão segurando a minha por debaixo da mesa. Olhei para baixo e vi que era Matteo. O mesmo Matteo que sempre dizia que eu só atrapalharia? Que me olhava com dureza? Não... Era o Matteo que me ajudou quando caí da prateleira, que me acalmou durante um pesadelo, que afofou uma almofada para eu me sentir melhor. Esse Matteo estava segurando minha mão, oferecendo uma segurança silenciosa, sabendo do meu segredo.

— Tudo bem, levo essa também! — disse Maria, sorrindo para mim. Eu me afastei de Matteo rapidamente, quase me odiando por isso. Sua mão áspera e quente tinha me aquecido de uma forma que ninguém mais fazia. Quando o soltei, senti o frio me invadir novamente. Não sei o que está acontecendo comigo, só sei que ele é o meu calor, e eu o quero cada vez mais perto.

Amor e Maldição - Um reconto inspirado na lenda do Corpo SecoOnde histórias criam vida. Descubra agora