Capítulo Vinte e Sete

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Os primeiros raios de sol entravam pela janela do meu quarto, e a luz dourada parecia querer me arrancar da cama. Mas eu já estava acordada há horas, rolando de um lado para o outro, incapaz de esquecer que hoje seria meu primeiro dia de aula de montaria com Matteo. Tudo que eu espero é não passar vergonha, só isso.

Desde o amanhecer no acampamento, quando o vi me observar daquela forma, com olhos que pareciam enxergar além de mim, não conseguia afastar a lembrança. Mesmo com o afastamento dele nos últimos dias, aquele momento permanecia gravado na minha mente. E agora, saber que passaríamos algum tempo juntos fazia meu coração acelerar, um pouco mais do que eu gostaria de admitir.

A luz do dia ainda estavam tímido quando cheguei ao estábulo, ajustando as mangas da minha blusa lilás justa para me proteger da brisa fresca da manhã. Minhas botas de combate ecoavam suaves no chão de terra batida enquanto meu cabelo, preso num rabo de cavalo alto, balançava atrás de mim. Eu estava nervosa, mas tentava esconder isso. Afinal, era só Matteo. Nós trabalhamos juntos todos os dias, isso vai dar certo.

Ouvi passos firmes antes de vê-lo, e quando ergui o olhar, ele já estava ali, encostado em uma das baias com aquele sorriso de canto que sempre parecia carregado de ironia.

— Então, é assim que se veste para uma aula de montaria? — provocou, os olhos percorrendo minha roup. — Achei que viria com aquelas roupas de filme de princesa, toda esvoaçante e delicada. Acho que superestimei você.

Eu cruzei os braços, tentando não deixar transparecer o calor repentino que senti no rosto. Ele acha que sou doida? Eu jamais vestiria isso para montar a cavalo.

— E você? Vai me ensinar a montar ou só vai me dar dicas de figurino? Porque, se for isso, tenho certeza que posso lhe ajudar muito mais. — Observo seus trajes casuais, moletom escuro, sempre. Ele deve ter uns 10 conjuntos do mesmo.

Matteo riu baixo, um som rouco e provocante, enquanto caminhava na minha direção com a tranquilidade de quem sabia exatamente como mexer com os outros.

— Calma, pequena cavaleira. Só estou tentando aliviar o clima. Prometo que não vou ser tão exigente... hoje.

Ele pegou as rédeas de um cavalo já selado e me entregou.

— Vamos começar devagar. A última coisa que quero é ter que te carregar de volta porque você caiu e torceu o pé.

Matteo deu um passo atrás, me observando enquanto eu segurava as rédeas com cuidado. O olhar avaliativo dele me deixava inquieta, mas decidi focar no cavalo à minha frente. Era um animal de pelagem castanha brilhante, com uma mancha branca na testa que parecia desenhar uma pequena estrela. Seus olhos eram grandes e calmos, mas havia algo na imponência de seu porte que me fazia hesitar.

— Esse é o Ares, você já cuidou dele. — Matteo disse, quebrando o silêncio.
— Ele é tranquilo, mas não gosta de insegurança. Então, tente parecer confiante, mesmo que esteja morrendo de medo.

Eu lancei um olhar na direção dele, sem esconder minha irritação.

— Obrigada pelo incentivo.

Ele apenas ergueu uma sobrancelha, aquele sorriso de canto provocante de sempre surgindo em seus lábios.

— Confie em mim, vai ficar mais fácil depois da primeira vez.

Segui as instruções dele, colocando o pé no estribo e me impulsionando para o alto. O movimento foi mais desajeitado do que eu gostaria, mas consegui me sentar. As rédeas de couro estavam firmes em minhas mãos, e senti o calor do corpo do cavalo sob mim, o que, de certa forma, era reconfortante.

Matteo se aproximou, ajustando a posição do meu pé no estribo com um toque breve e eficiente, mas o suficiente para me deixar consciente de cada movimento dele. Ele passou a mão pelo pescoço do Ares, murmurando algo para acalmá-lo, antes de se afastar novamente.
— Muito bem — disse ele, a voz baixa, mas com um tom aprovador.

Amor e Maldição - Um reconto inspirado na lenda do Corpo SecoOnde histórias criam vida. Descubra agora