Capítulo Onze

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Ao descer as escadas, senti o olhar de Matteo queimando em minhas costas. Ele nunca chegou tão perto de mim. Acredito que o que achei ser um sonho realmente tenha acontecido hoje de manhã. Então... eu realmente segurei sua mão? Ele me ajudou a afofar a almofada para me sentar? Fico corada com esses pensamentos e abaixo a cabeça, tentando esconder a confusão que se forma dentro de mim. Quando chegamos ao andar de baixo, Higor se juntou ao grupo, que estava esperando na sala de estar, conversando animadamente sobre o passeio pela cidade.

— Prontos para ir? — perguntou Maria, levantando-se com um sorriso.

Assenti, tentando afastar a sensação de desconforto que parecia crescer.

— Sim, vamos.

Enquanto caminhávamos em direção à porta, Caio se aproximou de mim, oferecendo seu braço. Matteo observou a cena com uma expressão indecifrável, mas não disse nada. Aceitei o braço de Caio, sentindo-me um pouco tímida com a presença dele ao meu lado. Ele parecia tão confiante, tão seguro.

A cidade estava movimentada, com pessoas indo e vindo, e decidimos explorar algumas lojas locais. Eu tentava me concentrar nas vitrines, mas minha mente não parava de voltar à conversa com Matteo. O jeito que ele me olhou, a preocupação estampada em seu rosto, parecia ter algo mais que eu não conseguia distinguir. Medo? Amor? A incerteza fazia meu coração acelerar.

Enquanto estávamos em uma livraria, vi um caderno de capa dura rosa, com alguns desenhos em alto relevo, que chamou minha atenção. Algo sobre ele parecia familiar, como se eu já o tivesse visto antes. Peguei o caderno e o abri, folheando as páginas em branco.

— Interessada em escrever? — perguntou Caio, aproximando-se de mim.

Sorri, mas a sombra da preocupação ainda pairava sobre mim.

— Talvez. Acho que escrever pode me ajudar a entender algumas coisas.

Caio assentiu, compreensivo.

— Às vezes, colocar os pensamentos no papel ajuda a clarear a mente.

Matteo, que estava observando de longe, se aproximou.

— Acho que pode ser um bom começo — disse ele, meio indiferente, e isso fez uma pontada doer em meu coração. Como ele pode ser tão distante? Será que nossa conversa só significou algo para mim? Sou tão boba assim?

Eu abaixei a cabeça, deixando o pequeno caderno na prateleira, enquanto colocava uma mecha de meu cabelo atrás da orelha. Matteo olhou para o caderno e depois para mim, seus olhos suavizando um pouco.

— É bonito — encontrei seu olhar e tive a impressão de que ele não estava falando sobre o caderno. Meu rosto queimou com a sensação de ser elogiada por ele. Nunca precisei de afirmações de outras pessoas, mas não esperava uma nesse momento. Virei-me, olhando para ele diretamente, e o vi suspirar, girando sobre seus pés e indo na direção oposta à que eu estava.

Senti um calor reconfortante com as palavras de Matteo, mas, ao mesmo tempo, uma confusão interna se misturava com a insegurança. Ele sempre foi tão reservado, e eu não sei o que sinto por ele. A falta de clareza me deixava inquieta. Com o apoio dele e de meus amigos, talvez eu pudesse desvendar os mistérios que me cercavam.

Caio chegou até mim sorrindo e me mostrou um livro. Ele disse algo sobre eu ser parecida com a personagem e me mostrou. Realmente somos bem parecidas: longos cabelos loiros, olhos claros... Mas o olhar dela é sensual, mais forte, enquanto eu pareço um anjo, e ela está mais para succubus. Estremeço ao pensar e rio um pouco com meu pensamento, mas assim que vejo Higor e Maria juntos, com ela segurando seus braços, meu sorriso se perde. Eles não vão me falar nada? Higor é a única pessoa que parece se preocupar comigo. Achei que ele não mentisse ou escondesse as coisas de mim...

Olho para Lucas e Caio, que estão conversando próximos a mim agora, e tento afastar esses pensamentos de tristeza em minha mente. Finjo um sorriso e me aproximo.

— Podemos ir tomar um sorvete? Estou com calor — faço um gesto de abanar o rosto com a mão, sensualizando um pouco, e fico corada, pensando no que deu em mim para agir dessa forma. Não sou assim, mas olho para a única pessoa que queria que visse isso. Meu coração pesa ao notar que ele sequer olhou para mim. Em comparação, Lucas e Caio quase se engasgam de rir.

— Tudo bem, princesa, podemos ir — Caio se aproxima, me puxando para ele. Eu aceito, como recusaria? Não é como se tivéssemos algo... com outras pessoas também.

— Oh sim, está muito calor mesmo — diz Lucas, me imitando, e eu reviro os olhos, me tornando um tomate puro, enquanto finjo não estar morrendo de vergonha por dentro.

— Vamos à sorveteria, vou mandar uma mensagem à Ana para que possa nos encontrar lá. — diz Caio, passando por Higor e Maria. Olho para trás e vejo que Matteo já está nos seguindo. Será que ele me ouviu? Ou ouviu somente agora que comentamos aos outros? Espero que seja a segunda opção; já me arrependi de agir de tal maneira na primeira.

Segurando os braços fortes de Caio, deixo-me envolver pelo cheiro de nozes e baunilha. Matteo tinha cheiro de perigo, e sua presença sempre me deixava em alerta. Por que estou pensando nele enquanto estou ao lado de Caio? Meu Deus, o que há de errado comigo?

Deixei-me ser guiada por Caio até a sorveteria, mas não conseguia tirar os olhos de Matteo. Devo estar ficando louca. Mal conversamos, sequer tivemos momentos íntimos o suficiente, mas a sensação de quando Matteo me segurou em seus braços aquece meu interior. Seus braços fortes, que ele geralmente esconde atrás de moletons mais largos, o peito duro que me deixou sentir e me proteger... Respiro com dificuldade ao lembrar. Então, sim, é oficial: estou completamente louca.

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Amor e Maldição - Um reconto inspirado na lenda do Corpo SecoOnde histórias criam vida. Descubra agora