Capítulo Quinze

11 1 2
                                    

Chegamos ao topo da montanha, onde o ar era mais fresco e a vista, deslumbrante. O céu estava pintado com as últimas cores do crepúsculo, e as primeiras estrelas começavam a aparecer. O topo da montanha era amplo, com uma clareira cercada por árvores altas que formavam uma espécie de barreira natural contra o vento. A grama era macia e convidativa, perfeita para montar nossas barracas. Como já estava escurecendo, não sabia bem onde o sol iria nascer, mas acreditava que seria bem ao centro de onde estávamos, pois havia um "banco" ou melhor, um tronco longo caído.

Lucas e Ana, que haviam vindo de moto, já estavam lá, preparando as coisas. Eles tinham montado uma pequena área de convivência com algumas lanternas e uma fogueira improvisada. Assim que saímos do carro, fomos recebidos com risadas e brincadeiras.

— Finalmente chegaram! — Ana exclamou, correndo para nos encontrar. — Achamos que vocês tinham se perdido!

— Quem se perde é você, Ana! — Lucas provocou, rindo. — Vamos ver quem monta a barraca mais rápido!

Todos riram e aceitaram o desafio. Depois de achar o local certo para as quatro barracas, eles decidiram que a minha deveria ficar no meio, já que eu estaria dormindo sozinha, e nesse caso eu não quis nem discutir. Enquanto Higor me ajudava a montar a barraca, eu observava os outros e vi que Matteo estava bem mais distante, montando sua barraca praticamente na floresta. Isso me deixou com dúvidas, mas decidi que isso também não era problema meu, então ignorei e continuei a ajudar Higor, mas... Será que ele estava evitando o grupo de propósito?

Caio estava como um chiclete, parecia que não podia ficar longe por um segundo, não que me incomodasse, mas eu precisava de espaço também.

— Posso ajudar você? — ele perguntou, com um sorriso que não alcançava seus olhos. Antes que eu pudesse responder, Higor interveio.

— Deixa que eu ajudo minha irmã — disse ele, sua voz firme mas educada. Caio hesitou por um momento, mas acabou se afastando com um olhar decepcionado.

— Uma mão a mais não seria problema, e você sabe que mexer na terra não é uma coisa que eu ame — eu resmunguei para somente Higor ouvir enquanto eu continuava a afundar uma das estacas de sustentação da barraca na terra.

— Pois então terá que gostar, ou sempre vai esperar que um cara bonitinho ofereça ajuda? E se ele quiser uma recompensa? — essa última parte ele falou quase sussurrando e eu dei uma risada leve, porque eu geralmente não precisava esperar nada, já que a maioria se oferecia para fazer antes mesmo de eu pedir ajuda.

Depois de longos 30 minutos, todos finalizamos nossas montagens. Coloquei meu livro, uma pequena lanterna e uma maçã só por precaução. Também estava um cobertor rosa quentinho para que eu não passasse frio durante a noite, mas quando pensei sobre isso, um arrepio me percorreu. Será que eu conseguiria dormir esta noite?

— Você está bem? — Higor perguntou, olhando para meu rosto que provavelmente deixei transparecer minha preocupação, sua voz era suave no silêncio da noite.

— Sim — respondi, colocando um sorriso animado no rosto — Obrigada por estar aqui.

Ele sorriu, e naquele momento, senti que talvez as coisas pudessem ficar bem, apesar de meu medo. A noite estava apenas começando, e eu sabia que haveria muitos desafios pela frente, mas com meu irmão ao meu lado, sentia-me um pouco mais forte.

Nos reunimos ao redor de uma fogueira, o que fez meu estômago embrulhar, já que minha vida virou de cabeça para baixo depois da última, mas tentei ignorar. Caio se sentou ao meu lado e Higor o encarou feio de meu outro lado, mas não disse nada. Maria estava em seu outro lado junto de Ana, Matteo estava em minha frente conversando sobre algo com Lucas, que acenava seriamente sobre o que estavam conversando. Por um momento, as coisas me pareceram bem, eu me senti feliz por ter pessoas como essas em minha vida. Eu sorri para mim mesma com o pensamento enquanto observava a todos.

Como acabamos de voltar da sorveteria, não estávamos com muita fome, mas Ana trouxe marshmallows para assar na fogueira, o que trouxe um pouco de diversão e descontração ao grupo.

— Alguém quer um marshmallow? — Ana perguntou, segurando um pacote aberto.

— Eu quero! — Lucas e Caio responderam animados, pegando um e espetando no graveto.

Seguindo-os, cada um com um graveto com marshmallow espetado, nunca imaginei que estaria fazendo isso, achei que era só nos filmes.

Sinto que alguém está me observando, o que me deixa ainda mais desconfortável, mas ao olhar para os outros vejo que é Matteo, que assim que nota que o olho vira o rosto rapidamente.

Meus lábios se curvaram suavemente para um pequeno sorriso, pois sabia que ele não era toda essa frieza que demonstrava. Lembro que no primeiro dia que nos vimos ele me tratou com ignorância e arrogância. Claro, eu também não estava ajudando muito, sendo mimada. Não que isso tenha mudado de toda forma, só sinto que o conheço um pouco melhor agora, e acho que ele também me conhece.

— Acho que já está na hora de irmos nos deitar. Amanhã acordarei todos para que não percamos o nascer do sol — Maria falou como se nós já não soubéssemos que devemos acordar cedo, mas todos aceitamos, afinal viemos aqui para isso mesmo.

— Sim, senhora — Lucas falou rindo e nós acompanhamos a risada. Maria revirou os olhos rindo.

Enquanto apagávamos a fogueira, Maria se aproximou de mim.
—Você está bem?— ela perguntou, sua voz cheia de preocupação genuína.

—Sim, só um pouco cansada —respondi, tentando esconder minha ansiedade, e ajudando os outros a limpar ao redor.

Enquanto todos se preparavam para dormir, ouvi um som estranho vindo da floresta. Eu fui até o topo da montanha para tentar ver se via algo ao olhar para baixo, mas tudo o que enxerguei foi a escuridão e o vento que soprava com força, agitando meus cabelos. Uma sensação inquietante começou a crescer dentro de mim. As rajadas pareciam sussurrar segredos, como se o próprio vento estivesse tentando me avisar de algo. Cada mecha de cabelo chicoteando meu rosto trazia uma leve premonição, uma sensação vaga de que a noite poderia reservar surpresas. O ar estava carregado de uma energia estranha, e eu não conseguia me livrar da impressão de que algo estava para acontecer.

Amor e Maldição - Um reconto inspirado na lenda do Corpo SecoOnde histórias criam vida. Descubra agora