Capítulo Doze - Matteo

16 2 3
                                    

Ver ela de braço dado com Caio fazia meu sangue ferver. Tentei disfarçar, fingir que não me importava, mas cada risada, cada toque entre eles, me tirava o ar. Eu sabia que não devia deixar isso me consumir, mas era impossível. A cada segundo, a imagem deles juntos cravava algo em mim.

Ela estava diferente comigo desde a manhã. O jeito que abaixava a cabeça, o rubor subindo em seu rosto... Será que ela lembrava? O toque das nossas mãos, o momento em que, ao ajeitar a almofada, nossos dedos se encontraram de leve. Aquele instante parecia só nosso. Mas agora ela não saía do lado de Caio, e isso estava me enlouquecendo.

Enquanto caminhávamos pela cidade, minha mente não parava. Caio estava sempre perto, com aquele sorriso confiante, como se soubesse o efeito que tinha sobre ela. Eu me forçava a olhar as vitrines, as pessoas ao redor, mas meus olhos sempre acabavam voltando para ela. E cada vez que via um sorriso dela em resposta a ele, meu peito apertava.

Na livraria, ela parou diante de um caderno rosa, e algo dentro de mim se apertou. Comprei o caderno sem pensar muito. Talvez fosse uma desculpa para falar com ela, uma maneira de me aproximar. Agora, com o caderno na sacola, ele parecia mais do que um presente. Era uma oportunidade, um gesto que eu não sabia se teria coragem de usar.

Quando Caio apareceu ao lado dela e eles riram juntos, uma fisgada de ciúmes me atravessou. Me aproximei, tentando parecer casual, mas meus dedos apertaram a sacola do caderno com mais força do que eu gostaria de admitir. Queria tirá-la dali, falar com ela, mas quando nossos olhares se cruzaram, desviei, com medo do que ela poderia ver em mim.

A caminho da sorveteria, o desconforto crescia. Cada risada entre ela e Caio parecia ecoar na minha mente. Ela estava ao meu alcance, mas a cada segundo parecia se afastar mais. No fundo, eu sabia que se não fizesse nada, Caio tomaria o espaço que eu hesitava em ocupar.

Chegamos à sorveteria, e ela escolheu uma mesa perto da janela. Quando me sentei ao seu lado, ela ajeitou o cabelo atrás da orelha, o que me deixou ainda mais consciente da proximidade entre nós. A ponta dos seus dedos roçou levemente o meu braço quando ela se mexeu, e meu corpo reagiu, tenso, como se aquela faísca pudesse acender algo maior.

Caio se sentou do outro lado, rindo descontraidamente.

— Você sempre pede o mesmo sabor, não é? — ele perguntou.

— Acho que sim — ela respondeu, sorrindo. Mas havia algo diferente nos seus olhos, uma espécie de distração, como se estivesse pensando em outra coisa. Isso me deu esperança.

— E você, Matteo, o que vai querer? — Caio perguntou, me tirando dos meus pensamentos.

— Chocolate — respondi, tentando manter a voz firme.

Caio se levantou, chamando os outros. Aos poucos, eles saíram, deixando apenas nós dois na mesa. O silêncio cresceu entre nós, mas desta vez, não era desconfortável. Ela ajeitou os longos fios de cabelo loiro que caíam em seu rosto novamente, e eu, quase sem pensar, estendi a mão e tirei uma mecha que ficou presa no canto de seus lábios. Meu coração disparou, mas o toque foi rápido. Quando nossos olhares se cruzaram, desta vez, não desviei.

— Você gosta mesmo de morango e baunilha? — perguntei, quebrando o silêncio.

Ela riu suavemente.

— Acho que é uma combinação segura. Previsível.

— Nada em você parece previsível — murmurei, sem desviar os olhos.

Por um instante, ela também não desviou, e pude ver algo ali. Talvez ela estivesse tão confusa quanto eu. Seus dedos tocaram a borda da mesa, e quase sem pensar, minha mão escorregou para perto da dela, como se quisesse sentir essa conexão um pouco mais, tocando seu dedo mindinho, infelizmente o momento se foi tão rápido quanto chegou.

Os outros voltaram com os sorvetes, trazendo de volta a leveza. A tensão entre nós foi interrompida quando Caio colocou o sorvete na nossa frente. Olhei para Helena, ainda sentindo o calor daquele momento, mas sabendo que havia perdido a chance, por enquanto.

— E você, Matteo, o que vai fazer agora? — Caio perguntou, despreocupado.

— Só... aproveitando a companhia — murmurei, tentando parecer casual, mas algo em mim sabia que as coisas estavam longe de serem simples.

Ana riu, lançando uma provocação.

— Olha só, será que teremos um casal no grupo? — Ela brincou, olhando para Caio e Helena que estavam experimentando o sorvete um do outro e eu franzi o senho e minha boca curvou-se para baixo, mas praticamente no mesmo momento disfarcei.

Helena corou imediatamente, mas sempre olhava para mim, como se estivesse tentando me dizer algo. Ela passou os dedos pela lateral do copo de sorvete, distraída, e eu só conseguia pensar em como queria que todos fossem embora, para podermos continuar de onde paramos.

Higor percebeu a tensão no ar e, com um sorriso, entrou na brincadeira.

— Cuidado, Ana. O Matteo pode estar perdendo o charme misterioso — ele disse, com um sorriso malicioso, acredito que ele tenha notado minha expressão de desgosto.

— Ou talvez esteja apenas admirando o que está bem à sua frente — Lucas complementou, rindo enquanto servia mais sorvete.

As risadas deles ecoaram pela sorveteria, mas eu mantive o olhar fixo em Helena. Desta vez, quando ela me olhou, não houve mais brincadeira em seus olhos. O espaço entre nós parecia menor, e eu sabia que, se quisesse algo, precisava agir.

Caio, que até então parecia despreocupado, lançou-me um olhar rápido, como se tivesse percebido o que estava acontecendo. Uma fagulha de desconforto passou pelo seu rosto, mas ele logo escondeu com mais uma piada, rindo com os outros. Eu sabia que ele notara minha hesitação. Sabia que, se eu não fizesse algo logo, ele ocuparia esse espaço.

A presença dele ali, cada vez mais perto dela, me fazia querer agir. E pela primeira vez, senti que a disputa entre nós dois não era mais silenciosa.

Helena é minha, ela só não sabe, ainda.

Amor e Maldição - Um reconto inspirado na lenda do Corpo SecoOnde histórias criam vida. Descubra agora