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Como eu dormi é um mistério.
Meus pensamentos estavam a mil, tudo por culpa daquele maldito Izana. Fechei os olhos, mas parecia impossível desligar minha mente.

Sn: O que você tem que não sai da minha cabeça… Por que você me trata assim? Eu já não sei mais o que pensar.

De um lado, ele me trata como uma princesa, parece entender tudo sobre mim, até partilhamos alguns gostos. Em outros momentos, quando meus pais estão fora, ele age como um príncipe perfeito, me dá esperanças... e depois, deixa outra garota beijá-lo, agindo como se ele fosse dela.

E então, quando eu dou o troco e beijo alguém, ele fica bravo. O que ele quer de mim? Me faz sentir coisas que nem nos livros mais intensos eu sentia. Borboletas no estômago, malditas borboletas, sempre seguidas de decepção e traumas.

Rolei na cama por horas, até que, exausta, consegui dormir, mas apenas por duas horas.

Me levantei com a cabeça pesada, peguei a toalha e entrei no banheiro. O choque da água gelada correndo pelo meu corpo parecia aliviar, por um momento, o turbilhão de pensamentos. Apoiei a cabeça contra a parede fria e deixei a água escorrer pelos meus ombros, tentando encontrar alguma resposta no silêncio.

Sn: Eu deveria me entregar a tudo isso? Deixar meus sentimentos fluírem e ver no que dá?

Cada célula do meu corpo gritava algo diferente. Parte de mim, lógica, me dizia para fugir de tudo aquilo, me afastar o máximo possível antes que fosse tarde demais. Mas outra parte... uma parte mais instintiva, me dizia que a vida era curta demais para fugir. Que, no futuro, eu sentiria falta dessas sensações, mesmo as ruins.

Desliguei o chuveiro, frustrada. Já estava pensando demais.

Depois de me vestir, escovei os dentes e arrumei o cabelo. Preparei minha marmita, afinal, não queria passar fome na escola, e conferi se não havia esquecido nada.

Saito, meu irmão, se levantou, com uma expressão surpresa ao me ver.

Saito: Está ansiosa para o primeiro dia?
Sn: É… mais ou menos.

Ele riu, se aproximou e deixou um beijo suave na minha testa antes de começar a me ajudar a organizar minhas coisas. Minha mãe logo se juntou a nós, e a "safada" já nos colocou para trabalhar, pedindo café e bolinhos.

Não reclamei. Beijei sua bochecha e dei um rápido tchau a Saito antes de sair para a escola. Mesmo caminhando pelas ruas, meus pensamentos continuavam presos a Izana e às incertezas que ele trazia.

Ao chegar na escola, vi que, apesar da proibição, todos estavam com seus celulares em mãos. Coloquei meus fones, escolhi uma música favorita, e fui procurar minha sala. Ao encontrar, entrei, mas não vi nenhum rosto familiar.

As aulas começaram, e me sentia sozinha, deslocada. Quando chegou minha vez de me apresentar, fiz isso sem muita empolgação, mas fui bem recebida. Pelo menos, não tinha ninguém irritante na sala. Isso já era um alívio.

No intervalo, decidi ficar na sala, até que Emma e Senju entraram.

Emma: Já procurei por você por toda a escola!

Senju: Você se esconde pra valer, hein?

Ri suavemente, aliviada por vê-las.

Sn: Oi, meninas.

Antes que pudesse fazer qualquer coisa, Emma pegou minhas coisas e Senju me arrastou para fora. No refeitório, avistei outros rostos conhecidos… e um que eu definitivamente não queria ver.

Yumi: Amiga! – A voz dela me deu náuseas. Por que essa necessidade de forçar uma amizade? Preguiça total.

Ela veio na minha direção com os braços abertos, e eu simplesmente a afastei, mantendo meu olhar fixo nos olhos dela.

Sn: Não somos amigas. Peço que mantenha distância e não se force para cima de mim. – Minha voz era calma, controlada, sem desrespeitá-la. Ela já fazia isso por conta própria.

Yumi: Você está me magoando, Sn. – Lágrimas de crocodilo surgiram nos olhos dela, e logo todos começaram a murmurar sobre como a "novata" estava fazendo a "garota legal" chorar por pouca coisa.

Sn: Tanto faz.

A expressão de Emma ao encarar Yumi me assustava um pouco. Seus olhos eram um aviso claro: afaste-se ou sofra as consequências.

Mikey se levantou, mas eu me sentei ao lado de Mitsuya antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, com Emma rapidamente se juntando a mim.

Mitsuya: Você é gentil, até quando não precisa ser?

Sn: Gentil? Eu não fui gentil. Só coloquei ela no lugar de onde ela nunca deveria ter saído, na minha visão.

Emma e Senju gargalharam, e logo se juntaram à mesa mais algumas garotas. A conversa delas, porém, me cansava. Sempre o mesmo tema: homens.

Suspirei, tentando ignorar, mas não aguentei por muito tempo.

Sn: Vocês não sabem falar de outra coisa? Tipo, esportes, música, livros, filmes, qualquer coisa que não seja homem?

A mesa toda ficou em silêncio, enquanto Emma e Senju se esforçavam para não gargalhar.

Emma: Sim, já estava cansada de "ai, fulano isso, fulano aquilo".

Senju: Por isso eu prefiro mulher… mulher com conteúdo, claro.

Senju deu uma piscadela brincalhona, e a mesa caiu na risada. Mas, por dentro, eu ainda estava inquieta. Os risos, as conversas fúteis… tudo parecia superficial demais comparado ao caos dentro da minha cabeça. Era como se todos ali estivessem vivendo suas vidas normalmente, enquanto eu me afogava nas incertezas.

Sn: Desculpem, meninas… Eu preciso de um momento. – Levantei-me, sem dar mais explicações, e fui para o terraço da escola, onde o ar era mais frio e limpo.

Lá, encostei-me na grade e olhei para o horizonte. A cidade parecia calma à distância, mas dentro de mim, era um caos. O que Izana realmente queria de mim? E por que, mesmo sabendo o quanto ele me confundia, eu ainda o queria perto? Talvez fosse porque, com ele, cada momento parecia uma batalha, mas uma batalha que eu queria lutar. Sentia uma adrenalina que nenhum livro, filme ou música poderia me dar.

Uma voz suave me tirou dos pensamentos.

Mikey: Está tudo bem?

Olhei para ele de relance. Seu sorriso era suave, mas havia algo nos olhos dele. Algo que eu não sabia interpretar. Eu não estava pronta para outra confusão.

Sn: Sim… só precisava de um ar.

Mikey: Entendo. – Ele se aproximou, encostando-se à grade ao meu lado. – Não é fácil, né?

Balancei a cabeça, concordando sem palavras. Nada era fácil naquele momento. E eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que escolher um caminho. Mas como fazer isso, quando nenhum parecia seguro?

Mikey ficou em silêncio por alguns segundos, depois se virou para mim com um olhar mais sério.

Mikey: Quando você souber o que quer, me avisa. Até lá, eu vou esperar.

O que ele quer dizer com isso?
As palavras dele ecoaram na minha mente, e por um breve momento, o caos dentro de mim pareceu silenciar. Mas sabia que aquela paz era temporária.

Mikey se afastou lentamente, deixando-me sozinha com meus pensamentos. E, mais uma vez, lá estava ele. Izana. Sempre ele. Não importava o quanto eu tentasse fugir, ele sempre encontrava um jeito de voltar para minha mente, como se fosse o dono de um pedaço de mim que eu ainda não entendia.

Suspirei, fechando os olhos por um momento. O que quer que fosse acontecer a seguir, eu precisava estar pronta.

E, dessa vez, eu não ia deixar que só as borboletas guiassem minhas decisões.

Beijos. Até o próximo capítulo ✨

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