Cap 47: A saudade...

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Os dias passaram lentamente, e a rotina de Guto parecia um ciclo interminável de trabalho, silêncio e solidão. Ele acordava todas as manhãs abraçado ao ursinho de cueca, como se o pequeno brinquedo fosse a única coisa que o mantinha conectado a algo mais alegre.

Sempre que o despertador tocava, ele abria os olhos e, antes de sair da cama, murmurava alguma coisa para o ursinho, como se estivesse conversando com um amigo íntimo.

— E aí, parceiro... mais um dia, né? — Guto sussurrava com um sorriso triste no rosto. — Será que ela tá pensando em mim?

Depois disso, levantava-se, se arrumava, ia para o trabalho na Mancini Music e voltava diretamente para seu quarto na pensão, sem desviar o caminho, sem prolongar a estadia em qualquer lugar. Ele apenas queria ficar sozinho, agarrado ao ursinho que representava tudo o que restava de Mila.

Ubaiara e Chicão, sempre atentos à tristeza do caçula, não deixavam a situação passar despercebida. Ambos tentavam, à sua maneira, consolar Guto, mesmo que fosse complicado entender como ele se sentia.

— Escuta, mano — Chicão dizia, entrando no quarto com seu jeito bronco e prático. — A Mila deve ter lá seus motivos, mas não quer dizer que ela não gosta de você. Às vezes as mulheres fazem umas escolhas que a gente não entende. Mas vai ver ela só tá confusa. Esse lance com o Hans é coisa de momento.

Guto balançava a cabeça, sem saber se concordava ou não. Ele ouvia, mas parecia distante, perdido em seus próprios pensamentos.

— É, mano... Eu só queria entender o que eu fiz de errado. — Guto suspirava, ainda segurando o ursinho. — Será que eu devia ter sido mais sério? Ou sei lá... menos atrapalhado?

Chicão ria, tentando aliviar a tensão.

— Sério? Tu? Imagina só você igual o Hans todo durão, de terno, sem fazer piada. A Mila se apaixonou pelo Guto doido que é você, cara. Não foi pelo cara que tá chorando com um ursinho aí!

— Ele tem razão, filho — interrompeu Ubaiara, sempre entrando no quarto sem bater, com aquele jeito despreocupado. — Ela não foi embora por tua causa, não. Às vezes, a pessoa tá tão enrolada com os próprios problemas que não consegue nem ver o que tá perdendo. E a Mila... Ela te ama, eu sei disso.

— Você acha pai? — Guto perguntava, ainda com os olhos baixos. — Mesmo depois de ela ter aceitado se casar com o Hans?

Ubaiara, que já tinha vivido muitas histórias de desilusões amorosas, sorriu de canto.

— O amor, filho, não é uma coisa que se apaga só porque tem outro na jogada. Ela aceitou se casar, mas isso não apaga o que ela sentia por você. Só significa que ela tá em conflito com o que quer.

— Confuso, né? — Guto disse, meio cabisbaixo. — Eu também sinto que ela ainda me ama... mas não sei como trazer ela de volta.

— Deixa ela sentir a falta que você faz, mano. — Chicão disse, sério, mas com um leve sorriso. — Esse Hans aí... Pff, nem se compara com você. Ela vai perceber. Mas até lá, para de conversar com o ursinho e reage!

Ele olhou para os dois com uma expressão séria, mas, ao mesmo tempo, claramente perdida em sua tristeza.

— Vocês não entendem, cara... — Guto disse, acariciando a cabeça do ursinho. — Esse aqui... esse ursinho é meu filho.

Chicão e Ubaiara trocaram olhares confusos e, em seguida, caíram na risada.

— Filho? — Chicão gargalhava, quase sem acreditar. — Cê pirou de vez, mano! Tá criando pelúcia agora? Daqui a pouco vai botar ele pra fazer lição de casa!

A APOSTA: Enemy Lover // GUMILAOnde histórias criam vida. Descubra agora